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Full text of "Grimorium Saturni (Volume I): Os Livros Malditos"

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JACOUES BERGIER 

Corautor de O Despertar dos Mdgicos 



OS LIVROS MALDITOS 



Tradu$ao de 
RACHEL DE ANDRADE 




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LIVRARIA EDITORA LTDA. 






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OS HOMENS DE NEGRO 



Parece fantastico imaginar que existe uma Santa 
Alianca contra ct -sabex. uma org aniz acao para fazer 
4e saparecer certos segredos. Entretanto, tal hipotese nao 
e mais fantastica do que a da grande conspiragao na- 
zista. fi que, somente agora, nos apercebemos ate que 
ponto era perfeita a Ordem Negra, ate que ponto seus 
filiados eram numerosos em todos os paises do mundo, 
e ate que ponto essa conspiragao estava proxima do 

exito. 

£ por isso que nao podemos rejeitar, a priori, a 
hipotese de urria conspiracao mais antiga. 

O tema do livro maldito, que tern sido sistemati- 
eamente destruido ao longo da historia, serviu de inspi- 
ragao a muitos romancistas, H. P. Lovecraft, Sax Roh- 
mer, Edgar Wallace. Entretanto, esse tema nao e so- 
mente literario. Essa destruic ao sistematica existe em 
t al amplidao, que se pode perguntar se nao e uma cons - 
piiacj|o_ j3eriiianente que visa im pedi r o saber humano 
de desenvolver-se mais dep ressa. Coleridge estava per- 
suadido que uma tal conspiragao existia e chamava seus 
membros de "persons from Por lock". Esse nome lhe 
recordava a visita de um personagem vindo da cidade 
de Porlock e que o impedia de realizar um trabalho 
muito importante que iniciara. 



f 



f Encontran vse tracos dessa con spira cao, tanto na 
historia da C hina_o u da India, quan to_na_do Ocidgntg,. 
Dessa forma, pareceu-nos necessario reunir toda infor- 
macao possivel sobre certos livros malditos e sobre seus 
adversaries . 

Alguns exemplos precisos de livros malditos antes 
de tudo. Em 1885, o escritor Saint-Yves d'Alveydre 
recebeu uma ordem, sob pena de morte, de destruir 
sua ultima obra: "Missao da India na Europa e Missao 
da Europa na Asia. A questao dos Mahatmas e sua 
solucao". 

Saint- Yves d'Alveydre obedeceu a essa ordem. En- 
tretanto, urn exemplar escapou da destruigao e, a partir 
desse exemplar unico, o editor Dorbon voltou a impri- 
mir a obra, com tiragem limitada, em 1909. Ora, em 
1940, desde sua entrada em Franca e em Paris, os ale- 
maes destruiram todos os exemplares dessa edicao que 
puderam encontrar. £ duvidoso que reste algurn. 

Em 1897, os herdeiros do escritor Stanislas de 
Guaita receberam ordem, sob pena de morte, de des- 
truir quatro manuscritos ineditos do autor que versavam 
sobre magia negra, assim como todo seu arquivo. A 
ordem foi executada e nao mais existem tais manus-* 
critos. 

Em 1933, os- nazistas queimaram na Alemanha 
uma infinidade de exemplares do livro sobre os Rosa- 
Cruzes "Die Rosenkreuzer, Zur Geschichte einer Re- 
formation". 

Uma edicao desse livro reapareceu em 1970, mas 
nada prova que realmente seja conforme o original. 

Poderia multiplicar tais exemplos, mas podemos 
encontrar um numero suficiente no curso deste livro. 

Quern sao os adversarios desses livros malditos? 
Suponhamos a existencia de um grupo ao qual chamarei 

8 



f 



1 



"Homens de negro". A ideia dessa denominacao surgiu- 
-me quando comecei a notar, em todas as conferencias 
pro-Planeta e anti-Planeta, um grupo de homens vestidos 
de negro, de aspecto sinistra, sempre o mesmo. Penso 
que esses homens vestidos de negro sao tao antigos como 
a civilizacao; creio que se pode citar entre seus mem- 
bros o escritor frances Joseph de Maistre e Nicolau II 
da Russia. 

A meu ver, seu BaaeLfiirnp edir uma d ifusao _mais 
rapida e mais com preensivel do sa ber, difusao que con- 
duziu_ Ji destruigao civilizacoes .p assadas^ Ao mesmo 
tempo que os tracos dessas civilizacoes nos chegam, 
com eles nos vem, penso eu, uma tradicao cujo prin- 
cipio consiste na pretensao de que o saber pode ser 
terrivelmente perigoso. Os tecnicos na eonservacao da 
magia e da alquimia juntam-se, ao que parece, a esse 
ponto de vista. 

Pode-se constatar, tambem, que a ciencia moderna 
admite, hoje, que se torna por vezes muito perigosa. 
Michel Magat, professor no Colegio de Franca, declarou 
recentemente numa obra coletiva sobre os armamentos 
modernos (Flammarion): " Talvez seja necessario admi- 
tjr_q ue toda ciencia e maldita". 

O grande matematico frances A. Grothendieck 
escreveu no primeiro numero do boletim Survivre, a 
proposito dos possiveis efeitos da ciencia: "A fortiori, 
se evocarmos a possibilidade de desaparicao da huma- 
nidade nos proximos decenios (tres bilhoes de homens, 
tres bilhoes de anos de evolu§ao biologica. . .), isto e 
muito gigantesco para ser concebivel, e uma abstracao 
absolutamente nula como conteudo emotivo, impossivel 
de se levar a serio. Luta-se por aumento de salario, pela 
liberdade de expressao, contra a selegao para a univer- 
sidade, contra a burguesia, o aleoolismo, a pena de 



• 



morte, o cancer, o racismo — a rigor, contra a guerra 
do Vietnam bu contra qualquer guerra. Mas a aniqui- 
lagao da vida sobre a Terra? Isto ultrapassa nosso en- 
tendimento, e um "irrealizavel". Sente-se quase ver- 
gonha de falar disso, sente-se suspeito de procurar efei- 
tos faceis como recurso a urn tema que, no entanto, e o 
mais antiefeito que podemos encontrar". 

E ainda : 

"Hoje que enfrentamos o perigo da extincao de: 
toda a vida sobre a Terra, esse mesmo mecanismo irra- 
tional se opoe a realizagao desse perigo e as reagoes 
de defesa necess arias entre a maior parte de nos, ai 
compreendidas as elites intelectuais e cientificas de todos 
os paises. Pode-se, tao-somente, esperar que ele seja 
superado por alguns, atraves de um esforco extenuante 
e da tomada de consciencia de tais mecanismos inibi- 
dores". 

Depois deste texto ter sido escrito, recentemente, 
comecei a perceber nos congressos e ssa ideia de que as 
descobertas muito peri^osas devia m ser _ censuradas_o u 
su pjimidas. Ao cabo de um ano, na reuniao da "Asso- 
ciacao inglesa para o avanco das ciencias", foi citada 
como exemplo de uma descoberta a ser censurada, a 
po ssibilidade de as diversas variedades da especie hu- 
mana nao serem igualmlmteinteligentes. Os sabios 
afirmavam que uma t al descoberta encorajaria o racismo 
em tais proporgoes, que seria preciso impedir a publi- 
cagao disso por todos os meios. P odemos ve.f Tp yitos 

sabios ern jnentes de nossos dias juntarem-se aos "Ho- 
mens de Negro". 

Percebeu-se, com efeito, que tais descobertas con- 
sideradas muito perigosas para serem reveladas, existem 
tanto nas ciencias exatas, como nas ciencias ditas falsas, 
isto e aquelas a que chamo de paraciencias. 

10 



ff 



Mas, ha muito tempo que a destruicao sistematica 
de livros e documentos contendo descobertas perigosas 
tern sido praticada, antes ou no momento mesmo da 
publicagao. E tern sido assim ao longo da historia. E~e 
isto que tentaremos demonstrar. 



11 



t 



O LIVRO DE TOTH 



Sir Mortimer Wheeler, celebre arqueologista ingles, 
teria escrito: "A arqueologia nao e uma ciencia mas 
uma vindicta". 

Em nenhuma parte, tal afirmagao foi tao verda- 
deira como no dominio da arqueologia egipcia onde se 
afrontam, ferozmente, os ar queologistas romfl ntir.ns p. 
os arqueologistas classicos. Para os arqueologistas clas- 
sicos, a arqueologia egipcia nao apresenta nenhum pro- 
blema e pode perceber-se nela uma passagem continua 
do neolitico a uma forma de civilizagao mais avancada, 
passagem que se efetuou da maneira mais natural. Para 
os arqueologistas romanticos, ao contrario, e para os 
investigadores independentes que nao participant do cla 
da arqueologia oficial, a antiguidade do Egito e muito 
mais importante, e os problemas sem resolugao muito 
mais numerosos do que se possa imaginar. Entre esses 
adversarios da arqueologia classica egipcia, cito dois 
nomes: Rene Schwaller de Lubicz e C. Daly King. O 
primeiro nasceu em 1891 e morreu em 1961, escreveu 
Aor, Adam, O homem vermelho (edi^ao particular, fora 
de comercio, 1925); A chamada do fogo (edi^ao par- 
ticular, fora de comercio); Aor, sua vida, sua obra 
(edicao da Colombe, Paris, 1963); O rei da teocracia 

13 



faraonica (Paris, Flammarion, 1961); O milagre egip- 
cio (Paris, Flammarion, 1963); O templo do homem 
Apet do Sul, em Lucsor (deposito de Dervy, Paris, 

1957, 3 vol.); Estudo sobre esoterisnio e simbolismo 

(Paris, Colomtie, 1960) e diversos artigos nos Cahiers 
du Sud em Marselha,, notadamente no numero' 358, 
Foi primeiro pintor, aluno de Matisse. Durante a 
Grande Guerra foi quimico do exercito, e a quimica . 
conduziu-o a alquimia. Formou, entao, um grupo bati- 
zado com o nome de Fraternidade dos Vigias. Faziam 
parte, notadamente, desse grupo, Henri de Regnier, 
Paul Fort, Andre Spire, Henri Barbusse, Vincent d'Indy, 
Antoine Bourdel, Fernand Leger e Georges PoltL 

No interior desse grupo, um circulo esoterico fe- 
chado, os Irmaos da Ordem Mistica da Ressurreicao, 
estudava um certo numero de problemas, entre eles o das 
civilizacoes desaparecidas. Schwaller de Lubicz, moran- 
do em Saint-Moritz e depois em Palma de Maiorca, e 
finalmente em Lucsor, estudou os segredos egipcios. 

^'Um certo numero de egiptologos, como Alexandre 
Yarille, reuniu-se a seu ponto de vista; outros, ao con- 
trario, opuseram-se a ele, violentamente, e uma vindicta 
surgiu, que dura ate hoje. 

Quanto a C. Daly King,- 6 um sabio inserido na 
linha mais oficial, psicologo materialista, autor de tres 
tratados classicos utilizados nas escolas dos paises anglo- 
-saxoes, Beyond Behaviourism (1927), Integrative Psy- 
chology (em colaboragao com W. M. e H. E. H. Mars- 
ton) (1931) e The psychology o£ consciousness (1932). 

C. Daly King apresentou em 1946, em Yale, uma 
tese de doutoramento em fisica sobre fenomenos eletro- 
magneticos que aparecem durante o sono. Depois, estu- 
dou os estados superiores da consciencia, estados que 
stao sempre mais despertados que quando se esta acor- 



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dado normalmente, apresentando esse trabalho em outro 
livro classico The states of human consciousness (Uni- 
versity Books, NY, 1963); 

Morreu quando corrigia as provas desse livro e 
quando preparava uma importante obra sobre as cien- 
cias do espirito no antigo Egito. 1 

O unico ponto em comum, talvez, entre Schwaller 
de Lubicz e C. Daly King, 6 o nivel elevado de seus 
conhecimentos cientificos. Ora, esses dois espiritos tao 
diferentes se juntam em duas conclusoes essenciais. Pri- 
meiro, a consideravel antiguidade da civilizacao egipcia, 
mais ou menos 20.000 anos, talvez 40.000; por outro 
lado, o estado avancado dos conhecimentos do Egito 
antigo, tanto no que concerne ao universo exterior q uark 
to ao espirito humano. Confrontemos esse ponto de vista 
com o da arqueologia oficial. De acordo com esta, ha 
6.000 anos os eglpcios eram ainda membros de tribos 
selvagens. Um interprete serio e reconhecido pelos ar- 
queologos oficiais, Leonard Cottrell, no livro The 
Penguin book of lost worlds, pag. 18, escreveu: _1A1- 
guma coisa aconteceu que, em tempo notj ^arjaerite__cur- 
t o, transformou e sse _aglqm er ado de tribos semi-arabes 
que_viviam as margens dnJNi1o : j2ijm_£sta dn rivilizado 

q ue durou 3.000 anos. Quanto a natureza~daquiio que 
teria ocorrido, nao podemos senao tentar adivinhar. Mas 
as provas arqueologicas nos fornecem indicios varios e 
podemos esperar que descobertas futuras preencham tais- 
lacunas". 

Os arqueologos romanticos e os arqueologos dissi- 
dentes vao contra isso dizendo que ess a transformaclo 
brutal nunca se deu. Segundo eles, a civilizagao egipcia 
nada tem a ver com os primitivos que foram seus con- 

(1) Dizem que foi o mesmo C. Daly King o autor de romances 
policial traduzidos cm Franca antes da guerra, na colegao Empreinte. 

15 



temporarieos, como os da Nova Guine sao, hoje, nossos 
contemporaneos. Segundo eles, as origens da civiliza- 
gao egipcia estao em alguma outia parte e nao foram 
ali ainda encontradas. 

A maior parte dos arqueologos da Africa livre sao~ 
dessa opiniao, e alguns dentre eles pensam mesmo que 
os antigos egipcios eram negros, e que e preciso buscar 
na Africa as origens secretas do Egito. 

£ a partir desta hipotese de uma civilizacao pre- 
-egipcia muito antiga que e preciso colocar-se para exa- 
minar o problema do Livro de Toth. 

Toth e um personagem mitologico, mais deus que 
homem que, por todos os documentos egipcios que 
possuimos, precedeu o Egito. No instante do nascimento 
da civiliza?ao egipcia, os sacerdotes e os faraos tinham 
em seu poder o Livro de Toth constituido, provavel- 
mente, de um rolo manuscrito ou de uma ^&ie-dajolrias 
que _ conlinham os segredos de diversos mun dos ej^ne 
davam poderes consideraveis aos seus detentores. 

Em 2.50Q a.C, os egipcios ja escreviam e faziam 
livros. Esses livros eram escritos em papiro. A palavra 
biblia, que quer dizer livro, deriva do nome do porto 
de Biblos, no Libano, que era o principal porto de ex- 
portacao de rolos de papiro. Naj iteratura egipc ja^dg. 
j.SQO^a.C ^ja se encontram tratados cientificos de.me- 
djcina ^textos religiosos, manuai s— e mesmo obras de 
fic£a p_cientifica! 

Em particular, a historia das aventuras do farao 
Snofru, pai de Queops, e um verdadeiro romance de 
antecipacao de invencoes extraordinarias, de monstros 
e maquinas. Poderia ser publicado em nossos dias. 

O Livro de Toth devia, pois, ser um papiro muito 
antigo, recopiado secretamente muitas vezes e cuja ant i- 
guidade remontaria a 10.000 ou talvez 20.000 anos. 

16 



Mas um objetb material nao e de modo algum urn 
simbolo. 

Objeto material que se pode facilmente destruir 
no fogo. Vamos ver que foi exatamente isso que se deu. 

Fixemonos primeiro no proprio Toth. £ represent: 
tado comn um ser hiimano-tendo a cahe ga dfi u rn pjssaifl 
ihi.yTp.m nq, man uma pluma e uma palheta dessa tin ta 
qu gjse u s a para es cre^er sobre pergaminho : _Seus_ dois 
outros simbolos sao a Lua e q macaco. T ) R ac oxdo coin 
a_jradic;.anjri ais antiga, ele inventou a_ gscr ita e serviu 
de secretario a todas as reunides dog deuses. . 

Esta associado a cidade de Herm6polis, da qual 
se sabe pouca coisa, e aos dommios subterraneos dos 
quais se sabe menos ainda. Daqui por diante Toth sera 
identiflcado com Hermes. 

Transmitiu a humanida cle a escrita, e escreveu um 
livro fundamental, esse famoso Livro de Toth, livro 
mais antigo entre os antigos, e que continha o segred o 
do poder ilimitado. 

Uma primeira alusao a esse livro apareceu no" 
papiro de Tuns, decifrado e publicado em Paris, em 
1868; Esse papiro descreve uma conspiracao magica 
contra o farao, conspiracao que visava destrui-lo atra- 
ves de feitigarias, a ele e-a seus principals conselheiros, 
por meio de estatuas de cera feitas de acordo com a 
imagem de cada um. A repressap foi atroz. Quarenta 
oficiais e seis altas damas da Corte foram condenados 
a morte e executados. Outros se suicidaram. O livro 
maldito de Toth foi queimado pela primeira vez. 

Esse livro apareceu mais tarde na historia do Egito, 
entre as maos de Khanuas, filhp de Ramses II. Ele tinha 
o exemplar original escrito pelo proprio Toth. e nao por 
um escriba. De acordo corrT os documentos, e ste livro 
p^Hoitia ver o Sol face a face. Dava o poder sobre a 



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17 



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Terra, o oceano, os corpos celestes. Dava o poder de 



mterpretar os meios secretos u sado s peios^nimais^para 
se comuni care m entre si. Permi tia ressusc itar os mortos 
e_affir _A distancia. Tudo isto nos e relatado nos livros 
egipcios da epoca. 

Seguramente, um tal livro e urn perigo insupor- 
tavql. Khanuas queimou o original ou pretendeu faze-lo. 
O mesmo texto, dizendo que esse livro foi destruido no 
fogo' mas e indestrutivel pois foi escrito com fogo, 6 
contraditorio. Mas essa "desaparicao" nao e senao pro- 
visoria, se aconteceu. O livro reapareceu em inscricoes 
sobre o monolito de Metternich, monumento que tern 
esse nome, pois foi oferta de Mohamad Ali Pacha a 
Metternich. Foi descoberto em 1828 e data de 360 a.C. 
Na escala da historia egipcia e um documento moderno. 
Parece que ele protege contra mordidas de escorpiao, 
virtude dificilmente verificavel, pois os escorpioes sao 
raros na Austria. Esse monumento representa, em todo 
caso, mais de trezentos deus-es, e entre eles os deuses 
dos planetas ao red or de estrelas — nao invento nada, 
a maior parte dos decifradores modefnos do monumento 
de Metternich dizem que ele interessaria a autores de 
ficgao cientifica. 

Toth, ele mesmo, anunciou sobre esse monumento, 
que queimou seu livro e que cacou o demonio SeJ_eL_os, 
sete , senhores do m al. 

Desta vez a questao parece regulada. No ano de 
360 a.C. o Livro de Toth foi solenemente d-estruido. 
Mas, entretanto, a historia somente comegou. A partir 
de 300 a.C. viu-se o aparecimento de Toth identificado 
desta vez com Hermes Trismegisto. o fundador da 
alquimia. Todo magico que se respeite, em particular 
na Alexandria, pretende possuir o Livro de Toth, mas 
nunc a se viu aparecer o proprio livro: cad a vez que 

18 



urn magico gloria-sg de pos sui-lo, urn acidente interrom- 
pe sua carreira. 

Entre o comeco do seculo I a.C. e o fim do seculo 
II d.C, numerosos livros a pareceram e constituiram 
ju ntos o "Corpus Herrneticuml, A partir do seculo V, 
tais textos sao colecionados e se encontram ai referenda^ 
ao Livro de Toth, mas nenhuma indicacao precisa para 
encontra-lo. Os textos mais celebres dessa serie chamam- 
-se: Asclepio, Kore Kosmou e Poimandres. Todos se 
referem ao Livro de Toth, mas nenhurn o cita direta- 
mente nem da meios de consulta-lo. 

Q Asclepio fornece , entretanto, estranhas imagens. 
d e poder das civilizacoes desaparecidas; 

"Nossos ancestrais descobriram a afte de criar os 
deuses. Fabricaram estatuas e como nao soubessem criar 
as almas, chamaram os espiritos dos demonios e dos 
anjos e os introduziram gragas ao misterio sagrado nas 
imagens dos deuses, de maneira que essas estatuas rece- 
beram o poder de exercer o bem e o mal". 

Os deuses egipcios e o proprio Toth teriam sido, 
assim, criados. 

Cretins pnr_^upTn? isto nao 6 dito. Pela grande 
civilizacao que precedeu o Egito. 

Segundo o Asclepio, esses deuses estavam presen- 
tes e ativos, ainda, no tempo de Cristo: "Eles vivem 
n uma grande cidade nas mpntanhas da Libia, mas nao 
aTrei mais nada". 

Esse conjunto de escritos hermeticos pode ser en- 
contrado, publicado por Nock e Festugiere, no ' ^Corpus 
Hermeticum >, (serie Bude, Paris, 1945-54). Mesmo con- 
si dgrados mais proprios da ficgao cientifica , tais textos 
excitam a imaginacao. Santo Agostinho e numerosos 
outros teologos e filosofos por eles se interessaram. 

Certamente sao esses textos que propagaram o 

19 



Livro de Toth, Este reapareceu com tanta frequencia 
do seculo V da era crista ate nossos dias, que podemos 
perguntar como foi reproduzido antes da invencao da 
imprensa e da fotografia. A inquisicao queimou-o pelo 
menos umas trinta vezes_ e seria preciso urn livro para 
enumerar os acidentes bizarros que acontecem aqueles 
que pretendem possuir o Livro de Toth. 

Seja como for, nunca o vimos impresso ou repro- 
duzido de qualquer maneira. Uma lenda estranha come- 
cou a circular desde o seculo XV. Segundo ela, a soeie- 
dade secreta que po ssuia. o Livro de Toth vulgarizou 
um resumo dele, umaesp ecje de_f ichario acessivel a 
tod os. Esse fichario nao e outro senao o famoso jogo. . 
de cartas. Encontramos tal ideia pela primeira vez, ex- 
press a com tod as as letras, num livro de Antoine Court 
de Gebelin: "Le monde primitif". Court de Gebelin, 
homem de ciencia, membro da Academia Real de La 
Rochelle, publicou essa obra em nove volumes, de 1773 
a 1783. Pretendeu ter tido acesso a um antigo livro 
egipcio que teria escapado da destruicao de Alexandria, 
e declarou a proposito desse livro: "Ele contem ensinos 
perfeitamente conservados sobre os assuntos mais in- 
teressantes. Esse livro do antigo Egito e o jogo de car- 
tas — nos o temos nas cartas do baralho". 

Essa passagem nao me parece clara. O autor diz 
que ja havia um jogo de cartas na biblioteca de Alexan- 
dria? Ou diz que um livro egipcio, escapado ao desastre 
de Alexandria, afirmava que o jogo de cartas era um 

fichario, um resumo dos ensinamentos do Livro de 
Toth? 

Nao sei. E certo que o jogo de cartas tern sido 
objeto, na epoca moderna em particular, de estudos inte- 
ressantes, entre eles aquele que ficou infelizmente ine- 
dito. o do pintor contemporaneo Baskine. 

20 



Para ficarmos no dominio dos fatos, podemos 
notar que aparece o jogo de cartas, mais ou menos, 
em 1.100. Compreendia, e corripreende ainda hoje 78 
cartas, e diz-se comumente que o jogo de 52 cartas para 
jogar e o jogo que serve para ler a sorte derivam dele. 
E uma ideia recebida, falsa como a maior parte das 
ideias recebidas. rt *"" 

Na origem, essas cartas se chamavam nabi, palavra 
j taliana que quer dizer prof eta. Nao se sabe a origem 
da palavra ' tarot ". 

Pode-se manifestar o maior ceticismo diante da 
hipotese segundo a qual "tar6", pronuncia francesa da 
palavra "tarot". seria anagrama- de orta ou "ordem do 
t emplo". Com os anagr amas chega-se a nao impo rta 
onde. £ possivel que os te mplarios tenham possuido e 
recebido cartas de jogo,~~mas nada prova que eles as 
t enham propagado ajv olta-dfilgj.. O bibliotecario da Ins- 
trucao Publica, sob Napoleao III, Christian Pitois, disse 
em sua Historia da Magia, surgida em 1876, que os mais 
importantes segredos cientificos do Egito, antes da des- 
truicao de sua civilizacao, estao gravados nas cartas, e 
que o essencial do Livro de Toth ai se encontra, 

Aceito-o, mas gostaria de dados mais precisos, mais 
convincentes. Nos simbolos bastante vagos como as car- 
tas, pode encontrar-se e efetivamente se encontra, nao 
importa o que. Ate nova ordem, pois esta historia do 
Livro de Toth resumido pelas cartas me parece legen- 
daria. 

No seculo XVIII, qualquer charlatao que se preza 
diz possuir o Livro de Toth. Nenhum o reproduziu e 
muitos foram mortos nas fogueiras da Inquisicao por 
isto, ate 1825; em 1825, com efeito, a Inquisigao quei- 
mava ainda na Espanha. 

No seculo XIX,. como no XX, nao faltaram char- 

21 



'. 



V 



lataes que pretenderam, igualmente, possuir o papiro 
ou o Livro de Toth (que acabou intervindo no celebre 
romance de Gaston Leroux. "A poltrona mal-assom- 

brada"). 

Mas ninguem ousaria publica-lo pois os acidentes 
acontecidos a esses possuidores foram numerosos. 

Se existe, como creio e como este livro tenta prova- 
-lo, uma associacao internacional de Homens de Negro, 
ela deve ser eontemporanea de mais antiga no Egito e 
exercer suas atividades desde entao. Encontram-se refe- 
rencias sobre esse assunto em autores serios como C. 
Daly King, que fez alusao a grupos contemporaneos 
p ossuidores e utilizadores dos segredos.do Livr o de Toth. 
C. Daly King pretendeu que Orage e Gurdiieff faziam 
parte de tais grupo sffoao conheci Orage, mas coriheci 
Gurdjieff que era um farsante* 

Nesse ponto, em particular, a boa fe de C. Daly 
King pode ser enganada. Escreveu, entretanto, que nao 
se pode chegar a consciencia superior, segundo o me- 
todo egipcio, somente pelo trabalho pessoal e, segundo 
ele, efetuar uma tentativa dessa natureza sem estar diri- 
gido e extremamente perigoso. Isto pode ter as conse- 
qiiencias mais graves, principalmente causar ferimentos. 

Sempre segundo ele, "somente uma organizacao de 
pessoas qualificadas e eficientes pode ensinar ess a tec- 
nica, e somente no interior de uma tal organizacao 
que a disciplina aprdpriada pode ser aplicada. Eu 
advirto o leitor de maneira a mais seria para nao tentar 
sozinho tais experiencias. Entretanto, essa tecnica cons- 
titui um meio pratico para ativar a consciencia hu~ 



mana" 



Se uma tal organizacao existe, ela deve, necessa- 
riamente, possuir o Livro de Toth ou o que resta dele. 
E se os egipcios aplicaram ao papiro as mesmas tecnicas 

22 



X 



de conservacao das mumias, nao sera absurdo pensar 
que um papiro tenha podido subsistir ate o seculo XIX, 
quando entao poderia ser fotografado. A menos que a 
organizacao em questao tenha conhecido a fotografia 
bem antes do seculo XIX, o que nao e impossivel. 

Thurloe, o cunhado de Cromwell e chefe de sua 
policia secreta, parece ter empregado em sua camara 
escura uma tecnica analoga a fotografia. 

Pode-se decifrar esse texto? Voltamos a querela 
dos egiptologos. Sax Rohmer escreveu a proposito dos 
egiptologos oficiais: "Se pusessemos todos eles a ferver 
e se fosse destilado o liquido assim obtido, nao se ex- 
trairia nem um micrograma de imaginacao". Isto parece 
verdadeiro. Parece que houve, por^ volta de 1920, ar- 
queologos nao-oficiais capazes, realmente, de traduzir 
hieroglifos. Schwaller de Lubicz teria recebido ensina- 
mentos de tais especialistas. Se bem que, a priori, nao se 
possa rejeitar a existencia de um pequeno grupo, tao 
esperto em 1971 d.C. quanto o fora em 1971 a.C, que 
possuiria alguns elementos da ciencia secreta. 

Eis,- segundo C. Daly King, um exemplo dessa 
ciencia secreta: " No Egito, existiam verdadeiras escolas 
e a Grande Escola, a qu e ensinava nas piramides, era 
real mente seria. Sua^especialidade era o conhecimento 
objetivo, real, do universo real. E um a das possibilidades 
dada aos estudantes era a de, com.o^u xilio de um curso 
cuidadosamente estudado, utilizar as funcoes naturais. 
ma is_insuspeit&veis de- seu proprio corpo para transfo rm 
ma-los, d e seres su b-humanos que somosTem seres ver- 
dadeiros. 

"A Grande Escola chegara a uma ciencia que nao 
possuimos: era a ciencia da optica psicologi c a. Tal cien- 

cia permitia estu dar espelhos_que nao refletiam senao 
o que era mau num rosto qu e lhe era apresentadoMJ m 

23 



ankh 



itiuai 



mais nada no espelho pois tinha-se purificado ate a eli- 
minacao de tudo o que era mau nele. Um tal candidato 
chamava-se Senhor do espelho puro. 

Tudo isto mostra um saber avangado. Mas e com- 
preensivel que alguns pensem que a humanidade nao 
esta pronta a recebeiLestes_conhec ^entos, e que uma 
organizagao de Homens de Negro f aca tudo para impe- 
dir a public acao do Livro de Toth. 

Ate hoje parece que ela o conseguiu plenamente?| 

Como nao sei o que esse livro contem, e-me dificil 
emitir uma opiniab. Receia-se que existam segredos real- 
mente ffiuito perigosos para serem conhecidos, e o da 
"optica psicologica" me parece, realmente, fazer parte 
deles. Mas existem tambem supersticiosos e fanaticos. 

Desses supersticiosos, e entre parenteses, assinale- 
mos que f oi feita uma estatfstica exata da dura9ao media 
da vida detodos aqueles que participaram da abert ura 
do tumulo de Tout Ankh Amon j_e m media, suas vidas 
f oram mais longas qu e a de seuTcontemporaneo^ Nao 
aomitamos sem verifica^io todas as historias delSmulo 
maldito e de maldicao do farao. Mas o tumulo de Tout 
Ankh Amon foi inteiramente aberto. 

De outro lado, um certo papiro egipcio que anunciaj 
"o conhecimento de todos os segredos do ceu e da terra" | 
nao descreve mais que a resolucao de equaQoes de pri- 
meiro grau . . . £ possivel que os adversarios do Livro 
de Toth odramatizem por demais a situagao. 

fi possivel, igualmente, que eles tenham razao. 

O que e certo e que, se existisse urxia tradugao do 
Livro de Toth, com provas e fotografia do texto original, 
qualquer editor hesitaria, sem duvida, antes de publi- 
ca-lo. Mesmo eu. 

24 



COMPLEMENT!) AO CAPITULO I 

COMO NEFER-KA-PTAH ENCONTROU O 
LIVRO DE TOTH 



V 



Encontrei essa historia ingenua, mas autentica, no 
The wisdom of the Egyptians, de Brian Brown (New 
York, Brentano's, 1928), citado por Lin Carter numa 
antologia Golden cities, far. 

O papiro egipcio de onde esta historia foi extraida 
data mais ou menos de trinta e dois seculos. 

Nefer-Ka-Ptha encontrou o vestigio do Livro de 
Toth gragas a um sacerdote antigo. O livro era guar- 
dado por serpen tes e escorpioes, e principalmente por 
uma serpente imortal. Estava fechado numa sucessao 
de recipientes encaixados, os quais estavam no fundo 
de um rio. Auxiliado por um magico, sacerdote de 
Isis, Nefer-Ka-Ptah apoderou-se da caixa gramas a um 

engenho de soerguimento magico. Cortou entao a ser- 
pente imortal em duas, enterrou as duas metades na 
areia, longe bastante uma da outra para que elas nao 
se pudessem juntar. Leu, entao, a primeira pagina do 
livro e compreendeu o ceu, a Terra, o abismo, as mon- 
tanhas e o mar, a linguagem dos passaros, dos peixes 
e dosanimais. Leu a segunda pagina e viu o Sol brilhar 
no ceu noturno e em volta do Sol grandes formas dos 
deuses. 

25 



■ 

■ 



Entrou em sua casa, procurou urn papiro novo e 
uma garrafa de cerveja, escreveu as formulas secretas do 
Livro de Toth no papiro, lavou-as com cerveja e bebeu 
essa cerveja. Assim, todo o saber do grande magico 
ficou nele. 

Mas Toth voltou do pais dos mortos e vingou-se 

terrivelmente. O filho de Nefer-Ka-Ptah, e depois o 

proprio Nefer-Ka-Ptah e sua mulher morreram. Foi en- 

terrado com todas as honras devidas a um filho de rei 

Xeo livro secreto de Toth foi enterrado com ele. 

Aparentemente nao para sempre. Pois o Livro de 
Toth reapareceu atraves dos seculos. Uma lend a poste - 
rior diz que a mumia de Nefer-Ka-Ptah, com^ uasjmaos 
cerradas em torno do Livro de Toth, foi encontrada por 
Apolonio de Tiana. 



26 



O QUE FOI DESTRUfDO EM ALEXANDRIA 



A destruicao da grande biblioteca de Alexandria 
foi rematada pelos ara.besL_.em 646 da era crista. Mas 
essa destruicao fora precedida de outras, e o furor com 
que essa fantastica colecao de saber foi aniquilada e 
particularmente significativo. 

A biblioteca de Alexandria parece ter sido fuib- 
dada por Ptolomeu I ou por Ptolomeu II. A cidade foi 
fundada, como seu proprio nome diz, por Alexandre, o 
Grande, entre 331 e 330 a.C. Escoou-se quase mil anos 
antes de a biblioteca ser destruida. 

Alexandria foi, talvez, a primeira cidade do mundo 
totalmente construi da em pedra r sem que se utilizasse 
nenhuma madeira.. A biblioteca compreendia dez gran- 
des salas. e quartos separados para os consultantes. 
Discute-se, ainda, a data de sua fundacao e o nome de 
seu fundador, mas 9 verdadeiro fundador , no sentido de 
organizador e criador da biblioteca, e nao simplesmente 
do rei que reinava ao tempo de seu surgimento, parece 
t er sid ojim per s onagem de nome Demetrio s_de_Phalere : 

Desde o comeco, ele agrupou setecentos mil livros" 
e continuou aumentando sempre esse numero. Os livros 
eram comprados as expensas do rei. .1 

- 

v 27 






Esse Demetrios de Phalere, nascido entre 354 e 
348 a.C, parece ter conhecido Atistoteles. Apareceu 
em 324 a.C. como orador publico, em 317 foi eleito 
V governador de Atenas e governou-a durante dez anos, 
de 317 a 307 a.C. 

Impos um certo numero de leis, notadamente uma, 
de reducao do luxo nos funerais. Em seu tempo, Atenas 
contava 90.000 cidadaos, 45.000 estrangeiros e 400.000 
escravos. No que concerne a propria figura de ^Deme- 
trios, a Histofia no-lo apresenta como um juiz de ele- 
gancia em seu pais; foi o primeiro ateniense a descolorir 
os cabelos, alourando-os com agua oxigenada. 

Depois foi banido de seu governo e partiu para 

Tebas. La escreveu um grande numero de obras, uma 

com titulo estranho: Sobre o f eixe de luz no ceu, que 

e, provavelmente, a primeira obra sobre os discos voa- 

X dores. 

Em 297 a.C, o farao Ptolomeu persuadiu Deme- 
trios a instalar-se em Alexandria. Fundou, entao, a 
biblioteca. Ptolomeu I morreu em 283 a.C. e seu filho 
Ptolomeu II exilou Demetrios em Busiris, no Egito. La ? 
Demetrios foi mordido por uma serpente venenosa e 
morreu. 

Demetrios tornou-se celebre no Egito como mece- 
nas das ciencias e das artes, em nome do Rei Ptolomeu I. 
Ptolomeu II continuou a interessar-se pela biblioteca 
e pelas ciencias, sobretudo pela zoologia. Nomeou 
como bibliotecario a Zenodotus de Efeso, nascido 
em 327 a.C, e do qual ignoram as circunstancias e data 
da morte. 

Depois disso, uma sucessao de bibliotecarios. atra- 
ves dos seculos. aumentou a bibl ioteca , ai acumuland o 
pergaminhos, papiros, gravuras e mesmo l ivros impres- 
sos, se formos jgrer em certas tradi goes A biblioteca 

28 



continha portanto docum ent os inestimaveis. Colecionou, 
igualmente, documentos dos inimigos, notadamente de 
Roma. 

Pela documentacao de la, poder-se-ia constituir 
uma lista bastante verossimil de todos os bibliotecarios 
ate 131 a.C. 



de AC 



Demetrios de Phalere 
Zenodotus de £feso 
Callimachus de Cyrene 
Apolonius de Rodes 
Eratosthenes de Cyrene 
Aristophanes de Bizancio 
Apolonius, o Eidografo 
Aristarco da Samocracia 



282 
C. 260 
C. 240 
C. 230 
195 
180 
C. 160 



C. 
C. 
C. 



C. 



a 
282 
260 
240 
230 
195 
180 
160 
131 



Depois disso, as indicacoes se tornam vagas. Sabe- 
-se que um bibliotecario se opos, violentamente, a pri- 
meira pilhagem da biblioteca por Julio Cesar, no ano 
47 a.C, mas a Historia nao tern seu nome. O que e 
certo e que ja na epoca de Julio Cesar a biblioteca de 
Alexandria tinha a reputa?ao corrente de guardar livros 
secretos que davam poder praticamente ilimitado. 

Quando Julio Cesar chegou a Alexandria a biblioi 
t eca tinha pelo menos setecentos mi l manuscritos. Quais? 
E por que se comecou a temer alguns deles? 

Os documentos que sobreviveram dao-nos uma 
ideia precisa. Havia la livros em grego. Evidentemente, 
tesouros: tod a essa parte que nos falta da literatura 
grega classica. Mas entre esses manuscritos nao deveria 
aparentemente haver nada de perigoso. 

Ao contrario. o coniunto de obras de Berose e que 
noderia inquietar. Sacerdote babiloni co refugiado na 
Grecia, Berose noTdeixou de um encontro o relato com 
os extratecrestres: os misteriosos Apkall us, sere s seme- 



29 



lhantes a peixes, vivendo em escafandros e que teriam 
trazido aos horn-ens os primeiros conhecimentos cienti- 
f icos . 

Berose viveu no tempo de Alexandre, o Grande, 
ate a epoca de Ptolomeu I. Foi sacerdote de Bel-Marduk 
na Babilonia. Era historiador, astrologo e astronomo. 
Inventou o relogio de sol semicircular. Fez uma teoria 
dos conflitos entre os raios do Sol e da Lua que ante- 
cipa os trabalhos mais modernos sobre a interferencia 
da luz. Podemos fixar as datas de sua vida em 356 a.O, 
nascimento, e 261, sua morte. Uma lenda contempo- 
ranea diz que a famosa Sybila, que profetizava, era sua 
filha. 

A Historia do Mundo de Berose, que descrevia 
seus primeiros contatos com os extraterrestres, foi per- 
dida. Restam alguns fragmentos, mas a totalidade desta 
obra estava em Alexandria. Nela estavam todos os en- 
sinamentos dos extraterrestres. 

Encontrava-se em Alexandria, tambem, a obra 
completa de Manethon. Este, sacerdote e historiador 
egipcio, contemporaneo de Ptolomeu I e II, conhecera 
todos os segredos do Egito. Seu nome mesmo pode ser 
interpretado como "o amado de Toth" ou "detentor da 
verdade de Toth". 

Era o homem que sabia tudo sobre o Egito, lia os 
hieroglifos, tinha contato com os ultimos sacerdotes 
egipcios. Teria ele mesmo escrito oito livros, e reuniu 
quarenta rolos de pergaminho, em Alexandria, que 
continham todos os segredos egipcios e provavelmente 
o Livro de Toth. Se tal colecao tivesse sido conservada, 
saberiamos, quern sabe, tudo o que seria preciso saber 
sobre os segredos do Egito. Foi exatamente isto que se 
.quis impedir. 

A biblioteca de Alexandria continha igualmente 
30 



obras de um historiador fenicio, Mochus, ao qual se 
atribui a invencao da teoria atomica, 

Ela continha, ainda, manuscritos indianos extraor- 
dinariamente raros e preciosos. 

De todos esses manuscritos nao resta nenhum trago. 
Conhecemos o niimero total dos rolos quando a destrui- 
gao come90u: quinhentos e trinta e dois mil e oitocen- 
tos. Sabemos que existia uma segao que se poderia 
batizar de "Ciencias Matematicas" e outra de "Ciencias 
Naturais". Um catalogo geral igualmente existia. Tam- 
bem este foi destruido. 

Foi Cesar quern inaugurou ess as destruicoes. Levoti 
um certo niimero de livros, queimou uma parte e guar- 
dou o resto. Uma incerteza persiste ainda em nossos dias 
sobre esse episodio, e 2.000 anos depois da sua morte, 
Julio Cesar tern ainda partidarios e adversarios. Seus 
partidarios dizem que ele jamais queimou livros na 
propria biblioteca; alias, um certo numero de livros 
prontos a ser embarcados para Roma, foi queimado num 
dos depositos do cais do porto de Alexandria, mas nao 
foram os romanos que .lhes atearam fogo. 

Ao contrario, certos adversarios de Cesar dizem 
que grande numero de livros foi deliberadamente des- 
truido. A estimativa do total varia de 40.000 a 70.000. 

Uma tese inter medi aria afirma que as chamas pro- 
venientes de um bairro onde se lutava, ganharam a bi- 
blioteca e destruiram-na acidentalmente. 

Parece certo, em todo caso, que tal destruicao nao 
foi total. Os adversarios e os partidarios de Cesar nao 
dao. referenda precisa, os contemporaneos nada dizem 
e os escritos mais proximos do acontecimento lhe sao 
posteriores de dois seculos. 

Cesar mesmo, em suas obras, nada disse. Parece 
que ele se "apoderou" de certos livros que lhe pareciam 
X especialmente interessantes. 



fHtw»Tt>.-i;<.niwi. m »— 



m<x w* FfcAMftsro y*a;5tt ia casta ®&ga* 

Rfcgiasro N~- - — 



T 

A maior parte dos especialistas em historia egipeia 
pensa que o edificio da biblioteca deveria ser de gran- 
des dimensoes para center setecentos mil volumes, salas 
de trabalho, gabinetes particulars, e que um monu- 
mento de tal importancia nao pode ser totalmente des- 
truido por um prineipio de incendio. E posslvel que o 
incendio tenha consumido estoques de trigo, assim como 
rolos de papiro virgem. Nao e certo que tenha devastado 
grande parte da livraria, nao e certo que ela tenha sido 
totalmente aniquilada. £ certo, porem, que uma quan- , 
tidade de livros considerados particularmente perigosos, J 
desapareceu. — * 

A ofensiva seguinte, a mais seria contra a liv ra- 
ria ^ parece ter sido feita pela Imperatriz Zenobia. Ainda 
desta vez a destruicao nao foi total, mas livros impor- 
tantes desapareceram. Conhecemos a razao da ofensiva 
que lancou depois dela o Imperador Diocleciano (284- 
-305 d.C). Documentos contemporaneos estao de acor- 
do a este respeito. 

Diocleciano quis destruir todas as obras que da- 
v am os segredos de fabrlcacao do ouro e da prata. Isto 
e, todas as obras de alquimia. Pois ele pensav aque se os 
egipcios pudessem fabricar a vontade o ouro e a prata, 
obteriam assim meios para levantar um exercito e com- 
bater o imperio. Diocleciano mesmo, filho de escravos, 
foi proclamado imperador em 17 de setembro de 284. 
Era, ao que tudo indica, perseguidor nato e o ultimo 
decreto que assinou antes de sua abdicagao em maio de 
305, ordenava a destruicao do cristianisma. Diocleciano 
foi de encontro a uma poderosa revolta do Egito e co- 
mecou em julho de 295 o cerco a Alexandria. Tomou 
a cidade e nessa ocasiao houve massacres inominaveis. 
Entretanto, segundo a lenda, o cavalo de Diocleciano 
deu um passo em falso ao entrar na cidade conquistada, 

32 



eJDiocleciano interpretou tal acontecimento como men- 
sagem dos deuses que lhe mandavam poupar a cidade. 
A tomada de Alexandria foi seguida de pilhagens 
sucessivas que visavam acabar com os manuscritos de 
alquimia. E todos os manuscritos encontrados. foram 
destruidos. Eles continham, ao que pareee, as chaves 
essenciais da alquimia que nos faltam para a compreen- 
sao dessa ciencia, principalmente agora que sabemos 
que as transmutagoes metalicas sao possiveis (ver, a 
respeito, na mesma colecao, a obra de Jacques Sadoul, 
"O Tesouro dos Alquimistas") . Nao possuimos lista 
dos manuscritos destruidos, mas a lenda corita que 
alguns dentre eles eram obras de Pitagoras, de Salomao 
ou do proprio Hermes. £ evidente que isto deve ser 
tornado com relativa confianga. 

Seja como for, documentos indispensaveis davam 
a chave da alquimia e estao perdidos para sempre: Mas 
a biblioteca continuou. Apesar de todas as destruicoes 
sistematicas que sofreu, ela continuou sua obra ate que 
os arabes a destruissem completamente. E se os arabes 
o fizeram, sabiam por que o faziam. Ja haviam des- 
truido, no proprio Islao — assim como na Persia — 
gra nde numero de liyros secretos de magia, de alquimia 
e de astrolog ia. 

A L _p alavra de ordem dos conquistadores era "nap 
ha necessidade de outros livros, senao o Livro"^ isto e, 
o Alcorao. Assim, a destruicao de 646 d.C. visava nao 
propriamente os livros malditos, mas todos os livros. 
O historiador muculmano Abd ,al-Latif (1160-1231) es- 
creveu: "A biblioteca de Alexandria foi aniquilada pelas 
chamas por Amr ibn-el-As, agindo sob as ordens de 
Omar, o vencedor". Esse Omar se opunha alias a que 
se escrevessem livros mugulmanos, seguindo sempre o 



33 



principio: "o livro de Deus e-nos suficiente". Era urn 
muculmano recem-convertido, fanatico, odiava os livros 
e destruiu-os muitas vezes porque nao falavam do pro- 

feta. 

£ natural que terminasse a obra come^ada por 
Julio Cesar, continuada por Diocleciano e outros. 

Se documentos sobreviveram a esses autos-i 




foram cui dadosamente guardados desde 646 d.C, e nao 
mais reapareceram. E se certos grupos secretos possuem , 
atualmente manuscritos provenientes de Alexandria, 
diss imulam isto muito bem. 

Retomemos, agora, o exame desses acontecimen- 
tos a luz da tese que sustentamos: a existencia desse 
grupo que chamamos de Homens de Negro e que cons- 
titui uma organizacao visando a destruigao de determi- 
nado tipo de saber. 

Parece evidente que tal grupo se desmascarou em 
391 depois que procurou, sistematicamente, sob Dio- 
cleciano, e destruiu as obras de alquimia e de magia. 

Parece evidente, tambem, que tal grupo nada teve 
a ver com os acontecimentos de 646: o fanatismo mu- 
culmano foi suficiente. 

Em 1692 foi nomeado para o Cairo um consul 
frances chamado M. de Maillet. Ele assinalou que Ale- 
xandria e uma cidade praticamente vazia e sem vida. 
Os raros habitantes, que sao sobretudo ladroes, se en- 
cerram em seus esconderijos. As rumas das constru?5es 
estao abandonadas. Parece provavel que, se livros so- 
breviveram ao incendio de 646, nao estavam em Ale- 
xandria naquela epoca; trataram de evacua-los. 

A partir dai, fica-se reduzido a hipoteses. 

Fiquemos nesse piano que nos interessa, isto e, o 
dos livros secretos que dizem respeito as civilizagoes 

34 



desaparecidas, a alquimia, a magia ou as tecnicas que 
nao mais conhecemos. Deixaremos de lado os classicos 
gregos, cuja desaparigao e evidentemente lamentavel, 
mas escapa a nosso assunto. 

Voltemos ao Egito. Se urn exemplar do Livro de 
Toth existiu em Alexandria, Cesar apoderou-se dele 
como fonte possivel de poder. Mas o Livro de Toth nao 
era certamente o unico documento egipcio em Alexan- 
dria. Todos os eni g mas que se colocam ainda sobre_o 
Egito teriam, talvez? solucaoT se tahtos documentos egip- 
ciosnao t ivesse m sido d estruid os. 

E entre esses documentos, eram particularmente 
visados e deveriam ser destruidos, no original e nas co- 
pias, depois os resumos: aqueles que descreviam a civi- 
lizagao que precedeu o Egito conhecido. £ possivel que 
alguns tracos subsistam, mas o essencial desapareceu, 
e essa destruicao foi tao completa e profunda que os 
arqueologos racionalistas pretendem, agora, que se pode 
seguir no Egito o desenvolvimento da civilizagao do 
neolitico ate as grandes.dinastias, sem que nada venha 
a provar a existencia de uma civilizagao anterior. 

Assim tambem a Historia, a ciencia e a situagao 
geografica dessa civilizagao anterior nos sao totalmente 
desconhecidas. Formulou-se a liipotese que se tratava 
de uma civilizagao de Negros. Nessas condigoes, as ori- 
gens do Egito deveriam ser procuradas na Africa. Tal- 
vez tenham desaparecido em Alexandria, registros, 
papiros ou livros provenientes dessa civilizagao desa- 
parecida. 

Foram igualmente destruidos tratados de alquimia 
os mais detalhados, aqueles que permitiriam, realmente, 
obter a transmutagao dos elementos. Foram destruidas 
obras de magia. Foram destruidas provas do encontro 

35 



com extraterrestres do qual Berose falou,' citando os 
Apkallus . Foram destruidos . . . mas como prosseguir 
enumerando tudo o que ignoramos! A destruigao tao 
completa da biblioteca de Alexandria e, certamente, o 
maior sucesso dos Homens de Negro. 



36 



COMPLEMENTS AO CAPfTULO 2 



E AS PIRAMIDES? 



Havera, certamente, leitores que pensarao que os 
manuscritos que escaparam das multiplas destruicoes 
da biblioteca de* Alexandria encontraram refugio nas 
cavernas secretas sob as piramides. O mais extraorr 
dinario 6 que eles podem nao estar totalmente engana- 
dos. O misterio do Egito esta longe de estar definitiva- 
mente resolvido. 

Citemos, simplesmente, a respeito, duas notas do 
egiptologo frances Alexandre Varille. Este morreu em 
1.° de novembro de 1951 num estranho acidente que 
estamos tentados a atribuir aos Homens de Negro; ele 
escreveu: 

" Ignora-se a f ilosofia f araonica pois a mentalidade 
ocidentai se mostra impotente para deciirar esse pe nsa: 

menl 

E ainda: 

"A egiptologia comegou a esterilizar-se quando en- 
tr ou no quadro oficial da universidade, e quando__os 
egrpt ologos profissionais tomaram, progressivamente,^ o 
liigar dosegiptologos de vocacao" . 

Varille esta longe da ^superestimacao ingenua e de- 
m ente das piramides. Sabia que os edificips egipcios sao_ 
de uma precisao cientifica extrema e que pode ser des- 
coberta^ 

■ 37 



O conjunto desses segredos cientificos teria sido 
redigjdo por Queops e estariam ao mesmo tempo num 
livro do qual se teriam feito muitos exemplares e guar- 
dados nas proprias piramides. Notadamente nas duas 
grandes piramides de Gize. 

A maior parte desse saber deve ter sido destruido 
em Alexandria. Mas talvez nao tudo. Nao esta excluso 
que, antes mesmo da chegada de Cesar, alguns do- 
cumentos essenciais tivessem sido levados e guardados. 
E nao e impossivel que eles ainda existam. 

Q fisico americano Luiz Alvarez tentou sondar 
a grande pir amide com raios. Qs primeiros resultados 
pare ceram revelar inteiramente a existencia de camaras 
secretas que estao por descobrir. A sondagem das outras 
piramides e dos tumulos nao foi feita. Nao se deve 
excluir uma descoberta tao importante como a do tu- 
mulo de Tout Ankh Amon, mas que se Voltasse mais a 
documentos que a objetos. 



* - 



38 









AS ESTANCIAS DE DZYAN 



£ dificil saber quern foi o primeiro a fazer alusao 
a urn livro trazido aos indianos e proveniente do planeta 
Venus. Parece ter sido o astronomo frances Bailly, no 
fim do seculo XVIII, mas e possivel que haja referen- 
cias anteriores. 

O frances Louis Jacolliot , no seculo XIX, parece 
ter sido o primeiro a batizaFesse livro de As Estancias 
de Dzy an. Desde meados do seculo XIX, pode notar- 
-se uma serie de acidentes acontecidos a pessoas que 
pretenderam possuir essas estancias. Mas foi com a as-_ 
censao e queda de Madame Blavatskv que a h istoria 
das JEstancias de Dzyan apareceram em tod sua ex- 
tensao. 

£ dificil falar de Madame Blavatsky de maneira" 
imparcial. As opinioes sao muito divididas, e as paixoes, 
mesmo em nossa epoca, ainda sao violentas. 

O melhor livro, em frances, sobre o assunto, foi 
escrito por Jacques Lantier: "A Teosofia" (C AL) . Fala- 
rei de Madame Blavatsky somente o que me parece 
necessario para compreender a historia fantastica das 
Estancias de Dzvan, 

Helena Petrovna Blavatsky nasceu na Russia em 
^ 30 de julho de 1831, sob o signo de multiplas calami- 

39 
/ 



dades. Desde o seu batismo, a coisa teve inicio: a casula 
do sacerdote pegou fogo e ele ficou gravemente quei- 
mado, e muitas pessoas que assistiam feriram-se, toma- 
das de panico. Apos esse brilhante comeco, desde a idade 
de cinco anos, Helena Blavatsky espalhava o terror em 
torno de si, hipnotizando seus companheiros de brin- 
quedo: urn deles se lancou no rio, afogando-se. 

Com a idade de 15 anos comecou a desenvolver 
os dons da clarividencia, inteiramente imprevistos, e 
passou a descobrir criminosos que a policia era incapaz 
de desmascarar. 

A loucura comecou a espalhar-se e queria-se colo- 
car a jovem na prisao ate que fornecesse de suas ativi- 
dades e de seus dons explicates racionais. Felizmente 
a familia interveio: casaram-na, pensando que se acal- 
masse, mas ela escapou e embarcou em Odessa para 
Constantinopla. De la chegou ao Egito. 

Uma vez mais, voltamos as mesmas pistas do pri- 
meiro capitulo: o Livro de Toth, as obras que escapa- 
ram do desastre de Alexandria. 

Fosse como fosse, no Cairo, Madame Blavatsky" 
viveu com um magico, de origem copta, grande letrado 
muculmano. Este lhe revelou a existencia de um livro 
maldito, muito perigoso, mas que ele lhe ensina a con- ] 
sultar por clarividencia. O original, segundo o magico, 
esta num mosteiro do Tibet. 

O. livro chama-se As Estancias de Dzyan. 

Segundo o magico copta, o livro revelaria se ^redos 
provenientes de outros planetas e referentes a uma his- 
toria de centenas de milhoes de anos. 

Como disse H. P. Lovecraft: 

"Os teologos anunciam coisas que gelariam o san- 
gue de terror se eles nao as enunciassem com um oti- 
mismo tao desarmante quanto beato." 



40 






Desejou-se procurar a origem dessas estancias. 
Meu amigo Jacques Van Herp ere ter encontrado uma 
num obscuro artigo do "Asiatic Review" que Madame 
Blavatsky, provavelmente, nao teve nunca ocasiao de 
consultar. 

Pode-se dizer, ao menos, que Madame Blavatsky, 
cuja imaginacao era sempre muito viva, deixa-se levar 

por relatos fantasticos que correspondem a uma tradicao 
muito antiga. Se levarmos a hipotese ao maximo, pode- 
mos imaginar qualquer coisa. Casos de clarividencia 
excepcional existem. Outro bom exemplo disso e o de 
Edgar Cayce (ver a obra de Joseph Millard: "L'homme 
du mystere, Edgar Cayce"). Que Madame Blavatsky, 
jenha lido, reajmente pela clarivide ncia, uma obra ex- 
traor dinaria, nao e , talvez, dejo do impossivel. 

Mais tarde ela pretendera possuir, sob a forma de 
um livro, essas Estancias de Dzyan. Deixando o Cairo, 
rumou a Paris, onde viveu dos subsidios do pai. Depois 
em Londres, depois na America, onde tomou contato 
com os Mormons e estudou o Vudu. 

Depois disso. tornou -se assalta nte no faroeste. — 
nao exagero. e historico. 

Voltou depois a Londres onde pretendeu encontrar 
um certo Kout Houmi Lai Sing. A proposito desse per- 
sonagem, quatro hipoteses foram emitidas. 

l.° So existiu na imagina?ao de Madame Bla- 
vatsky. 

2.° Jamais existiu mas era a projegao de forcas 
mentais provenientes de adeptos que viviam na Asia. 

3.° Era um hindu,. agente de uma sociedade se- 
creta que manipulava M _adame Blavatsky para faze^Ia 
instrumento da independenela da India. Tal tese parece 

41 



ser preferida por Jacques Lantier que e policial de pro- 

fissao. 

4.° Esse personagem era agente do Servico de 

Inteligencia. - / 

Essa quarta tese se encontra na literatura sovietica 
onde Madame Blavatsky e considerada, com todo seu 
trabalho, como urn instrumento do imperialismo ingles. 

E interessante notar que um seculo depois desses 
acontecimentos, depois de milhares de artigos e cente- 
nas de livros, nada se tenha conseguido saber sobre esse 
personagem designado pelas iniciais K. H. Estamos no 
terreno das conjecturas, mas nao e excluso afirmar que 
as quatro hipoteses propostas sejam todas falsas. 

Seja como for, K. H. manteve corr^ s^ondencia_cflm 
Madame Blavatsky. Uma parte dessas cartas fo j_puJ2LL- 
cada. Entre outras cois a^_falavad o perigo das ann as 
.corT sfrmcIaTcom energia atomic a , e da necessidade, con ,- 
sequ entemente, de guardar certos segredos^ Isto ha cem 
jinos! Encontra-se um eco dessas cartas no romance de 
ficcao cientifica de Louis Jacolliot "Os devoradores de 
fogo" onde se assiste ja a conversao total da materia em 
energia. 

Tais cartas contem muitas outras coisas.^Ajrnedida 
que as rece bia^Ma dame Blavatsky, mulher mcmtalcu ia 
Biblioteca~era ^ c omposta ^unicamente de romances bar 
tos comprados em estacoes de trem, tornava-se. brusca- 
mente , a pessoa melhor informada do seculo XIX ^ no 
'q ue concerne as ciencias. E suliciente ler livros como 
A Doutrina Secre t, Isis Besvendada, O Sim boiismo 

7 - ' — 

Arcaico das Religioes, livros esses que ela assinou, para 
constatar uma imensa cultura que ia da linguistica (ela 



foi a primeira a estudar a semantica do sanscrito arcaico) 
ate a fis ica nuclear, passando por todos os co nhecimen- 

42 






tos de sua epoca, da nossa, e por algumas ciencias ainda 
nao inventadas. 

- 

Pode-se alegar que seu secretario George Robert 
Stow Mead era um homem de grande cultura. Mas Mead 
so encontrou Madame Blavatsky em 1889 e nao ficou 
com ela senao os tres ultimos anos de sua vida. De mais 
a mais, se esse antigo aluno de Cambridge conhecia 
muito bem os problemas relativos ao gnosticismo, nao 
tinha essa cultura universal, tao avancada para a epoca, 
que se manifestava na obra de Madame Blavatsky. 

Esta pretendeu sempre que suas informacoes pro- 
vinham das Estancias de Dzyan, que ela consultara a 
distancia, primeiramente, e que depois recebera dos in - 
dianos um exemplar. Nap se sabe onde ela teria apren- 
d ido o sanscrito: isto faz parte do misterio. 

Em 1852, Madame Blavatsky voltou a India, ru- 
mou depois para Nova Iorque e viveu novamente dois 
anos no faroeste. Em 1855^ novamente em Calcuta, 
depois tentou penetrar no Tibet: impediram-na com 
energia. Comegou entao a receber advertencias: se ela 
nk o restituisse o exemplar das _ Estancias de Dzyan. uma 
infelicidade se abateria sobre ela. C om efeito^jimjjij^ 
ela caiu doente. Durante tres anos per ambulou pel a Euz 
ropjtxom o_se estivesse sendo persegul da. 

Em 1870 voltou ao Oriente, a bordo de um navio" 
que atravessou o Canal de Suez, que acabava de ser 
aberto. O navio explodiu. Diz-se que transportava pol- 
vora para canhao, mas isto nao esta provado. A maior 
parte dos viajantes foi reduzida, em todo caso, a poeira 
tao fina que nem se achou mais vestigio de seus cada- 
veres. A descri§ao da explosao lembra antes a de uma 
bomba atomica, que outra coisa. Madame Blavatsky 
escapou miraculosamente. 

43 






Tentou depois, eta Londres, dar uraa entrevista 

cojetiva a imprensa. Um louco(?) atingiu-a com tiros* 

V Declarou, em seguida, que for a teleguiado, precedendo, 

assim, Lee Harvey Oswald, Shirhan Shirhan e Charles 

Mans on. 

Madame Blavatsky escapou, mas ficou terrivel- 
mente assustada. Organizou outra entrevista coletiva 
para apresentar as Estancias de Dzyan, pensando, assim, 
suprimir a ameaca. Mas o manuscrito desapareceu. De- 
sapareceu de um cofre-forte, moderno para a epoca, que 
se encontrava num grande hotel. 

Madame Blavatsky e entao persuadida que luta 
contra uma sociedade secreta extremamente poderosa. 
O episodio principal dessa luta deveria desencadear-se . 
alguns anos mais tarde, quando Madame Blavatsky 
encontrou na America, Henry Steel Olcott, homem de 
negocios, que se dizia coronel, como muitos de sua 
epoca, notadamente Buffalo Bill. 

Qkott se apaixonou pela estranha. Madame Bla - 
vatsky Ihe pareceu tascmante. Fundou, entao, com ela , 
um_ "clube de milagres". Depois disso, uma sociedade 
^ie_gujs_ batizar como so ciedade egiptolog l ca. Depois 
de muitas advertencias. o nome foi mu'dado para "So^ 
ciedade Teosofica". Estamos a 8 de s etembro de 1875 . 
Os sinais e pr odigios logo se manifestaram. A socied ade 
g uer ki^ner ar3os_jgstos_^ riortais do Bara o_d e Palm, 
impro yavel aventu re iro, membro dessa sociedade. A cre- 
ma 9ao e novidade, princ i palmente na America. £ preciso 
uma autorizacao especial para a sociedade teosoH ca 
con struir um forno crematorio. Quando la foi po sto q 
cadaver do Barao de Palm^seu b r ago direito leva ntou-se 
para o ceu, em sinal de protesto. Ao mesmo tempo,_no 
mesmo insta nte, um mcendio gigantesco apareceu nO 

44 



Brooklyn: um grande teatro queimou e duzen tos nova- 
-iorqui no^jii Offeram. A c ida de inteira~tremeu~ 

Ao cabo de algum tempo, decidiu-se que o Coro- 
nel Olcott e Madame Blavatsky partiriam para a Asia 
a _fim de entrar em c oi itato com os grandes mestres da 
Loja Branca A missao era encarada tao senamente pel o 
g overno dos Estados Unidos que, quando da partida, 
em 1878, o Presidente R uth erford Hayes designou Ma- 
dame Blavatsky e o Coronel QlcotTc omo seu's ; enviados 
espec iais, deu-lhes ordens da missao assinadas e passa - 
portes diplomatico s^ Tais documentos evitariam que, 
mais tarde, eles fossem mantidos presos na India, pelos 
ingleses, como espioes russos; so faltava a espionagem 
nessa historia, ai esta. 

Em 16 de fevereiro de 1879, a expedicao chegou 
a India. Foi recebida pelo Pandit Schiamji Krishna- 
varma e outros iniciados. Aspecto menos agradavel da 
recep9ao: todos os documentos e dinheiro dos via j an- 
tes foram roubados na chegada. A policia inglesa reen- 
controu o dinheiro, mas jamais os documentos. 

p o comeco de uma guerra sem gu ar tel que termi- 
nara catastroficam ente^As prisoes e intem>gat6rios poli- 
ciais se sucederam. O Coronel Olcott protestou, exibiu 
a carta do presidente dos Estados Unidos e escreveu: "O 
governo da India recebeu falsas informacoes a nosso 
respeito, baseadas na ignorancia e na malicia, e estamos 
colocados sob uma vigilancia tao inabil que o pais in- 
teiro a percebe, e que faz crer aos indianos que o fato 
de ser nossos amigos, lhes atfaira a malquerenga de 
funcionarios superiores, e poderia prejudicar seus inte- 
resses pessoais. As intengoes louvaveis e generosas da 
sociedade encontram-se, assim, entravadas seriamente, 
e estamos sendo vitimas de indignidades absolutamente 

45 



imerecidas pela decisao do governo, enganado por fal- 
sos rumores." 

Apos isso, a perseguicao policial diminuiu, mas., as 
ameacjts se multiplicam; se Madame Blavatsky s e_Qhsii- 
nasse em falar do livr o de Dzyan deveria esperar pelo. 
pior. Ela se o b stinou. 

Tinha agora em seu poder as Estanc i as de Dzyan, 

que_nem mesmo estavam redigidas em sanscrito, mas 
n uma lingua chamada Senzar, da qual ninguem ouyira 
falar, nem antes nem depois dela. Madame Blavatsky 
mesma traduziu o texto para o ingles: essa tradugao 
apareceu em 1915 na "Hermetic Publishing Company** 
de San Diego, Estados Unidos, com urn prefacio do Dr. 
A. S. Raleigh. Pude consulta-la em .1947 na biblioteca 
do Congresso em Washington. £ muito curiosa e mere- 
ceria ser estudada. 

A replica dos Desconhecidos e terrivel e admira- 
velmente organizada. Tiraram de Madame Blavatsky 
aquilo que lhe era m ais caro; suas pretensoes ao ocul- 
tis mo. A sociedade de~pesquisas psiquicas inglesa public 
cou um_relatorio absolutamente acabrunhador, redigido 
j>elo Dr. Hodgsom_ Madame Blavatsky nao passaria de 
um pres tidi gitador banal; toda sua historia seria uma 
farsa. Elanuncase recup ejpu _dess e ataque. Viveu ate 
1891, completamente abatida psiquicamente, num es- 
tado de clepress a o mentalTamentayel. 

Declarou publicamente que lamenta ter falado 
jas Estancias de Dzyan, e muito tarde. I nvestigadore s 
indianos, como E. S. Putt, criticarao e demolirao a 
mat eria de Hodgson, mas nao ha mais tempo pa ra sal- 
var Madame B lavatsky. 



Provou-se, apos sua morte, que uma verdadeira 
conspiracao fora orga nizad a ao mesmo tempo pelo go- 
verno ingles, pelos servicos de polfcia do vice-rei da 



46 






'-•-. 



' ■ • ■«.- 



India, pelos missionaries protestantes na India, e por 
6utros personagens que nao se pode identificar, e que 
s eriam, provavelmente, os mais importantes participan - 
tes desse complo. No piano da guerra psicologica, a 
operacao montada contra Madame Blavatsky e uma 
obra-prima^_ 

Tal conspiracao prova, por outro lado, que existem 
certas organizacoes contra as quais a propria protecao 
d e um p residen te dos Estados Unidos e inocua O result 
t ado foi visto. No piano politico T Madame Blavatsky tevg 
umajvitoria tota j: Mohandas Karamchand Gandhi reco - 
n heceu que devia a Madame Blavatsky ter encontrado 
seu caminho. a consciencia nacional, e que gracas a ela 
ele libertara, finalmejite. a India. Foi um discipulo de 
Mada me Blavatsky que lhe forneceu a droga Soma que 
lhe pejmitiiuil trapassaros momentos mais dificeis~Ee, 
provavelmente, devido a esses contat os^ ue Gandhi joi 
assa ssinado em 3CTde Jan eiro de 1948 porju m fanaticp 
estranhamente teleguiado e estranhamente precursor, 
uma vezmais. 

Mas as ideias de Madame Blavatsky triunfavarn!" 
£ certo que a sociedade teosofica desempenhou impor- 
tante papel, se nao decisivo, na libertacao da India. £ 
certo tambem qiie o Servico de Inteligencia e outros ins- 
truments do imperialismo ingles tomaram parte na 

conspiragao contra Madame Blavatsky e contra o livro 
de Dzyan. 

A impressao que se depreen de, portant o, e que 
umj^or^aniz acao mais poderosa que o proprio Servico 
de Inteligencia, e nao p ol^tica, procur ou impedir Ma- 
d ame Blavatsk y_de_falar. 

Objetar-me-ao que tal organizacao nao impediu a 
p ubricacao do texto em 1 915, mas o que proy a_c[ue_a 
pu blicagao tenha a menor relacao com o original? Afi- 



- 



/ 












nalj nao conheco nada sobre a sociedade hermetica de 
San Diego. 

Em todo caso, Madame Blavatsky comegou , a 
morrer depois do desastre. Nos a reencontraremos, numa 
ultima imagem, na rua Notre-Dame-des-Champs, em 
Paris. Ai terminou sua vida, para ir morrer depois em 
Londres em 1891. 

Olhemos atraves dos olhos de um de seus inimigos, 
o russo V. S. Solovyoff, que descreveu seus encontros 
com ela no "Mensageiro da Russia", uma revista da 
epoca. Parece que ele aborreceu-se principalmente com 
as eriticas mudas que ela constantemente parecia dirigir- 
-lhe. Apesar de abatida, Madame Blavatsky foi ainda 
objeto de fenomenos bizarros. Eis o que aconteceu ao 
cetico Solovyoff no Hotel Vitoria, em Elberfeld (Ale- 
manha), quando acompanhava Madame Blavatsky e 
alguns discipulos em viagem: 

"De repente acordei. Fui despertado por um halito 
quente. Ao meu lado, na obscuridade, uma figura hu- 
mana de talhe alto, vestida de branco se erguia. Ouvi 
uma voz, nao saberia dizer em que lingua, ordenando-me 
para acender a vela. Uma vez a vela acesa, vi que eram 
duas horas da manha e que um homem vivo se encon- 
trava ao meu lado. Esse homem parecia exatamente o 
retrato do mahatma Morya que eu ja vira. Falou-me 
numa lingua estranha mas, no entanto, eu o compreen- 
dia. Disse-me que eu tinha grandes poderes pessoais e 
que meu dever era emprega-los. Depois desapareceu. 
.Reapareceu logo, sorrindo, e na mesma lingua desco- 
nhecida, mas inteligivel, disse: "Esteja certo, nao sou 
uma alucinacao e voce nao esta a ponto de perder a 
razao". Depois desapareceu novamente. Eram, entao, 
3 horas. A porta cOntinuava fechada a chave". 

48 



Se e esse o genero de fenomeno que acontecia aos 
ceticos, nao e nada espantoso que Madame Blavatsky 
tivesse conhecido experiencias mais ex traordin arias. 
Parece^ em todo caso, que ela empregou uma especie 
cje_ clarividencia~para escrever. Urn critico ingles, Wil- 
liam Emmett Cole ma n conta que na obra Isis Desven- 
dada, Madame Blavatsky cita perto_de 1.400 liyros, 
que ela nao possuia. As citacoes sao corretas^ 

Acusam-me de ter procedido da mesma maneira 
oculta para escrever o Despertar dos Magicos, mas 
nenhuma citacao desse livro, e nem dos meus livros se- 
guintes, nem do presente livro, foram feitas de memoria. 
Porque eu nao pude encontrar as fotocopias que tirei, 
em 1947, das Estancias de Dzyan, publicadas na edicao 
de 1915, e que nao as cito de memoria. . 

Madame Blavatsky, em todo caso, nao ameacara 
mais ninguem de publicar as Estancias de Dzyan. O 
leitor poderia perguntar-me de onde me vem a ideia de 
que as obras pertencentes as civilizacoes muito antigas, 
obras, talvez, de origem interplanetaria, se encontram 
nalndja^ Tal ideia nao e novarf oHnjr^uzi da no j)c£ 
dente por_u m personagem tap fantastico ^quant^jvla- 
dame Blavatsky: Apolon i o de Tiana^ Apolonio de Tiana 
foi estudado notadamente por George Robert Stow 
Mead (1863-1933), que por acaso foi o ultimo secreta- 
rio de Madame Blavatsky nos tres ultimos anos de sua 
vida. 

Apolonio de Tiana parece ter realmente existido. 
Uma biografia dele foi escrita por Flavius Philostratus 
(175-245 d.C). Apolonio de Tiana impressionou tanto 
s eus contemporan eos _e a. posteridade que, hoje ainda , 
mvestigadores serios afirmam que jesu s Cristo jamais 
e xistiu, mas que seus ensinamentos provem, na reali- 
dade, de" Apolonio de Tiana^ uma tese que nao existe 

49 



somente entre os racionalistas. Atribui-se a Apolonio 
poderes sobrenaturais que ele proprio negou com grande 

energia. 

Parece, entretanto, ter visto, pela clarividencia, o 
assassinato do imperador romano Domiciano, em 18 de 
setembro do ano 96 d.C. Certamente viajou a India. 
•Morreu em idade avancada, depois dos cem anos, pro- 
vavelmente em Creta. 

Deixemos de lado as lendas que o envolvem e no- 
tadamente aquela que diz que Apolonio de Tiana ainda 
vive entre nos. Deixemos, igualmente, de lado, as rela- 
coes de seus ensinamentos e o cristianismo. Mencione- 
mos simplesmente, de passagem, que Voltaire o colocou 
acima de Jesus Cristo, mas isto foi, sem diivida, para 
atacar os cristaos. 

O certo e que Apol6n io_d e Tiana afirmou existir 
em seu tempo, no seculo I depois de Cristo, na India ^ 
extraordin arios livros antigos contendo o saber vindp . 
de eras d esa pareci d as, de um passado muito recuado^ . 
Apolonio de Tiana parece ter tido acesso a alguns desses 
l ivros, em particular e a ele que devemos, na literatura . 
hermetica, 'passagens inteiras dos "Upanishads"_e _da. 
"Bhagavad Gita". 

Foi ele, antes de Bailly e Jacolliot, quern langou 
essa ideia que nao cessa de circular. Seu discipulo Damis 
fez anotacoes sobre esses livros, mas como por encanto 
as notas de Damis desapareceram. O prefaciador da 
obra de Mead, Leslie Shepard, escreveu em julho de 
1965, recentemente, portanto, nao estar fora de cogita- 
gao que as notas de Damis aparecerao um dia. Seria 
muito interessante, e antes de tudo, a historia dos ma- 
nuscritos do Mar Morto prova que as reaparicoes mais 
curiosas sao ainda possiveis. 

50 



/ 



. Damis f ala, no que nos resta de suas notas, de reu - 
nites secretas das quais era excluido, cntre ' Apolonio 
" e sabios hindu s. Descreveu, tambem, fenomenos de levi- 
tacao e de producao. direta de chama's por urn efeito j ia 
vontade, sem auxilio de instrumento. Assistiu fenome- 
nos desse genero, produzidos pelos sabios indianos. Este s 
parecem ter acolhido Apolonio como seu igual e te -lo 
ensinado o que jamais teriam ensinado a qualqu er occi- 
dental . 

Apolonio parece ter visto as Estancias de Dzyan. 
Teria trazid.o_um exemplar ao Ocidente. Quern o sabera? 



,* 



51 



\ 



O SEGREDO DO ABADE TRITHEME 



O abade Tritheme possui, sobre outros perso - 
nagens do presente livro^ a vantagem de t g r realmgn te 
existido. Nasceu em 1462 e morreu em 1516. Teve nu- 
merosos historiadores, entre os quais Paul Chacomac: 
"Grandeza e adversidade do abade Tritheme" (Edicoes 
Tradicionais, Paris, 1963). No entanto, devo deixar 
claro desde ja que nao estou totalmente de acordo com 
esse eminente historiador. Nao quero absolutamente 
dizer que ponho em duvida seu valor como historiador, 
mas que tenho em meu poder certas informagoes que 
Chacomac consideraria, talvez, secund arias, mas que 
me parecem, a mim que sou especialista, ao mesmo tem- 
po, em criptografia e no estudo das tecnicas desapare- 
cidas, de capital importancia. 

De outra parte, minhas fontes nao ultrapassam as 
de Chacomac. 

Isto dito, comecamos pelo comedo. O abade Jean 



de Heidenberg. q ue se fez chamar abade Tritheme, 
nasceu em_2 d p fevereiro de 1462, em Tritthenheim. 
Entrou para a celebre universidade de Heidenberg em 
1480, pa ra ai faze r seus e st udos. Ob teve certifica do de 
pobreza que o dispensou djTpagar os estudo £ f Fnnrjcnj 
c om Jean de Dalberg e Rudolphe Huesmann uma socie- 

53 



• 



dade seer eta para estudar astrolog i a, a magia dos nu - 
m eros, as lingu as_e~ a matematje a, " 5s participantes ado- 
taram pseudonimos. Jean de Dalberg tornou-se Jean 
Camerarius; ~T?iidolphe H uesmann tornou ^ e Rudolf 
Agr icola; Jean de Heidenberg tornou-se Je anJIritheme^ 
Nao se escolhia, geralmente, pseudonimos ao acaso, 
mas nao se conhece a origem dessas escolhas, salvo que 
o numero tres nelas figurava visivelmente. A sociedade 
YJT mesma adotou um nome secreto muito significativo: 
"Sodalitas Celtica", a Confraria Celta. Aos primeiros 
participantes juntou-se o judeu Paul Ricci que lhes en- 
sinou a Kabala. Em 2 de fevereiro de 1482, dia em que 

completava vinte anos, Jean Tritheme entra para a or- 
dem dos beneditinos, no mosteiro de Saint-Martin-de- 
-Spanheim. Seria mais tarde abade de Spanheim, depois 
de Wurtzbourg. Sua piedade crista nao parecia duvidosa. 
Sera ela quern o protegera de certas tentacoes, 
quando ele se interessa pela alquimia e pela magia. Esse 
interesse parece ter sido aquele de um cientista desinte- 
ressado que nao busca nem riqueza nem poder pessoal. 
A atitude. do abade Tritheme parece ter sido identica 
aquela do conego de nossos dias, Lemaitre de Louvain, 
que criou a teoria do universo em expansao e que foi 
admirado pelo proprio Einstein. O que nao o impedia 
de buscar nesse fenomeno suposto do universo em ex- 
pansao, a prova da existencia de Deus. 

Tritheme reuniu no mosteiro de Saint-Martin a 
biblioteca mais rica da Alemanha, que se compunha, 
essencialmente, de manuscritos. Nao gostava de livros 
impressos, recentemente inventados, e que achava vul- 
gares. Essa biblioteca, constituida as suas expensas, 
custou-lhe mais de 1500 ducados de ouro. 

Fazendo-se passar por erudito e historiador, prosse- 
guiu nas buscas. Bern estranhas buscas. Buscas sobre as 

54 



quais cometeu o erro de escrever cartas imprudentes a 
indiscretos e a invejosos que se vingariam dele, prejudi- 
cando-o. Suas buscas voltavam-se a um processo para 
hipnotizar pessoas a distancia, por telepatia, com o au- 
xilio de certas manipulates de linguagem. A iingiiis- 
tica, a matematica, a kabala e a parapsicologia se mis- 
X turam estranhamente em seus trabalhos. 

O livro, em oito volumes, que reunia suas bus- 
cas e que continha os segredos de um incrivel poder, 
chamava-se Steganographie. O manuscrito completo 
desse livro foi destruido pelo fogo sob as ordens do 
Eleitor Philippe, conde palatino Philippe II, que o en- 
controu na biblioteca de seu pai e ficou aterrorizado. 

Nenhum exemplar completo desse livro subsistiu. 
Insistimos, o manuscrito que continha a chave dos maio- 
res poderes foi destruido. Nao existe nenhuma copia. O 
Dr. Armitage, que na novela de Lovecraft "A abomina- 
§ao de Dunwich", se serve de manuscritos para decifrar 
antigos codigos cifrados, foi inventado por Lovecraft 
que nao acreditava, absolutamente, que seu heroi tivesse 
tido uma realidade historica, e que nao teve certamente 
em maos a Steganographie completa, como nenhum 
outro. 

Existe, entretanto, um manuscrito fragment ario 
que cobre mais ou menos 3/8 da obra, a que nos repor- 
taremos. 

Que havia nessa Steganographie? 

Citemos, primeiro, alguns testemunhos do proprio 
Tri theme: 

"Um dia deste ano de 1499, apos sonhar muito 
tempo com a descoberta de segredos desconhecidos, 
persuadido, afinal, que o que eu procurava nao era pos- 
sivel, fui deitar-me, um pouco envergonhado, pela lou- 
cura de querer encontrar o impossivel. Durante a noite 

• 55 



V 






•• 



(em sonho) alguem se apresentou a mim chamando-me 
pelo nome: Tri theme, disse-me, nao creia ser em vao 
seus pensamentos. Mesmo que as coisas que procura 
sejam impossiveis, a voce e a qualquer outro homem, 
elas irao ao seu encontro. 

■ — "Ensine-me, disse eu, o que e preciso fazer para 
te-las? Entao, ele descobriu todo o misterio e me. mos- 
trou que nada era mais facil." 

Tritheme pos-se, entao, a trabalhar e eis aqui, 
sempre de sua propria boca, o relato do que ele encon- 
trou : 

"Posso assegurar que essa obra pela qual ensino 
numerosos segredos e misterios pouco conhecidos, pare- 
cera a todos, ainda mais aos ignorantes, conter coisas 
sobre-humanas, admiraveis e incriveis, visto que ne- 
nhuma outra pessoa anteriormente sobre isto escreveu 
ou falou antes de mim. 

"O primeiro livro contem e mostra mais de cem 
maneiras de escrever secret amente, e sem nenhuma sus- 
peita, tudo o que quisermos e nao importa em que lingua 
conhecida, sem que se possa suspeitar o teor, e isto sem 
metatese nem transposigao de letras, e tambem sem ne- . 
nhum temor nem duvida que p segredo possa ser conhe- 
cido por alguem, a nao ser aquela a quern cabalistic a- 
mente eu tiver ensinado, essa ciencia, ou aquela a quem 
meu binario cabalisticamente transmitir. Como todas as 
palavras e letras empregadas sao simples e familiares, 
nao provocam nenhuma desconfianga e nao havera nin- 
guem, por mais experimentado que seja, que possa por 
si mesmo descobrir meu segredo, o que parecera a todos 
uma coisa formidavel, e aos ignorantes uma impossibi- 
lidade. 

"No segundo livro, tratarei de coisas ainda mais 
maravilhosas, que se aliam a certos meios, gracas aos 

56 



• 

quais, de maneira segura, posso impor minha vontade 
a qualquer pessoa que recebera o sentido de minha cien- 
cia, o mais longe que esteja, mesmo a mais de cem 
leguas de mim, e isto sem que me possam suspeitar de 
empregar sinais, figuras ou quaisquer outros carac- 
teres, e se uso para isso um mensageiro e que ele seja 
preso a caminho, nenhum rogo, ameaga ou promessa, 
nem mesmo a violencia podera obrigar esse mensageiro 
a descobrir meu segredo, pois dele nao tera nenhum 
conhecimento; e isto porque ninguem, por mais esperto 
que seja, podera descobrir o segredo. 

"E mesmo todas essas coisas, posso fazer quando 
• quiser, facilmente, sem o auxilio de ninguem, nem men- 
sageiro, mesmo com um prisioneiro encerrado num lugar 
X tao profundo e sob guarda vigilante." 

Sao pretensoes formidaveis. 

Ajnaiorjparte dos historiadores do abad e Tritheme 
diz q ue diss o ele nad a encontrou e que vivia de ilu- 
sjks, Nao e esta nossa opiniao. Penso que Tritheme, 
r ealmente. fez i 

eque 



Qe uma agao que ia se torna natural dos Homens de 
Negro, aos quais meu livro e consagrado. 

Tritheme agiu mal ao ser muito racionalista para 

sua_epoca, notad amente por atacar a astrologia. Eis o 
que ele disse: 

"Para tras, homens temerarios, homens vaos e as- 
trologos mentirosos, que enganam as inteligencias e que 
fie am em frivolidades. Pois a disposicao das estrelas 
nada influem sobre a alma imortal, nenhuma acao tern 
sobre a ciencia natural; ela nada tern a ver com o saber 
supra-celeste, pois o corpo nao pode ter poder a nao 
ser sobre o proprio corpo. O espirito e livre e nao esta 
submetido as estrelas, nao absorve suas influencias e nao^ 

57 






segue sens movimentos, mas esta em comunicacao so- 1 
mente com o principio supra-celeste, pelo qual foi feito 
e pelo qual se tornou fecundo". — " 

Nessa nota, como em muitas outras cartas e escri- 
tos de Tritheme, aparece uma mentalidade absoluta- 
men te racional. O que ele chama de magia natur aj^e^o 
que chamamos tecnica. 

' Atribui-se~a ele livr os sobre a pedra filosofal. Nao 
e cefto. Os livros de Tritheme foram extensamente co- 
mentados pelo alquimista ingles George Ripley que 
escreveu: "Suplico aos que sabem para nao publicar". 
desua morte. uma reputaca o de magico negro _ 



oeJLIll 




zes da Inquisicao, Del Rio, perguntara por que a 
iiographi e, que entretanto so circulava sob a forma de 
notasji ncompletas, nao estav a e ntre os livros proibidos 
censurados. Logo, livros que fazem o tema de meu tra- 
balho. 

Em 1610, so entao, em Frankfurt, uma prim ejra 



por Mathias Becker. Tal edigao traz a indicacao "com 
privilegio e permissao dos Superiores", mas nenhum 
imprimatur ai figura. O que nos faz indagar de quais 
Superiores se trata. 

Q livro contem um prefacio qu e desa parecera em 
seguida e onde se encontra uma frase ^c^riosa: "Mas, 
talvez, alguem me objetara, pois se queres que esta 
ciencia fique escondida, por que, entao, quiseste revelar 
o sentido das cartas em questao? 

"Eu te responderei que e porque quis beneficiar 
com estes excelentes principios certos grupos de pessoas 
dos quais fa§o parte, a fim de defende-los de multiplos 
perigos, e a fim de coloca-los ao abrigo de certos aciden- 
tes fortuitos". 

58 



I 



E um ponto de vista perfeitamente razoavel. Mas 
o livro, mesmo truncado, parecia ainda perigoso. Tam- 
bem essa edicao, apesar de incompleta, foi incluida no 
In dex pel a Congregagao do Santo Oficio, em 7 de se - 
te mbro de 1609. Tal proibicao deveria durar ate 1930. 

Em 1616, uma defesa do abate Tritheme, feita 
pelo abade Cigisemon, do mosteiro beneditino de Ceon, 
na Baviera, foi publicada. Em 1621, apareceu uma nova 
edicao reduzida. Trazia igualmente a mengao "com a 
permissao e de acordo com os Superiores". Desta vez, 
nao podia tratar-se de superiores eclesiasticos, pois a 
obra estava no Index desde 1609. Quern sao esses Supe- 
riores misteriosos? 

Existem em algum as b ibliotecas alguns numero s 
dessa"edicao. O que se pode encontrar ai uma teoria gera l 
dos codigos de transposic;ao ? tais como ainda emp regas 
mos, em nossos dias, na diplomacia e na espionagem. 

Um certo numero de exemplos de textos de trans- 
posigao conteriam, segundo os eruditos, uma parte ao 
menos dos ensinamentos contidos na edicao completa 
destruida. Nenhum dos ensinamentos convence. Mais 
tarde, o Padre Le Brun assinala que a utilizacao da 
Steganographie comporta o uso de uma aparelhagem: 
nao muitodiferente, ao que parece, de nosso radio atual. 
"Ouvi dizer, muitas vezes, que algumas pessoas comuni- 
cam-se segredos, a mais de cinqiienta leguas de distancia, 
usando agulhas imantadas. Dois amigos tomaram cada 
um uma bussola, ao redor da qual estavam gravadas as 
letras do alfabeto e pretendiam que um dos dois, f azendo 
aproximar a agulha de algumas letras, a outra agulha 
da outra bussola, distanciada de algumas leguas, se vol- 
tasse para as mesmas letras." 

Isto parece muito interessante. Um aparelho desse 
tipo seria perfeitamente realizavel em nossos dias, gra- 



59 






X 



cas a transistores. Mas se os homens tivessem esse poder 
no comeco do seculo XVII, teriam a vantagem de ter 
em maos um meio de trans missao absolutamente inde- 
tectavel e, naturalmente, sem nenhum pacto com o 
demonio e sem colocar em perigo a alma de seu usuario. 

Se uma sociedade se apropriou des ses segredos e 
bem_ veross lmil que tenha querido gu arda-los. Isto, ela 
parec e ter conseguido. 

Uma outra obra de Tritheme, a Poligrafia, trata 
exclusivamente das escrituras secretas, e de maneira 
extremamente moderna. A obra apareceu em 1518 e 
uma traducao francesa foi feita em 1561 . Foi largamente 
plagiada. Nessa obra, so se trata da criptografia pura,J 
sem nenhum segredo do tipo oculto. -J 

Para ser mais exato, as si nalemos que, em 1515. 
Tritheme publicou uma' teoria ciclica da historia d a 
humanidade lembrando ao mesmo tempo a tradicao 
hindu e certas teorias modernas. O livro se intitula Das 




sete causas secundarias, isto e, as Inteligencias, ou Es- 
piritos do mundo apos Dens, on cronologia mistica, 
encerrando maravilhosos segredos dignos de interesse. A 

obra e baseada nos trabalhos do cabalista e magico 
Pierre d'Apone. Este inquietara de tal modo a Igreja, 
que quando morreu, em 1313 em Padua, a Inquisi?ao 
procurpu seu corpo para queima-lo, mas nao conseguiu 
encontra-lo. Amigos de Pierre d'Apone haviam guar- 
dado seu corpo na Igreja Santa Justina. Raivosa, a In- 
quisicao queimou, em seu lugar, uma sua efigie. 

A obra de Tritheme tern um grande interesse para 
o leitor de romances de ficcao e de imaginacao moder- 
nos. Foi nela, com efeito, que C. S. Lewis encontrou a 
ideia dos "eldila", anjos que fazem funcioiw o sistema 
solar. Isto dado, a teoria dos ciclos e admitida por 
pessoas serias, e uma vez mais Tritheme nos fornece 

60 



> 

ideias modernas. Bern entendido, nao se pode te-lo como 
responsavel dos delirios que seu livro produziu, e nota- 
damente da explicacao que, por volt a de 1890, dele.for- 
neceu uma sociedade secreta, a Hermetic Brotherhood 
of Luxor. Pode-se, entretanto, lembrar, a proposito, a 
opiniao de Tritheme sobre astrologia, opiniao que cita- 
mos anteriormente. 

Para os que apreciam ninharias, assinalamos que 
Tritheme predisse em seu livro, dando-lhe a data exata, 
1918, a declaracao Balfour relativa a criacao de urn 
kstado judeu em Israel, e que tal_a firmagao foi feita 
400 anos antes do acontecimento. 

Passemos sobre os livros desaparecidos de Tri- 
theme, dos quais nao estamos certos se ele realmente os 
escreveu, e voltemos a nossa hipotese relacionando-a 
com a Steganographie. 

Paigc ejios que Tritheme teria encontrado um meio T 
m anipulando sfmboTos a partir da linguagem, de produ- 
zir efeitos que podem ser constatados por outros espi- 
ritos a grande distancia, e que permitiria controlar tais 
espintos^ Isto parece extraordinario, mas bem possivel. 
Tritheme via o mundo com olh os novos. e era perfei- 
tamente capaz de teiMnventado algumacoisa mteira- 
meht e^riova. 

Eie mesmo nunca teve senao pretensoes razoaveis: 
" Nada fiz de extraordinario^ e no entan to_corr e o boato 
•de_que sou "magic^7XrX^ior parte dos jiyros_de, 
magicos,naoj3ara i rmta^IpsTmas com a ideia de ref u tor 
ujn^ia^SUaj^pe^^sas supe^stic_oes]\ 
> r ' Por isso eslotnhchniHo'a crer nos poderes perfei- 
tamente naturais, nos quais Tritheme insiste, da Stega-* 
uograpfaie. Um tal poder e ev ide ntemente perigosa Tri - 
the me logo tornou-se p rud^mSTR ecorriendou, tambern^ 
| prudencia a Henri Cor nelius , diz Agrippa, que parece 

61 



nu nca ter sido seu discipulo, mas que o felicitava ardo 

rosamente por s ua^filosofia_adulta". Ele oaco nselhou_ . 
saMamente^- 

" De feno aos bois, mas aos papagaios somente 
acucai* '. 

Quanto a Paracelso, tinha doze anos quando Tri- 
theme morreu e nunca se encontrou com ele. Paracelso 
nao lhe inspiraria nenhuma confianca. Quando muito 
Paracelso podia ter lido seus livros. Ademais, em quem 
Tritheme poderia confiar se, como sustentamos, ele real- 
mente descobriu urn meio de controle telepatico a dis- 
tancia. Qual papa, qual imperador seria tao sabio para 
dispor de um tal poder? Compreende-se que Tritheme 
se tenha calado. Compreende-se, tambem, que seu ma- 
nuscrito tenha sido destruido e que as edicoes truncadas 
nao podiam aparecer senao com a "autorizacao dos 
Superior es". 

Citemos, ainda, uma de suas cartas, e imaginemos, 
por um instante, que ele dizia a verdade. "Pois est a 
ci encia e um caos de uma profundidade inTinita que 
nmguem pode compreender de maneira perfeita, pois 
apesar de todo o conhecimento e experiencia dessa arte, 
se mpre o que tivere s apr endido sera bem inferior em 
quantidade a tudo o qu ejiao sabes. Essa arte profunda 
e tao secreta possui, com efeito, essa particularidade, 
que o discipulo tornar-se-a facilmente mais sabio que 
seu mestre, se cOntudo esse discipulo estiver bem dis- 
posto para progredir, e se ele mostra zelo nessas 
materias contidas na Kabala hebraica. Se_algum leitor 
nao se espantar com o nome, a ordem e a natureza de 
• certas operagoes dirigidas a espiritos. e pensatser eu um 
magico, necromante ou q ue conclui algum pacto com 
( Tdemoni o, e que adoto tal ou qual supers'tiga o, julgo 
conyeniente erguer um prot esto solene nes se" prefacio, 

62 




c dc preservar, assim, meu nome e minha honra dessa 
semelhante mancha jl 

O caos onde se encontra todo o saber nao e o que 
ma i^aide-xhainarlamos d e inconsciente coletivo? Foi 
talvez interessante que o segredo de Tritheme tenha 
desaparecido, mas nao tenho duvida de que Tritheme 
realmente descobriu um grande e terrivel segredo. 



63 



O QUE JOHN DEE VIU NO 
ESPELHO NEGRO 



Como o abade Tritheme, John Dee realmente exis- 
tiu. Nasceu em 1527 e morreu em 1608, Sua vida foi 
tap extraordinaria que foram os romancistas que melhor 
o descrevera m em obras de imaginac,ao do que a maior 
parte de seus biografos. Estes romancistas sao Jean Ray 
e Gustav Meyrink. Matematico distinto, especialista nos 
cl assicos. John Dee inventou a ideia de.j im _meridiano 
de base: o meridiano de Greenwich. Levou a Inglate rra, 
tendo- os_encont rado em Louvain, dois globos terrestres 
de Mercator, assim como ins t rumentos de navegacao. 
E foi assim o inicio da expansao maritima da Inglaterra. 

Pode-se dizer, dessa forma,^- nao participo dessa' 
opiniao — que John Dee foi o primeiro a fazer espio- 
nagem industrial, pois levou a Inglaterra, por conta da 
Rainha Elizabeth, quantidade enorme de segredos de 
navegacao e fabrica^ao. Foi certamente um cientista de 
primeira ordem, ao mesmo tempo que um especialista 
dos classicos, e manifesta a transigao entre duas cultu-. 
ras que, no seculo XVI, nao eram, talvez, tao separadas 



como o sao agora. 



:, 



Foi tambem muitas outras coisas, como veremos. 
No cursode seus brilh a ntes estudos em Cambridge, p^ s.- 
-se, infelizmente para ele, a construir r obos entre ^os 

.65 



guais um escaravelho mecan ico q ue _ soltou durante uma_ 
r epresentacao teatral e que causou panico. Exnulso de 
C ambridge por feiticaria, em 1547, foi para Louvain. 
La. ligou-se a Mercator. Tornou-se astrologo e ganh ou 
a vidajazendo hor6scop os_ 1 __ depois foi preso por c onsrn- 
ragao magica contra a vida da rainha Mary Tudor. Mais 
. tarde, Elizabeth libertou-o da prisao e o encarregou de 
missoes jnisteriosas no continente. 

IEscreveu-se com freqiiencia que sua paixao apa- 
rente pela magia e feiticaria seriam uma "cobertura" 
a sua verdadeira prof issao: espiao. Nao estou totalmente 
convencido disto. 
Em 1563 , numa livraria de Anvers, encontrou um 
manuscrito, provavelmente incompleto. da Ste gano- 
graphie de Tritheme. E l e a completou e pareceu ter 
che gado a um metodo quase tao eficaz quanto o d g 
. Tritheme,. 

Publicando a primeira traducao inglesa de Eucli- 

des, e estudando para o exercito ingles a utilizagao de 

. telescopies e lunetas, continuou suas pesquisas sobre a 

Steganographie. E em 25 de maio de 1581, elas supe- 

raram todas as suas esperansas. 

Um ser sobre-humano, ou ao menos nao-humanot| 
envolto em luz, apareceu-lhe. John E>ee chamou-o' anjo, 
para simplificar. Esse anjo deixou-lhe um espelho negro 
que existe ainda no Museu Britanico. £ um pedaco de 
antracite extremamente bem polido. O anjo lhe disse que 
olhando naquele cristal veria outros mundos e poderia 
ter contato com outras inteligencias nao-humanas, ideia 
singularmente moderna. Anotou as conversacoes que 
teve com seres nao-humanos^e um certo numero foi pif- 
blicado em 1659 por Merictasaubon, sob o titulo "A 
true and faithfull relation of what passed between Dr. 
John Dee and some spirits'*. 

« 

66 



Um cgrto numero de outras conversacoes e inedito 
e os manuscritos se encontram no Museu Britanico. 

A maior parte das notas tomadas por John Dee e 
dos_livros que preparava, foram. como veremos, des- 
truidos. Entretanto, restam-nos suficientes elementos 
para que possamos reconstituir a lingua que esses seres 
falavam. e que Dee chamou a lingua enoquiana., 

£ k primeira lingua sintetica, a prim eira lingua 
naojmm ana de que s e tern conh ecimento. £, em todo 
caso, uma lingua completa que possui um alfabeto e uma 
jramatica. Entre todos os textos em lingua enoquiana 
que nos restam, alguns concernem a ciencia matematica 
mais avanc ada_ do que ela o estava no tempo de John 
Dee_ 

A lingua enoquiana foi a base da doutrina secreta" 
da famosa sociedade de "Golden Dawn", no fim do 
seculo XIX. 

Dee percebeu logo que nao poderia lembrar-se das 
conyersacoes que tinha com os visitantes estrangeiros. 
Nenhum mecanismo para registrar a palavra existia. Se 
dispusesse de um fonografo ou de um magnetofone, o 
seu destino, e talvez^do mundo, estariam m udados. 

Infelizmente. Dee teve uma ideia que o levou a 
• rder^s e. Entretanto, tal ideia era perfeitamente racio- 
nal: enc ontrar alguem que olhasse o espelho magico _e 
mantivesse conversacoes com os extraterrestres. en- 
quantoqu e ele tomaria nota das conversas. Em prin- 
cipio, tal ideia era muito simples. Infel izmente, os dojs 
yisionarios que Dee recrutou, Barnabas Saul e Edward 
Talbotty revelaram-se como grandes canalhas. Desven- 
cilhou-se rapidamente de JSautf que parecia ser espiao 
asoldo de seus inimigos. Talbott, ao contrario, que tro- 
c ou seu nome pelo d eJCglly, ag arrou-se. Eagarrou-se 
tanto que arruino u D ee, seduziu sua jrmlh er, levou-o a 

67 



percorrer a Europa, sob o pretexto de fazer dele u m 
alquimi sta a _e acabou por estragar sua vida. Dee mor reu, 
Y malmente, em 16 08^airm nado e completamente desa - 
creditado._ j O _Rei James I, que sucedera a Elizabeth, 
recusou-lhe uma pensao e ele morreu na miseria. A unica 
consolacao que se pode ter e de pensar que Talbott. 
alias Kelly, morreu em fevereiro de 1595, tentando esca - 
par da prisao de Praga. Como era muito grande e gordo, 
a corda que confeccionara rompeu-se e ele quebrou os. 
bra cos e as pernas. Um justo fim a um dos mais sinis- 
tros _crapulas que a historia conheceiL 

Apesar da prote?ao de Elizabeth, Dee continuou 
a ser perseguido, seus manuscritos foram roubados assim 
como uma grande parte de suas anotacdes. 

Se estava na miseria, temos que reconhecer que* 
parcialmente a merecera. Com efeito, apos ter explicado 
a Rainha Elizabeth da Inglaterra que era alquimista, 
solicitara um amparo financeiro. Elizabeth da Inglaterra 
~ disse-lhe, muito judiciosamente, que se ele sabia fazer 
o ouro, nao precisava de subvencdes, pois teria suas 
proprias. Finalmente, John Dee foi obrigado a vender 
sua imensa biblioteca para viver e, de certo modo, 
morreu de fome. 

A historia reteve sobretudo os inverosslmeis episo- 

dios de suas aventuras com Kelly, que sao evidentemente 

pitorescos. Vimos aparecer ai, pela primeira vez, a troca 

de mulheres que, atualmente, e tao popular nos Estados 

^ Unidos. 

Mas essa estatuaria de Epinal obscureceu o verda- 
deiro problema, que e o da lingua enoquiana, a dos 
livros de John Dee que nunca chegaram a ser publi* 

cad os. 

Jacques Sadoul, em sua obra "O Tesouro dos Al- 
quimistas", nesta mesma colecao, conta muito bem a 

68 



parte propriamente alquimista das aventuras do Dr. Dee 
e de Kelly. Recomendo-o ao leitor. 

' Voltemos a linguagem enoquiana e ao que se se- 
guiu. E falemos primeiro da perseguigao que se abateu 
sobre John Dee, desd e qu e comgcou a dar aentender 
qu e public aria suas e ntre vistas com "anjos" nao-huma - 
nos.,Em J597^emjua ausencia, desconhecidos excitar 
ram a multidao a atacar sua casa. Quatro mil obras 
ra ras e cinco manuscritos desapareceram definitiva i 
mente, e_ jurmerosas ^ notas for am queimadas. Depois a 
perseguigao continuou apesar da protecao da Rainha da 
Inglaterra. Foi, ■finalmente, um homem alquebrado, de- 
sacreditado, como o seria mais tarde Madame Blavatsky, 
que morreu aos 81 anos de idade, em 1608, em Mor- 
tlake. Uma vez mais a conspiracao dos Homens de 
Negro parece ter vencido. 

A excelente enciclopedia inglesa "Man, Myth and 
Magic" observou muito oportunamente em seu artigo 
sobre John Dee: "Apesar de os documentos sobre a vida 
de John Dee serem abundantes, fez-se pouca coisa para 
explica-lo e interpreta-lo." Isto e verdadeiro. 

Ao contrario, as calunias contra Dee nao faltam. 
Nas epocas de supersticao afirmava-se que ele faria ma - 
gia negra. Em nossa epoca racionalista pretendeu-se que 
seria um espiao, que fazia alquimia e magia negra pa ra 
camuflar suas verdadeiras atividades, Tal tesel notada- 
mente a da enciclopedia inglesa que citamos acima. 

Entretanto, quando examinamos os fatos, vemos 
primeiro u mjimner a bem dotado, capaz~de trabalhar 22 
horas aq^dia ^leitor rapido. mat emfltico de. primeira or- 

dem. Ademais, ele construiu automatos, foi um especia - 
fi sta de optica e de suas apl icacoes militares, da quimica. 

Que_Jg i ingenuo e cre\iulo, _g_posslv el. A histori a 
de Kelly o mostr a. Mas que fez uma importante desco- 

69 



berta, a mais importance, talvez, da historia da hum a- 
nicfadernao esta totalmente excluso. Parece-me possiv el 
contudo^qu eJDee tenha .tornado contato, por telepatia 
ou" clanv iclenda^. ou outro rneio parapsicologico, co m 
seres nao-humanos. Era natural, dada a mentalidade 
da epoca, que el-e atribuisse a esses seres uma on gem 
angelica, em vez de faze-los vir de outro planeta qu_d e 
outra dimensap. Mas comunicou-se bastante com eles 
para aprender uma lingua nao-humana. 

A ideia de inventar uma lingua inteiramente nova 
nao pertencia a epoca de John Dee e nem de sua men- 
talidade. Foi muito depois que Wilkins inventou a pri- 
meira linguagem sintetica. A linguagem enoquiana e 
completa e nao se parece com nenhuma lingua humana. 

£ possivel, evidentemente ^jy ie Dee a tenha tirado. 
int egralmsnt e de seu subconsciente ou inconsciente__g fl- 
letrvo, m as tai nip otese e tao fantastica quantoa da 
comunicacao com seres extraterrestres. Infelizmente, a 
partir da intervene!© de Kelly, as conversacoes estao 
visivelmente truncadas. Kelly inventa-as e faz dizer 
aos anjos ou espiritos o que lhe convinha. E do ponto 
de vista de inteligencia e imaginacao Kelly era pouco 
dotado. Possui-se notas sobre uma conyersacao onde 
pede a um dos "espiritos" cem libras esterlinas durante 
quinze dias. 

Antes de conhecer Kelly, entretanto, Dee publicara 
um livr o estranho: A Monada Hieroglifica. Trabalhoj 
j jesse livfo sete anos, mas apos ter lido a Steganographie, 

terminou-o em doze dias. Um hornem deJEsti 




; 



temporaneo, SirWilliam Cecil declarou qu ej_J!Qs__s£- 
gredos que se encontram na A Mon ada Hieroglifica 
sao da maior importancia para, a se-guranga d o 'reino" .' 
Certamente, quer-se ligar tais ■ segredos a cripto- 
grafia, o que e bastante provavel. Mas quando se quer 



70 



relacionar tudo em John Dee com a hipotese de espio- 
nagem, isto me parece excessivo, pois os alquimistas e 
os magicos utilizavam muito a criptografia, sob as for- 
mas mais cdmplexas que nao eram usadas pelos espioes. 
Tenho tendencia a tomar Dee ao pe da letra e pensar 
que, por auto-hipnose produzida pelo seu espelho, ou 
por outras formas, ele ultrapassou • uma barreira entre 
os planetas ou entre, Outras dimensoes. 

Por desgr^ca, ele era, por propria confissao, despro- 
vido de todos os dons para-normais. Foi mal aceito pelos 
"mediuns" e isto terminou em desastre. 

Desastre alias provocado, explorado, multiplicado 
pelos "Superiores" que nao queriam que ele publicasse 
as claras o que disse em codigo na A Monada Hierp- 
glifica. A persegui9ao de Dee comecou em 1587 e so 
parou com sua morte. Exerceu-se alias tambem no con- 
tinente, onde o rei da Polonia e o Imperador Rodol- 
fo II foram advertidos contra Dee por mensagens 
"vindas dos espiritos", e onde, a 6 de maio de 1586, 
o nuncio apostolico entregou ao imperador um do- 
cumento acusando John Dee de necromancia. 

Foi um homem acovardado que chegou a Xngla- 

terra, renunciando a publicar, e que morreu como reitor 

do Colegio de Cristo, em Manchester, posto que teve 

de 1595 a 1605 e que, ao que parece, nao lhe deu satis- 

\ fagao. 

Resta ainda, a respeito desse posto T um problema 
nao_je §olvido. N a mes malep oca o tzar da Russia con - 
^d ou John Dee para it ate Moscou. a titulo de conse - 
lheiro cientifico. Ele deveria receber um salario de dua s 
mil libras esterlinas ao a ao ^quantia a lta correspondente 
a um pouco mais de duzentas mil libras hoje. com mo - 
radia •r£mcipe sca L e uma situacao que, de acordo com a 
carta do tzar, "faria dele um dos homens m ais impor- 

71 



t antes da Russia". Entretanto, John Dee recusou. Eliza- 
beth da Inglaterra teria se oposto? Teria ele recebldo 
ameacji s? 

Nao se sabe, os documentos sao vagos. Em todo 
caso ,'as diversas calunias segundo as quais ; Dee, comn le.- 
tamente dominado por Kelly, percorrera o continente es- 
poliando^r jncipes e ricos, uns apos outros, perdem sua 
razao de ser quando se considera esta recusa. Talvez 
temesse que o tzar o obrigaria a empregar segredos que 
havia descoberto e tornasse, assim, a Russia domina - 
do ra do mundo . 

O que quer que seja, Dee se apresenta a nos como 1 
um homem que recebeu visitas de seres nao-humanos, 
que aprendeu sua linguagem e procurou estabelecer com 
eles uma comunicagao regular. O caso e unico, sobre- 
tudo quando se trata de um homem do valor intelectual I 
de John Dee. ;; J 

Infelizmente, nao se pode deduzir nada, a partir 
do que Dee nos deixou, do lugar onde habitariam taTs 



seres, ou a natureza psiquica deles> Disse, simplesmente. 
que sao telepatas e que podem viaiar no passado e no 
lutura fe a pri mira vez, que eu saiba, que aparece a 
ideja de viaiar no tempo. 

Dee esperava aprender desses seres tudo sobre as 
feis naturais, tudo sobre o desenvolvimento futuro da 
matematica. Nao se tratava nem de necromancia nem de 
espiritualidade. Dee tinha a posicao de um sabio que 
queria aprender segredos de natureza essencialmente 
cientifica. Ele mesmo descreve-se, a todo instante, como 
filosofo matematico. J 

A maior parte das notas desapareceu no incendio 
de sua casa, outras foram destruidas em outras oportuni- 
dades e por pessoas diferentes. Restam-nos algumas alu- 
soes contidas na "A verdadeira relacao de Cas aubon' * 

72 



e em certas notas que ainda existem. Tais indicacoes 
sao extremamente curiosas. Dee afirma que a projecao 
deJMercator nao e senao u ma primeira aproximacao. 
Segundo ele a Tp.rra. ng<v£ pxatamente red onda, e seria. 
co mgosta de varias e sfe ras superpostas alinhadas ao 
longo de uma outra dimensao . 

Entre essas esferas haveria pontos, ou antes, super- 
ficies de comunicacao, e assim e que a Groenlandia se 
estende ajiinfi riito sobre outras terras alem da nossa. Por 
isso 1 jns iste Dee nas varias suplicas a Rainha Elizabeth, 
s eria bom que a Inglaterra se apoderasse da Groenlan- 
dia de maneira a tef em sua s maos a porta para outros 
mundos. ~~ . 

Outra indicacao: as matematicas nao estao senao 

no comeco e pode-se ir alem de Euclides, que Dee, lem- 

bramos, foi o primeiro a traduzir para o ingles. Dee teve 

razao ao afirmar isso, e as geometrias nao-euclidianas 

que apareceriam mais tarde; confirmam seu ponto de 
vista. J 

■ 

£ possivel, diz igualmente Dee, construir maquinas 
totalmente automaticas que fariam todo o trabalho do 
homem. Isto^^aeresc enta. ia foi realizado por volt a_de 
1585 — gostanamos muito de saber onde. 

Insiste, igualmente, na importancia dos numeros 
e na consideravel dificuldade da aritmetica superior. 
Uma vez mais, teve razao. A teoria dos numeros revelou- 
se como sendo o ramo mais dificil das matematicas, bem 
mais que a algebra ou a geometria. 

E muito importante, notou John Dee, estudar os*" 
sonhos que revelam, ao mesmo tempo, nosso mundo in- 
terior e mundos exteriores. Esta visao, a moda de Jung, 
e muito avancada para a sua epoca. £ essencial, notava 
ainda, esconder da mass a segredos que possam ser extre- 
mamente perigosos. Encontra-se, ainda ai, uma ideia 

73 



moderna. Como se encontra outra com relacao a esse 
tema no jornal particular de Dee: saber que se pode tirar 
do .conhecimento da natureza poderes perfeitamente na- 
tural s e ilimitados, mas que e necessario empregar muito 
dinheiro nessa pesquisa. 

Foi para ter esse dinheiro que procurou a protecao 
dos grandes, e a f abricagao do ouro. Nenhuma nem outra 
foram conseguidas. Se pudesse encontrar um mecenas, 
X o mundo estaria bem mudado. 

Entre todos os que encontrou, conheceu William 
Shakespeare (1564-1616)? Creio que sim. Um certo nu- 
mero de criticos shakespearianos estaO: acordes ao adn^i- 
tir que John Dee e o modelo do personagem Prospefo, 
na "Tempestade". Ao contrario, nao se encontrou, ain- 
da, que eu saiba, anti-shakespearianos bastante loucos 
para imaginar ser John Dee o autor das obras de Sha- 
kespeare. Entretanto, Dee me parece ser melhor candi- 
date a esse titulo que Francis Bacon. J 

. * Nao posso resistir ao prazer de citar esta teoria 
do humorista ingles A. A.- Milne. Segundo ele, Shakes- 
peare escreveu nao so suas proprias obras como tambem 
o "Novum Organum" para o conde de Francis Bacon, 
que era completamente iletrado! Tal teoria levantou em 
ira os baconianos, isto e, aqueles que pretendem ter sido 
Francis Bacon o autor das obras de Shakespeare. 

Passando para outra lenda, John Dee jamais tra- 
duziu o livro maldito "Necronomicon", de Abdul _A1- 
-Azred, pela simples razao que tal obra jamais existiu . 
Mas, como bem disse Lin Carter, se o "Necronomicon" 
tivesse existido, Dee seria, evidentemente, o__ unico 
homem a poder encontra-lo e traduzi-lo ! 

Infelizmente, esse "Necr on omicon" foi inventa do 
jnteiramente p or Loyecraft,jiue me conf irmou esse fato 
por carta. Q ufc lastima! 

74 



* 



/ A pedra negra, vinda de outro universe, apos ter 

I sido recolhida pelo Conde de Peterborough, depois por 
Horace Walpole, encontra-se, agora, no Museu Brita- 
nico. Este nao autoriza, nem que se possa usa-la, nem 
que se faca nela qualquer tipo de analise. Isto e lamen- 
tavel. Mas se as analises do carvao de que e feita essa 
pedra dessem um composto isotopo que nao o do carvao 
da Terra, provando que essa pedra teria origem fora 
dela, todo mundo ficaria fortemente embara5ado. 

A Monada Hkroglifica de Dee pode ser encon- 
trada ou obtida por fotocopia. Mas sem as chaves que 
correspondem aos divers os codigos da obra, e sem os 
outros manuscritos de John Dee queimados em Mor.t- 
lake ou destruidos sob as ordens de James I, ela nao 
pode servir para grande coisa. Entretanto, a historia do 
Dr. John Dee nao acabou e dois capitulos ser-me-ao 
necessarios para continua-la. 



X 



75 



6 



O MANUSCRITO VOYNICH 



O Dr. John Dee era urn colecionador encarnicado 
d e manuscntos egtr an^Q ^ Foi ele que, entre 1584 e 
T5 88, ofereceu ao Imperador Rodolfo II o estranho 
manuscrito Voynich,. 

A historia desse manuscrito foi contada muitas 
vezes, e em particular por mim mesmo no "O Homem 
Eterno" 1 e no "Os Extraterrestres na Historia". 2 Penso, 
entretanto, que sera util conta-la desde o inicio. 

O Duque de Northumberland havia pilhado unf 
grande numero de mosteiros sob o reinado de Henrique 
VIII. Num deles encontrou um manuscrito que sua fami- 
lia comunicou a John Dee, cujo interesse por problemas 
estranhos e textos misteriosos era bem conhecido. 
Segundo os documentos encontrados, tal manuscrito 
havia sido escrito por Roger Bacon. Roger Bacon (1214- 
-1294) era considerado pela posteridade como um 
grande magico. Com efeito, ele se interessava sobretudo 
pelo que chamamos experimentacao cientifica, da qual 
foi um dos pioneiros. J 

Predisse o microscopio e o telescopio, os navios 
com propulsao a motores, os a utomoveis e as maq uinas 
voadoras. 



1 Ediijao Gallimard (Paris). 

2 Nesta mesma Colegao, edigao HEMUS. 



77 






Interessava-se, igualmente, pela criptografia da 
qual falou na "Epistola sobre as obras secretas da arte 
e a nulidade da magia". Dee podia p ensar, perfeita - 
mente, que urn tal manuscrito inedito e cifrado po r 
Roger Bacon podia conter espantosos segredos. Seu 
filho, Dr. Arthur Dee, falando da vida de John Dee 
°£m fraga, cita " urn livro contendo um texto incompreen^ 
give! que meu pai tentou em vSo decifrar". Dee ofereceu, 
b manuscrito ao Imperador Rodolfo. Apos multiplas/ 
atribulacoes, o documento parou no livreiro Hans IL 
Kraus, de Nova Iorque T onde foi vendido em 1962,. pela 
modica soma de 160.000 dolares. Nao € caro se tal 
livro contem todos os segredos do mundo, e muito caro 
se resumir, simplesmente, os conhecimentos do seculo 
XIII. 

Falamos ja do papiro egipcio que devia fornecer r 
em principio, "todos os segredos das trevas", e que indi- 
cava, unicamente, o metodo de resolucao de equacoes 
do primeiro grau. E preciso desconfiar, mesmo do ma- 
nuscrito Voynich. Penso, de minha parte, que esse 
manuscrito Voynich serve como bom exemplo de livrq 
maldlto que escapa a destruicao, unicamente porque nao 
se c hega a decifra-lo, e porque nao constitui, por iss o, 
um perigo imediato. 

Aparece em forma de brochura de 15 por 27 cm, 
sem capa e, segundo a pagina§ao, faltando 28 paginas. 
O texto e colorido em azul, amarelo, vermelho, marrom 
e verde. Os desenhos representam mulheres nuas, de pe- 
queno talhe, diagramas (astronomicos?) e quatrocentas 
plantas imaginarias. A escrita parece uma escrita medie- 
val corrente. O exame grafologico permite concluir que 
o escriba conhecia a lingua que utilizava: copiou-a de 
maneira corrente e nao letra por letra. 

78 



Q codigo empreg adp parece simp les, mas nao se, 
encontra maneira de decifra-lo. 

O manuscrito apareceu em 19 de agosto de 1666, 
quando o reitor da Universidade de Praga, Johannes 
Marcus Marci, enviou-o ao celebre jesuita Athanase 
Kircher que era, entre outras coisas, especialista em 
criptografia e em hieroglifos egipcios, e em continentes 
desaparecidos. Era o homem a quern se deveria ter en - 
yiado o texto, re ahrie nte, mas g le_ nao eonseguiu _decij 
fra-lo. 

Q manuscrito foi, em seguida, estudado pelo sabio 
tcheco J oha nnes" de Te penecz, fav orito de Rodolfo II . 
Encontra -se jjrna assinatura de"Tep e necz na margemT 
mas tambem este nao decifrou o manuscrito. Kircher, 



tendo_ malogrado, guardou o m a nuscrito numa biblio- 
teca jesuita. Em 1912, urn livreiro chamado Wilfred 
Voynich comprou o manuscrito da escola jesuita de 
Mondragone, em Frascati, Italia. Levou-o aos Estados 
Unidos, onde muitos especialistas tentaram descobrir seu 
segredo. Nao chegaram a identificar a maior parte das 
plantas. Nos diagramas astronomicos, foram identifica- 

das as cohstelacdes de Aldebaran e Hyades. o que nao. 
mudou muita coisa. A opiniao geral e de que o texto 

esta cifrado, mas numa linguagem desconhecida. Os fa- 
mosos arquivos do Vaticano fora m aber tos para auxiliar 
a procura. Nada se encontrou. 

Numerosas fotografias cireularam, foram remeti- 
das a grandes especialistas. Nada. 

Em 1919, fotocopias chegaram a William Romai- 
ne Newbold, deao da Universidade da Pensilvania. New- 
bold tinha, entao, 54 anos. Era especialista em linguis- 
tica e criptografia. 

Em 1920, Franklin Roosevelt, entao assistente no 
Ministerio da Marinha, agradece-lhe por decifrar uma 

79 



correspondencia entre espioes, cujo segredo nao pudera 
ser percebido por nenhum dos escritorios especializa- 
dos de Washington. Newbold interessava-se, mais e 
mais, pela lenda do Graal e pelo gnosticismo. Era visi- 
velmente um homem de grande cultura, capaz, se alguem 
no mundo fosse capaz, de decifrar o manuscrito Voy- 
nich. 

Trabalhou durante dois anos. Pretendeu ter encon- 
trado uma chave, depois te-la perdido no curso das pes- 
quisas, o que e singular. Em 1921 comecou a fazer con- 
ferencias sobre suas descobertas. O menos que se pode 
dizer de tais conferencias e que foram sensacionais. 

Segundo Newbold, Roger Bacon sabia que a ne- 

bulosa de Andromeda era uma galaxia como a nossa. 

Sempre segundo ele, Bacon conhecia a estrutura da 

celula e a formacao do embriao a partir do esperma 

X e do ovulo. A sensa5ao era mundial. 

Nao somente no meio cientifico, mas entre o grande 
publico. Uma mulher atravessou todo o continente ame- 
ricano para suplicar a Newbold que expulsasse o demo- 
nio que a perseguia, utilizando as formulas de Roger 
Bacon. 

Ha tambem objegoes. Nao se compreende o metodo 
de Newbold, tem-se a impressao de que ele caminhava 
para tras, nao se conseguem novas mensagens utilizando 
seu metodo. Ora, e evidente que um sistema de cripto- 
grafia deveria funcionar nos dois sentidos. Se se possui 
um codigo, dever-se-ia decifrar mensagens que estao 
nesse codigo, mas dever-se-ia, tambem, traduzir nesse/ 
codigo mensagens em claro. A sensagao continuou, mas 
Newbold tornava-se cada vez mais vago, menos acessi- 
vel. Morreu em 1926. Seu colega e amigo, Roland 
Grubb Kent, publicou seus trabalhos. O entusiasmo do 
mundo foi consideravel. 

80 



- 



Depois, uma contra-ofensiva comegou, conduzida , 
em particular pelo Padre Manly. Nao estava de acordo 
com a decifracao de Newbold. Pensava que certos signos 
auxiliares eram deformacoes do papel. E bastante de- 
pressa nao se falou mais nesse manuscrito. 

£ entao que me separo de numerosos eruditos que 
estudaram a questao, e especialmente David Kahn, cujo 
admiravel livro "The Code-Breakers" e a biblia moderna 
dos peritos em criptografia. Aproveito a ocasiao para 
agradecer a David Kahn ter citado uma de minhas aven- 
turas pessoais no domlnio da criptografia. Tendo, du- 
rante a ocupacao alema, necessidade de cinco tipos gra- 
ficos para terminar um trabalho, e encontrando-me a 
frente de jovens que fumavam como bombeiros, e que 
haviam sido privados de sua droga, acrescentei em 
minha mensagem as letras T A B A C. Londres com- 
preendeu e 150 quilos de tabaco cairam sobre nossas 
cabecas, de para-quedas, logo na lua seguinte. 

A hipotese que vou emitir e pessoal. Parece-me, 
pelo menos, que nunca vi em nenhum lugar e que, igual- 
mente, ja li tudo, sobre o manuscrito Voynich. Para 
mim, Newbold apagou a pista consciente me nte J __pois 
t eria reeebido ame a^TTinha relag oe s muitoestraahas 
comj odos os tipos dese itas. Sabia bastante para engen- 
der que certas organ iza coes_secretas sao realmente per i^ 
gosas^ E estou persuadido que, a partir de 19237foi 
ameacado, e, temendo graves represalias, d eu um_BaasQ 
para_tras. Dissimulou o essencial deseu metodo, e sua_ 
chave pr in cipal nunca foi encontrad a^ 

Antes de examinarmos o que penso sobre o con- 
teudo do manuscrito de Voynich, e preciso primeiro re- 
sumir, rapidamente, as tentativas de decifracao poste 
riores a Newbold. A maior parte sao ridiculas. Mas, a 






rSu-psef rwjansro august?) rvn omh brag* 

Regbiro K 8 -- - - — 



partirde 1944, urn grande especialista em criptografia. 
militar, William F. Friedman, morto em 1970, ocupou - 
se dessa questao: Utilizou um ordenador do tipo R. C. A. 
' 301. Segundo Friedman, nao so a mensagem e cifrada, 
mas esta numa linguagem totalmente artificial. Como _a 
lingua enoqui ana de J ohn Dee. E uma hipotese interes- 
sante que, talvez, sejiTum diaprovada. 

Apos a morte de ^pynich em 1930, os herdeiros de 
sua mulher venderam o manuscrito a livraria Kraus. 
Esta disponivel por 160.000 dolares. A meu ver, s e o 
man uscrito realmente interessou John Dee 6 porqus ele, 
recon heceu. como na Steganograohie de Tritheme, o c&- 
digo de uma linguagem que ele conhecia e que nao ej a» 
talvez, uma linguagem humana. Roger Bacon, como ou- 
trosant es e depois dele, teve aces so a nm saber que pro- 
vmha, seja de uma civilizacao desaparecida, seja de 
outras inteligencias. Ainda uma vez, alguns pensaram, 
e pensam ainda, que uma revelacao que ve nha muito 
cedo, relativa a segredos de uma ciencia superior a nos- 
s a, destruiria nossa civilizacao. 

ffesse caso. perg untar je-a. por q ue o manuscrito 
de Vovnich nao foi destruido ? A meu ver, percebeu-se 
muito tarde sua existencia, por volta de 1920. e entao 
ja circulava tal numer o de fotografi as do texto que _serla 
Impossivel destrui-las todas. fTlTprimeira vez que~a 
fotografia intervemlium caso de livros ma lditos, e.p ar 
rece, certamente, que elaj/ai torna r diticil, pos terior- 
Sente, a taT3a~a^sHome^Qc Negro. Uma vez"as foto ; 
g ratia 



w silenciar Newbold e is to sem despertar suspeitas. 

Por isso ele nao sofreu nenhum "acidente" el 
morreu naturalmente. Mas a campanha que visava desa- | 
credita-lo e produzir tradu§6es ridiculas do manuscrito [ 
foi muito bem organizada. J 



82 



1 

i. 



s 

* 



Notemos, de passagem, para pessoas que se interes- | 
sam = pelo planejamento familiar que uma dessas falsas 
traducoes, a do Dr. Leonell C. Strong, extraiu do ma- 
nuscrito Voynich a formula publicada de uma pilula 
anticoncepcional. Mas o verdadeiro problema perma- 
nece. — 

Um dos objetivos da revista americana INFO, con- 
sagrada as informacoes de dificeis solucoes, consiste 
na decifracao do manuscrito Voynich. Ate hoje, tal 
objetivo nao progrediu muito. Parece-me que seria con- 
veniente entregar-se mais ao manuscrito Voynich, e me- 
nos a outros problemas desse genero. Ouer se tratasse 
dos manuscritos de Tritheme ou dos escritos incompletos 
de John Dee. No caso do manuscrito Voynich par ege, 
tratar-se de um texto proibido completo Entre as pou - 
cas f rases que se enco nt ram nas pubiicacoes de New- 
told,~uma faz, particularmente, sonharJ ^RogeTBacon 
quern fa la: "Vi nUm espelho concavo uma estrela e m 
foTmT ge^escaravelho. E lase_e ncontra entre o umbigo 
' de Pegaso7o_busto de A ndromeda e a cabe§a de Cassio- 
peia. 

goL exatamente ali que^se descobriu a nebulosa de 
Andromeda, a primeira g rande nebulos a extragalatica " 
q ue se conheceu. A prova foi anunciada a p os a publi- 
cayao de Newbold que nao pode ter sido influenciado 
em sua interpretacao do texto por um f ato q ue ainda nao 
fora descoberto. 

Outras frases de Newbold fazem alusao ao "Se- 
gredo^das estrelas novas". ~ ~ 

Se realmente o manuscrito Vovnich contem os se~ 



gredos das novas e dos quasars, seria preferivel qu e fi- 
casse ind e eif ravel, pois uma fonte de energia^ uperior k 
da bomba de hidro genio_e sufitientemente sim ples de 
manejar para que umliblnem do seculo XIII possa com- 

83 



% 

> 



p reende-la, constituiria exatamente um tipo jl g segredo 
que nossa civilizacao nao tern necessidade de conhecer. 
Sobre yjyemos, penosamente, porque foi possivel conlg r 
a bomba fa. Se e possivel liber ar energias superior es, e. 
melhor que nao saibamos como, nao ainda. Senao, nossq 
planeta desaparec eria bem mais depressa na chama bre- 
ve e brilhante de uma supernova. 

A decifragao do manuscrito Voynich deveria se r, 
a meu ver. sejuid a^ dg^uma censura seria antes~desua 
publicacao. Mas quern aplicaria tal censura? Como diz 
opro yerbio latino, quern giiardara os guardiaesT^ Fex- 
gunto-me se nunca se submeteu fotocopia do manus - 
crito Voynich a um grande intuitivo do tipojde Edgar 
Cayc e, que poderia traduzi-lo sem usar o laborioso pro - 
c esso de decifracao. Seria suficiente que ele encontrasse 
a chave, e os ordenadores fariam o resto. Pode-se en- 
contrar uma foto de uma pagina do manuscrito Voynich, 
na pagina 855 do livro de David Kahn, ja citado, edicao 
inglesa Weidenfeld e Nicholson. Nao se pode, evidente- 
mente, deduzir dela o que quer que seja. Simplesmente, 
fica-se espantado com o niimero de repeticoes. Tais re- 
peticoes foram alias notadas por inumeros especialistas 
de criptografia que tiraram dai conclusoes contradito- 
rias. 

Mas o simples fato de se poder encontrar tais foto- 
grafias represents ja uma vitoria contra os Homens de 
Negro. E seria desejavel que qualq uer j)essoa que tenha 



um documento desse tipo o difundjsse, por fotografia, 
de maneira a mais ampla possivel, evitando, dessa for- 
ma, sua destruicao. Se a franco-maconaria europe ia 
to masse tal precaucao antes da g uerra de 1939-1945, 
d ocumentos unicos nao teriam sido destruidos. Tal des- 
truicao de documentos macons foi efetuada por coman- 
dos especiais. Cada u m desses co mandos era dirigido por 

84 




um nazista assistido por franceses. 
daos do pais onde a destruiqao se efetuava. Tais comari- 
dos eram muito bem treinados. E e de se notar que os 
franceses que deles participaram foram beneficiados 
com imunidades bem estranhas durante a depuracao que 
se seguiu a libertacao de 1944. Imunidade singular com 
efeito, nao se aplicando a nao ser a esse tipo de colabo- 
ragao. Enquanto colabora dores^exclusi vamente intelec- 
tuais, cbmo o poeta Robert Brasillach, for a m duramente 
eastigados, especial istas da acao antimaconica nao fo- 
ram tocados. 

Voltando ao manuscrito Voyaich, tenho excelen- 
tes razoes para crer que uma versao desse manuscrito 
foi destruida. Com efeito, Roger Bacon tinha em sua 
posse um documento que.' segundo ele r p ertencera ao 
KeTSalo mao a mn tinha as chaves de grandes misterios. 
Esse livro, const itu ido de rolos de pergaminho, foi quei- 
mado em 1350 por ordem do Papa Inocencio VL_ A_ 
razao que se deu foi que t a l documen jo_c ontinha *um 
metodo para invocar de monios. 

Podemos substituir demonio por anjo, e anjo por 
ex traterrestre , e compreender entao muito bem a raz ap 
dessa destruicao . £ provavel que se a igreja catolica, em 
1350, achasse o manuscrito Voynich, te-lo-ia queimado. 

Mas sabemos, agora, que estava escondido numa 
abadia, e que so com a pilhagem dessa abadia pelo 
Duque de Northumberland e que o manuscrito reapare- 
ceu, e foi levado ao conhecimento de John Dee. Se- 
gundo algumas notas de Roger B acon, n dnp.nTr if>n,tr» 
que ele tinha e que provinha de S alomao, nao estava em 
codigo mas em escrita hebraica. RogerJ Bacon notoiL 
que o documento tratava rna is de f ilosof ia natural_que 
de magia. " \ 

85 



Bacon escreveu tambem: "Aquele que escreve a 
respeito de segredos, de forma nao escondida ao vulgo, 
e um louco perigoso." Escreveu em 1250 mais ou me- 
nos. Explicou em seguida esse metodo de escrita secreta 
que comporta a invencao de letras que nao existem em 
•nenhum alfabeto. Provavelmente foi o que fez para tra- 
duzir em codigo o que se poderia chamar de documento 
Salomao, mas que e mais comodo chamar manuscrito 
Voynich. 

A lingua basica desse manuscfito e. provavelmente . 
a mesma lingua enoqu iana que John Dee aprendeu. 
atr ayes de seu espelho negro, e da qual ouviremos falaf 
muito no capitulo seguinte, sobre a ordem da Golden 
Dawn. 

• Encontram-se, ja, tracos desse livro em Flavio Jo- 
sef o. £ preciso nao confundi-lo com a . "Cla yicula de 
Salomao" ou com "Testamento de Salomao", oucom _Q_ 
JLem e geton". Todas essas compilacoes datam do seculo 
XVI e algumas do seculo XVIII. 

A maior parte 6 totalmente desprovida de inte-H 
resse e da simplesmente listas de demonios. J 

O "Livro de Salomao", que pertenceu a Roger Ba- 
' con e foi queimado em 1350, era, certamente. outra 
colsa. Se r ia essa obra, assim como algumas outras "f an- 
tes in suspeitadas e interditas" como disse L ovecraft, g ue 
Roger Bacon tradu ziu numa l ingua descbnriecida, e que 
em seguida codificou. O infeliz Newbold, provavelmente 
ameacado e_ater Torizado T teve que mven tar metodos de 
decifracao e manter o mito de que o texlo est ava escritq 
em latim, apesaTde nao esta rem fatim, certamente^ 
mas em lingua enoquiana. 

Como Bacon obteve esse documento? Nao se pode, 
por_pja,^sen ao sonhar .ej iagjnar que OS Homens de Ne- 
gro nao constituem um gTupo monolitico, mas que entre 

86 



eles alguns querem revelar os segredos, e o conseguem 
ao menos parcialmente. Pode-se imagmar, tambem, que 
esses Homens de Negro formam uma organizacao terres- 
trelo calizada, que s eres extraterre stres por vezes apare- 



c em para auxilia-los ^ ET gostana, a proposito, de ch amar 
a atencao para o caso de Giordano Bruno. 

Os racionalistas ligaram-se a esse martir. e fizeram 
dele u rn homem de ciencia, vitima de tendencias as mais 
reacionarias da Igreja. Nada mais f also. Giordano Bruno 
era_princi palmente um magico apai x onado pela magia_$ 
g raticante~de mag ia^ Com parou a magia -a uma espada 
q ue, entre as maosde um^Eomenv direito^ podia fazer 
mi jagres, e insistiu sobre Q ^PgEgL das tnatem at icas na 
m agia._ Para ele, a ex i stenc iajd eoultros p lanetase Trota? 
cao da Terra ao redor do Sol constitui uma parte secun- 
daria de sua obra que compreende sessenta e um livros, 
a maior parte de magia. A e xistencia de outros planet as 
nabitados f az, para ele, par te da magia._Porque sabia 
mmtos obre isso foi que, atraido para Veneza por um 
age ntelTa Inquisigao de nome Giovanno Mocenigcyf oi^ 
entregue aos seus chefe s^ 

Porque cria na magia e na existencia de habitantes"] 
em outros planetas alem da Terra, Giordano Bruno foi \ 
julgado herege impertinente e persistente, e queimado 
em Roma, no Campo dei Fiori, em 17 de fevereiro de 
1600. Viveu na Inglaterra de 1583 a 1585, e nao esta 
excluida a hipotese de ter conhecido os trabalhos de 
John Dee e o manuscrito Voynich. Segundo t'odos OS 
registros que temos de Giordano Bruno, ele era urn 
homem confiante e imprudente. Visivelmente, ele falou 
demais. - 



8*7 






O MANUSCRITO MATHERS 



O jnanuscrito Mathers, como a Steganographie e o- 
manuscrito Voynich, esta em codigo. Mas tem o bom, 
gosto de estar em codigo de dupla transposicao relativa- 
mente simples, o que permitiu sua liecifracao rapida.- 
mente. Vi muitas folhas dessa decif racao que me pareceu. 
correta. Es sa decif ragao mostra_ a aventura oculta mais 
^xtraordinaria_ dg_riossa_^o ca, a da Ordem da Golden, 
Dawn. 

Mostra. tambem, a redacao de um conjunto de 
do cumeritos magicos. logo malditos. que, pelo que seL 
nunca foi publicado. mas que ja provocou muitas catas-, 
Jrofes^ 

Comecemos do initio. 

Um clerigo ingles, Rev. A. F. A. Woodford, passea- 
va em Londres, ao longo da Farrington Street. Entrou 
na loja de um vendedor de livros de ocasiao e'ai encon- 
trou manuscritos cifrados e uma carta em alemao. IstO' 
se passou em 1880. O Rev. Woodford comecou lendo a 
carta em alemao. Essa carta dizia que aquele que deci- 
frasse o manuscrito podia comunicar-se com a sociedade- 
secreta alema ^Sapien s, Donabitur Astris" (S. D. A.), 
atraves de uma mulher, Anna Sprengel. Outras informa- 

89- 



goes lhe seriam, eritao, comunicadas , se ele fosse digno 
delas. 

O Rev. Woodford, ma$on e Ros^Cruz, falou 'de 
sua descbberta a Hois de seus amigos, oTJr. Woodman 
e o Dr. Winn Westcott, todos os dois eruditos eminentes 
e alem do mais cabalistas. Ocupavam postos elevados na 
maconaria. O Dr. Winn Westcott era "coroner", posto 
juridico muito conhecido dos leitores de romances poli- 
ciais iagieses. Um "coroner" desempenha ao mesmo tem- 
po o cargo de medico legista e de juiz de instrucao. Em 
caso de morte suspeita, reunia um juri que pronunciava 
um veredicto, podendo, eventualmente, haver interven- 
ed da justica e da policia. Um desses seus veredictos foi 
celebre no seculo XIX; o juri concluira que um desco- 
nhecido encontrado morto num parque londrino havia 
sido assassinado "por pessoas ou coisas desconheoidas". 
Seria bom poder afirmar que foi o Dr. Westcott quern 
redigiu esse veredicto, e de forma verdadeiramente es- 
tranha. Nao podemos, no entanto, provar isso, mas vere- 
mos, mais tarde, que o Dr. Westcott perdeu seu posto 
X em circunstancias singulares. 

Em todo caso, Woodman e Westcott ouviram falar 
da " Sapiens Donabitur Astris". Trata-se de uma socie- 
dade secreta alema composta so b retudo de alquimistas. 
Essa sociedade, gragas aos medTcamentos de alquimia, 
salvou a vida de Goethe qu e os medicos comuns haviam 
des istido d e' curar. 

O f ato e perfeitamente conhecido e a Universidade 
de Oxford publicou um livro: "Goethe, o Alquimista". 
A SDA parece existir ainda em nossos dias; estava ligada 
aos "circulos cosmicos" organizados por Stephan Geor- 
ge, que combateram Hitler. O Conde von . Stauf f enberg, 
organizador do atentado de 20 de julho de 1944, fazia 
parte desses circulos cosmicos. O ultimo representante 

' 90 ^ 



conhecido da SDA foi o Barao Alexander von Bernus, 
morto recent emente. • 

Westcott e Woodman decifraram facilmente o ma- 
niiscrito e escreveram a Anna Sprengel. Receberam ins- 
trucoes para prosseguir nos trabalhos. Foram auxilia- 
dos por urn outro macon, urn personagem indetermi- 
nado, de nome Samuel Liddell Mathers, casado com a 
irma de Henri Bergson. Era urn homem de cultura es- 
pantosa. mas de ideias muito vagas. Redigiu o conjunto 
inedito dos "rituais Mathers". Tais rituais se compoem 
de extratos do documento alemao original, de outros 
documentos de posse de Mathers, e mensagens recebidas 
pela Sr.a Mathers, pela clarividencia. O conjunto foi 
submetido a SDA na Alemanha que autorizou o pe- 
queno grupo ingles a fundar uma sociedade oculta ex- 
terior, isto e, aberta. A sociedade chamou-se "Order of 
the Golden Dawn in the outer": Ordem da Aurora Dou- 
rada no Exterior. Em 1.° de marco de 1888, ess a autori- 
zacao foi dada a Woodman, Mac Gregor, Mathers e 
ao Dr. Westcott. Samuel Lindell Mathers acrescenta ao 
seu nome o titulo de Conde de Mac Gregor, e anuncia 
que e a reencarnacao de uma boa meia duzia de nobres 
X e de magicos„ escoceses. 

Em 1889, o nascimento dessa sociedade foi anun- 
ciado oficialmente. £ interessante notar que foi a unica 
vez no seculo XIX, assim como no seculo XX, que uma 
autoridade esoterica qualificada, a SDA, da uma auto- 
rizagao para fundar uma sociedade exterior. Tal autori- 
zacao nunca for dada novamente, e nao aconselho nin- 
guemj^ Jancar uma sociedade desse genero sem autori^ 
zacao: isto sena atrair os mais serios mimigos. 

Apos a morte, ao que tudo indica natural, do Dr. 
Woodman, a Ordem foi dirigida por Westcott e Ma- 
thers. Em 1897, Westcott teve a infelicidade de esque- 

91 



| 

cer, dentro de um taxi, documentos internos sobre a 
Ordem. Tais documentos aeabaram na policia que nao 
achou recomendavel um "coroner" se ocu'par de tais ati- 
yidades, pois poderia ficar tentado a utilizar os cadave- 
res que sao postos a sua disposigao, para operacoes de 
riecromancia. Westcott demitiu-se da Ordem, achando 
is to preferivel. 

A sociedade comegou a se desenvolver e atraiu 
homens de inteligencia e cultura indiscutiveis. Citemos 
Yeats ^ue deveria obter o. premio Nobel de Literatura. 
Arthur Machen, Algernon Blackwood, Sax Rohmer. o 
historiador A. E Waite, a.celebre atriz Florence Fart 
e outros". Os melhores espiritos da epoca, na Inglaterra, 
faziam parte da Golden Dawn/O centro ficava em Lon= 
dres. Seu chefe, o Imperador, era W. B. Yeats. 

Havia outros centros na provincia inglesa, e em 
Paris, onde Mathers passa a residir, de preferencia. 

A ordem tern dois niveis: 

'■ — o primeiro, dividido em nove degraus, onde se 1 
ensina; / 

— o segundo, sem degraus nem graus, onde se 
pesquisa. ' 

O ensinamento diz respeito a linguagem enoquiana 
de John Dee, cuja traducao e dada desde o primeiro 
grau d o primeiro_nivel. In felizmente, tais tradug oes 
foram destruidas ou escondiHas. Nao resta senao textos 
em enoquiano, particularmente um texto que permi te 
ficar invisivel: "O l sonuf vaorsag goho ia d baltTlonsh 
cal z vonpho. Sobra Z-ol ror I ta n jgps J "]feto jao se 
par ece com nenhuma lingua conhecida. Parece que se . 
s e recita corretamente tal ritual, e-se envolto por uma, 
^elip soide de invisibilidade a uma distancia media de. 
_ 45 centimetros do corpo.\Nao vejo ob jecao. 

92 \ 






P ensinamento era em lingua enoquiana; sobre 
ajq uimia, e sobretudo sobre a dominacao de si mesmo. 

Desde o segundo degrau do primeiro nivel, o can- 
didato era tratado de maneira a eliminar todos os seus 
males mentais e todas as suas fraquezas. Conhecem-se 
wis cinqiienta tratamentos desse tipo que parecem ter 
bons efeitos. 

Durante cinco ou seis anos, a Ordem deu satisfa- 
coes a todo mundo, e todos que dela participavam di- 
, zem que mentalmente ficaram enriquecidos. Depois Ma- 
y thers se pos a fazer das suas. Em 29 de outubro de 
1896 publicou um manifesto afirmando que existia um 
terceiro nivel na Ordem. O terceiro nivel era, segundo 
ele, constituido de seres sobre-humanos, dos quais dizia: 

"Creio, no que me concerne, que eles sao humanos 
e que vivem nesta terra. Mas possuem espantosos pode- 
res sobre-humanos. Quando os encontro em lugares fre- 
qiientados, nada em suas aparencias ou vestimentas os 
separa do homem comum, salvo a sensaeao de saude 
transceridente- e de vigor fisico, 

"Em outros termos, a aparencia fisica que deve 

dar, segundo a tradicao, a posse do elixir da longa yida. 

Ao contrario, quando os encontro em lugares inacessi- 

veis ao exterior, trajam roupas simbolicas e as insignias 

X de suas ordens." 

Evidentemente, pode-se pensar diversamente quan- 
tQ_ao __conte u do desse manifesto, e perceber a loucura 
de Mathers, mas e preciso pensar que ele talvez nao 
estivesse mentindo. Tudo o que se pode di zer e que 
seria muito melhor que ele se calasse. De um lado, foi 
a par t ir dai sujeito a uma perseguigao que o conduzhT 
a jnorte erri^l917^ I) e outro lado. seu man if esto atraiu 
pessoas tjouco recomendaveis a sociedade, como o cel e- 
bre Aleister Crowley. '• 

93 



cer, dentro de um taxi, documentos internos sobre a 
Ordem. Tais documentos acabaram na policia que nao 
achou recomendavel um "coroner" se ocu'par de tais ati- 
vidades, pois poderia ficar tentado a utilizar os cadave- 
res que sao postos a sua disposigao, para operacoes de 
riecromancia. Westcott demitiu-se da Ordem, achando 
isto preferivel. . 

A sociedade comecou a se desenvolver e atraiu. 
homens de inteligencia e cultura indiscutiveis . Citemos 
Yeats ^ue deveria obter o. premio Nobel de Literatura, 
ArthuTMachen, Algernon Blackwood, Sax Rohmer, o 
historiador A. E. Waite, a.celebre atriz Florence Farr, 
e outros. Qs melhores espiritos da epoca, na Inglaterra, 
faziamparte da Golden Dawn. O centro ficava em Lon^ 
dres. Seu chefe, o Imperador. 'era W. B. Yeats. 

Havia outros centros na provincia inglesa, e em 
Paris, onde Mathers pass a a residir, de preferencia. 

A ordem tern dois niveis: 

• 

'• — o primeiro, dividido em nove degraus, onde se H 
ensina; ' 

— o segundo, sem degraus nem graus, onde se 
pesquisa. ' 

O ensinamento diz respeito a linguagem enoquiana 
de John Dee, cuja traducao e dada desde o primeiro 
grau d o primeiro__ nivel. In f elizmente, tais tradug oes 
foram destruidas ou escondidas. Nao resta senao textos 
em enoquiano, particularmente um texto que permi te 
ficar invisivel: "O l sonuf vaorsag ^ohoja d bait, lonsh 
cal z vonpho. Sobra Z-olror I ta n azps." Isto nao se 
"par ece com nenhuma lingua conhecida. Parece que se . 
's e recita corretamente tal ritual, e-se envolto por uma, 
elip soide de invisibilidade a uma distancia media de\„ 
_ 45 centimetros do corpo.\Kao vej o objecao. 

92 \ 



O ensinamento era em lingua enoquiana:_so bre_ 
ajg uimia, e sobretudo sobre a dominacao de si mesmo. 

Desde o segundo degrau do primeiro nivel, o can-""| 
didato era tratado de maneira a eliminar todos os seus 
males mentais e todas as suas fraquezas. Conhecem-se i 
uns cinqiienta tratamentos desse tipo que parecem ter / 
bons efeitos. -J 

Durante cinco ou seis anos, a Ordem deu satisfa- 
$6es a todo mundo, e todos que dela participavam di- 
zem que mentalmente ficaram enriquecidos. Depois Ma- 
y thers se pos a fazer das suas. Em 29 de outubro de 
1896 publicou um manifesto afirmando que existia um 
terceiro nivel na Ordem. O terceiro nivel era, segundo 
ele, constituido de seres sobre-humanos, dos quais dizia: 

"Creio, no que me concerne, que eles sao humanos 
e que vivem nesta terra. Mas possuem espantosos pode- 
res sobre-humanos. Quando os encontro em lug ares fre- 
qiientados, nada em suas aparencias ou vestimentas os 
separa do homem comum, salvo a sensagao de saude 
trans ceiidente- e de vigor fisico. 

"Em outros termos, a aparencia fisica que deve 

dar, segundo a tradicao, a posse do elixir da longa ,vida. 

Ao contrario, quando os encontro em lugares inacessi- 

veis ao exterior, trajam roupas simbolicas e as insignias 

X de suas ordens." 

Evidentemente, pode-se pensar diversamente quan : 
tQ_ao _conte u do desse manifesto, e perceber a loucura 
de Mathers, mas e preciso pensar que ele talvez nao 
e stivesse mentindo. Tudo o que se pode dizer e que 
seria muito melhor que ele se calasse. De um lado, foi 
a partir dai sujeito a uma perseguigao que o conduzhT 
a jnorte em 1917. De outro lado. seu manifesto atraiu 
pessoas "pouco recomehdaveis a sociedade, como o cel e_- 
bre Aleister Crowley. ! 

93 



iPersonagem sinistro e sem duvida megalomaniacoTl 
em todo caso delirante, Crowley apareceu um belo' diaj 
de 1900 na Loja de Londres. Trazia uma mascara ne- 
gra e um costume escoces, Declarou ser enviado de,\ 
Mathers, designado para dirigir a Loja de Londres. 
A reacao foi violenta. Yeats, Imperador da Loja, depos 
Mathers e expulsou Crowley. A. E. Waite pos em duvid a 
a existencia do terceiro nivel e de superiores desconhe- 
cidos. 

Em 1903, Waite e um certo numero de ami gos 
demitira m-se e constituiram uma outra ordem chama da 
igualmente~Golden Dawn. Essa orde m _se_manteye atj| 
1915, depois desapareceu. Q restante dos membro s da 
Golden Dawn continuaram ate 1905, depois YeaTsTAr - 
thur Machen e Winn Westcott se demitiram . 

A ordem continuou bem ou mal sob a direcao de 
um tal Dr. Felkin, depois caiu no esquecimento e se 
extinguiu. Assim terminou o que Yeats chamara de "a 
primeira • rev'olta da alma contra o intelecto, mas nao 
a ultima". Parece que Mathers retirou o conjunto de 
rituais que permitiram reproduzir certos fenomenos. To- 
das as tentativas para publica-los foram interrompidas, 
pois os manuscritos pegavam fogo ou ele mesmo caia 
doente. Morreu em 1917 completamente alquebrado. 
Alguns dizem que Crowley foi seu principal persegui-J 
dor, mas Crowley pareceu, com efeito, ser apenas um \ 
megalomaniaco bem pouco perigoso. -i 

S e o conjunto de rituais de Mathers desapareceu, 
um certo numero de rituais ou de trabalhos feitos pela 
Golden Dawn foi publicado. Notadamente em quatro 
v olumes, no.s Est ados Unidos, pelo Dr. Israel Regardie, 
eno inj ci o do ano de 1971, "The Golden Dawn its inner 
teachings" de R. G. Torrens BA (editor Neville Spear- 
man, Londres). 

94 



f Esse ultimo livro tern a dupla vantagem de ser es~ 

crito de maneira racional e de dar, ao fim de cada capi- 
tulo, e ele tern quarenta e oito, uma bibliografia breve 
«y e precisa. 

Por outro lado, possui-se muitos testemunhos sobre 
a Golden Dawn. 

£ possivel chegar a uma conclusao. O que choca,, 
desde logo, e um notavel nivel de inteligencia e cultura 
da maioria de seus participantes. A Golden Dawn con- 
tava nao somente com grandes escritores, mas tambem 
com fisicos, matematicos, peritos militares, medicos. 
O que e certo e que todos os que passaram pela expe- 
riencia da Golden Dawn de la sairam enriquecidos. 
Todos insistiram sobre o embelezamento de suas vidas, 
nova plenitude, senso e beleza que a Golden Dawn lhes 
deu. 

Gustav Meyrinck escreveu: "Sabemos que existe 
X um despertar do eu imortal". 

Parece certo que^ a Golden Dawn sabia provocar 
esse despertar, e que ela r eali zara^ sje_sonh o eterno dos 
alquimistas; dos gnosticos, dos cabalistas e dos Rosa- 
- Cruzes, para citar apenas algumas direc o es de procura: 
a transmutagao do proprio homem. 

Qualquer que seja o ceticismo que se possa ma- 
nifestar a respeito da magia — e meu ceticismo pessoal 
e bastante consideravel — nao resta duvida de que a 
Golden Dawn chegou a uma experiencia magica melhor 
do que qualquer outra na historia da humanidade, de 
nosso conhecimento. Nao somente logrou consegui-la^ 
mas ainda foi capaz de ensina-la. ,J 

Durante milen jo s o homem sonhou um estado de 
consciencia mals desperto que seu proprio despertar. A 
Golden Dawn chegou a isso. Sem duvida. O que parece 

95 



,- nao tap certo, mas pelo menos provavel, foi que a Gol- 
den Dawn chegou a traduzir o alfabeto enoquiano de 
John Dee, e que seiis dirigentes leram a obra de John 
Dee, a de Tritheme e, talvez. o manuscrito Voynich, se_ 
e que possuiam uma copia. Isto nao e de todo impossi- 
VeL pois John Dee fez muitas. 

Isto admitido, a questao evidente e saber-se porH 
•que um tal acumulo de conhecimentos e de poder nao j 
chegou a constituir uma verdadeira central de energia, 
uma cidadela fulgurante que teria dominado o seculo 
XX. E certo que a Golden Dawn suscitou hostilidades, 
mas e certo tambem que ela se decompos intern amente 
antes de sua destruicao externa. -J 

Quis-se atirar a responsabilidade dessa destruicao 
sobre Aleister Crowley. Que este pretenso magico era 
um louco varrido, e indiscutivel. Alem de sua loucura, 
y que era constituida por um tipo classico de delirio sexual, 
Crowley tinha q dom extraordinario de meter-se em his- 
torias incriveis. Durante a Primeira Guerra Mundial, 
colocou-se ao lado da Alemanha, denunciando, violen- 
tamente, a Inglaterra. Alguns pretendem que foi ele 
quern, atraves de inform a§6es fornecidas aos servigos 
secretos alemaes, permitiu que um submarino colhesse 
o transatlantico americano Lusitania, cujo torpedea- 
mento fez com que os Estados Unidos entrassem na 
guerra. Crowley teve um certo numero de inimigos nos 
Estados Unidos e partiu para a Sicilia onde criou uma 
abadia em Cefalu (atualmente tal lugar e uma vila do 
clube Mediterraneo). 

Um incidente deploravel aconteceu na abadia de 
Crowley. Um poeta oxfordiano chamado Raul Loveday 
bebeu, durante uma cerimonia de missa negra, o sangue 
de um gato, e morreu instantaneamente, o que nao es- 

96 



tava previsto. Sua viuva fez urn escandalo, e sob pressao 
da imprensa Crowley foi expulso da Sicilia em 1923. 

Em seguida, viveu na Inglaterra onde tentou pro 
cessar a imprensa por difamacao. Os juizes decidiram 
que Crowley era o personagem mais detestavel, que ja- 
mais haviam encontrado antes, e recusaram conceder- 
-lhe um centavo sequer de perdas e danos morais. Caiu, 
em seguida, numa miseria profunda, para morrer numa 
pensao de familia, em Hastings, em 1947. A impressao 
que se depreende de sua vida e obra, e a de um infeliz 
que poderia perfeitamente receber cuidados, e nao a de 
, um personagem perigoso. Crowley nao era alias o unico 
K escroque nas maos dos quais Mathers caiu, 

Por volta de 1900, foi vitima de uma dupla cha~ 
mada Horos, que se dizia representante de Superiores 
desconhecidos, e que foi condenada, no ano seguinte, 
como escroques, simplesmente. A Golden Dawn foi, 
entao, bastante mencionada na imprensa, e isto deve ter 
provocado certas demissoes. 

A imprensa ocupou-se, igualmente, da G 
Dawn em 1910 quando Mathers tentou impedir a saida 
do jornal de Crowley Equinox que public ava. senvauto- 
rizacao, rituais da Golden Dawn. Um tribunal ingles, 
oecidiu sobre o caso e o numero do jornal apareceu. 

O que, evidentemente, nao melhorou o prestigio de 
Mathers; numerosos foram os que observaram que se 
Math ers realmente tinha poderes, poderi a exterminar 
• trowleyTou que se Crowley os tivesse. poderia exter^ 
mmar Mathers. Conhecem-se, alias, muitos exemplos 
modernos de duelos de feiticeiros que nao dao, geral-' 
rnente, bons resultados. £ certo que a ingenuidade de 
Mathers o prejudicou, mas nao parece ser essa a causa 
principal do declinio da Golden Dawn. 

97 



1 

■ . 



.'-•- 



Segundo o que pude recolher, a partir de fontes 
pessoais, o exercicio de um certo numero de poderes , 
e notadamen te da clarividencia, tornou-se uma ve rda^ 
deira droga para os membros da Ordem, e desde jSll 
t oda especie de pesquisa havia cessado. Parece-me que 
e nisto que devemos buscar a causa do mau exito dessa 
aventura que poderia ter sido mais extraordinaria ainda 
do_que_foi_ 

As diversas sociedades secundarias fundadas por 
dissictentes, sem autorizacao, como a "Stella Matutina" 
f undada pelo Dr. Felkin, a "Argenteum Astrum", fun- 
dada por Aleister Crowley, e a "Sociedade da Lu zjn- 
terior", fundada pelo escritor Dion Fortune, pseudonimp 
" de Mme. Violette Firth, nao parecem ter prosperado,_ 
" Essa ultima sociedade existe ainda, e Mme. Firth 
escreveu novelas e romances muito interessantes. 

Para ser mais completo, e necessario dizer que a 
Golden Dawn tinha elementos cristaos em seu seio, p eiz 
tencentes a Igreia Catolica anglicana, notadamente o 



tic^7 F.vp.ly 



'Aims. 




C ertos doc umento s da Golden Dawn dizem res- 
peit o^ao esoterismo cristao e sao con siderados, por e sper 
cialistas no campo, como extremamente serios. 

Restam, de outro lado, as obras misticas ou tradu-~~j 
goes de Mathers: A Kabala (1889), Salomao, o Rei 
(1889), A magia sagrada d* Abramelin (1898). Este ' 
ultimo livro e traducao de um manuscrito que Mathers 
encontrou na JSiblioteca do Arsenal, verdadeira mina 
de documentos estranhos. Um texto bastante completo 
foi editado recentemente em Paris, por volta de 1962. 

Temos a nossa disposicao uma quantidade de ele- 
mentos muito interessantes, mas jo que nos falta e o ritual 
completo de Mathers. Esse ritual devia ser o compute 

98 



dos livros malditos, resumindo a maior parte desses 
livros e abrindo as portas a todos os fatos extraordina- 
rios. Que Mathers realizou, dessa forma, umaespecie 
de consciencia superior que ele interpretou como um 
contato com Superiores desconhecidos nao me parece 
absurdo. Que tenha havido perseguicao a Mathers, 
^ tambem nao e tab espantoso. 

Eiitretanto, toda essa historia se passa em nossa 
epoca, e Mathers dispunha da fotografia. Nao e impos- 
sivel que tenha tirado um bom numero de fotos e que 
elas nao tenham sido todas destruidas. Em 1967, pen- 
sou-se ter achado os rituals de Mathers. Naquele ano, 
uma coiina as margens do Canal da Mancha deslizou, 
minada pelas aguas, e objetos provindos da Golden 
Dawn, que ai haviam sido enterrados, foram tragados 
pelo mar. Infelizmente o exame desses objetos provou 
que se tratava de instrumentos de trabalho e textos de 
licoes assim como notas tomadas ao curso de exposic,6es. 
Nenhum documento vinha de Mathers. 

Discutiram-se muito as inf luencias que se exerceram 
nas redacoes de diversos cursos da Golden Dawn. No- 
tamos, ja, influencias cristas. Encontra-se, tambem, e 
sem duvida introduzidas por Yeats, ideias de Blake. 
Encontra-se grande numero de referencias a Kabala, 
que provem visivelmente dos estudos de Mathers. 

O que nao se encontra e a traducao da lingua eno- 
quiana em linguagem corrente e sua aplicagao as expe- 
riencias. O termo enoquiano, ele proprio, e curioso. Os 
diversos livros de Enoch sao relativamente recentes e 
contam as viagens miraculosas do profeta Enoch a ou- 
tros planetas, e mesmo a outros universos. Encontram-se 
X edicoes que datam de 1883 e 1896. 

A linguagem enoquiana de John Dee e uma outia 
hisliorn Dee conhecia a lenda de Enoch, levado a ou- 

99 



. . 



tro s planer s porj ima criatura luminosa, e deu o nom^ 
mguagem enoquiana a l ing uagem da criatura lumi- 
nosa que lhe apareceu. Mas nao existe o "Livro de- 
Enoch contemporaneo a ftiblia. como certos ingenuos 
cr eem. Nao ha razoes serias para se crer que os dois 
livros de Enoch datem dos^gnosticos. Mesmo em estado 
de manuscrito. nao aparece antes do seculo XVIII, 

Algumas testemunhas sobreviventes da Golderj 
Dawn contam, com relacao a linguagem enoquiana, 
coisas muito curiosas que nao se e obrigado a crer. Fa- 
lam, por exemplo, de um jogo "As pecas de xadrez en< > 
q uianas", um jogo semelhante ao xadrez mas onde as 
pe cas assemelhavam-se aos deuses egipcios. Jogava ^ 
com um adversario invisivel, as pegas colocadasnuma 
metade do tabuleiro especial, movimentando-se sozinhas. 

Mesmo que se descrevesse tal experiencia comcTj 
um tipo de escrita automatica ou de telecinesia, ela tern I 
uma certa beleza poetica. Tudo nos faz lamentar ainda 
mais a desaparigao dos rituais Mathers. . -J 

Tudo o que se pode esperar e que a desaparigao 
nao seja definitiva. Se Mathers tomou suas precaugoes, 
deve ter dissimulado em Londres ou em Paris jogos de 
fotografias que, um dia, reaparecerao. A menos que a 
misteriosa sociedade alema. SDA nao se manifeste. 

Alexandre Von Bernus, na "Alquimia e medi- 
cina", parece indicar que essa sociedade nao esta morta. 
Tal era, igualmente, a opiniao de meu falecido amigo 
Henri Hunwald, que era o homem da Europa que co- 
nhecia melhor esse tipo de problema. Talvez um dia, 
uma nova autorizagao para fundar uma sociedade ex- 
terior seja dada. 



100 



. 



» 

% 



8 



O LIVRO QUE LEVA A LOUCURA 
EXCALIBUR 



No momento em que escrevemos, um.iate luxuo ^ 
s jssimo*percorre os oceanos do globo. Traz bandeira que 
nao e de nenhum pais conhecido ou desconh ecido. Tern 
a bordo urn c erto num e ro de guardas arm ad os. pois 
mmtas vezes tenta uzSfl_tor car o cofre-forte do capitao i 
'■ •. esse cof re-forte contem um livr o muito perigoso _c_uia 
leitura torna louco _o_que le e se chama Excalib ur,, 

Para que essa historia se ja co mpreensivel, e pre- 
ciso referir-se a vida do p ro prietario do iate, um a nie- 
ricano chamado Lafayette Ron Hubbard, e a suas duas 
descobertas, a dian etka e a cientologja. A historia de 
Hubbard foi, geralmente, contada de forma humoristica 
por Martin Gardner no livro "Os magicos desmasca- 
rados" e por mim mesmo em "Rir com os sabios". Mas 
um certo numero de f atos novos, aparecidos no curso dos 
dois ultimos anos, tendem a fazer admitir que tal historia 
nao e apenas extravagante. Tentarei conta-la de maneira 
a mais neutra possivel. 

Lafayette Ron Hubbard 6, indiscutivelmente, um 
expl orador e um oficial da marinha americana extre- 
mame nte coraioso. Foi tambem — nao escreveu muito , 
n o genero — um dos melhores autores ameri canos de 

101 



• 



fi ceao cicntifica e do fantastico 




eus romances 
t raduzidos em_f ranees citamos u Le _ bras_drojt_dej£ 
mort" (HachetteV 1 

A melhor parte de sua obra, no que concerne a 
fic£ao cientifica e ao fantastico, foi escrita antes da 
guerra de 1940. Durante essa guerra, em virtude de urn 
ferimento que recebeu num combate com os japoneses, 
Hubbard sofreu a experiencia da morte clinica; Foi rea- 
nimado, mas parece ter-se conscientizado que nao o fora 
por vias normais, e ter tido percepcoes e sensacoes que 
nunca p6de suficientemente explicar. 

Assim e que, depois da guerra, ele passou a medi- 
tar, sistematicamente, sobre o sistema nervoso humano. 
Acabou concebendo uma nova teoria que batizou de dia- 
netica, que comunicou a John Campbell, celebre editor 
de ficcao-cientifica. 

A dianetica era uma especie de psicanalise pr opria 
para secluzir os am ericanos. Estes sao, com ef elto7 avidos 
pelo "Faca por voce mesmo" e a dianetica permitia 
^xerce r seus talento s _sobre~qualquer urn , se m necessi- 
dade de qualquer previo estudoT 

A teoria geral da dianetica admite» como Fr eud 
um inconsciente, mas enquanto o inconsciente freucHan c) 
6 extremamente astucioso -— era copiadq do diabo^— 
o inconsciente de Hubbard e sobretudo estupido. Ele nos 
obrigava a fazer as piores asneiras pois era t otalmente 
literal e incapaz de transcender o signif icahte, e con> 
posto_der jgistros ou "engrams" (Hubbard usa esse termo 
cientif ico num sentido que nao lhe e dado normalmente) . 

O inconsciente de Hubbard forma muito cedo, no - 
tadamente durante a vida do feto. E basta, sempre se- 
gundo Hubbard, que se diga a uma mulher gestante 
"voce se obstina em andar a esquerda" para que a crian- 

■ _ — i , . 

(1) "O brago direito da moRe" — Edi§ao francesa. 



102 



f. 



9a, tornada adulta, caia, sem resistencia, para um es- 
querdismo extremado! 

Se chegassemos a desembaracar um cerebro de. 
todos esses significantes, anuncia triunfalmente Hub- 
bard, produziria oios um sujeito perfeitamente "claro". 
Esse sujeito "claro" desprovido de qualquer complexo, 
inteiramente sao espiritualmente, constituiria o embriao 
de uma especie humana nova, proxima ao sqbre-humano. 

Isto poderia ser conseguido_ at raves de simples conversa 
com o sujeito, utilizando tecnicas que Hubbard descre- 
via em seus artigos de "Astounding Science-Fiction ,, ou 
emseu livro 'Dianetices" que, imediatamente aparecIHo, 
se tornou um "best-seller" . 

Hubbard comecou por tratar sua mulher. Logo^J 
que se tornou "clara", ela pediu divorcio, o que 
obteve. Tratou, em seguida, de um amigo, que logo que 
ficou "claro", matou sua mulher e se suicidou. Entao, a 

^pularidade da dianetica tornou-se imensa. Por volta 
cb 1955, os americanos que se tratavam pel a dianetica 

iam milhares. Os resultados nao foram tao sensacionais 
como no comeco, mas esse pequeno jogo de salao fez 
'.ogo concorrencia a psicanalise. ^ 

A psicanalise tern, evidentemente, a vantagem de 
aplicar-se aos animais. Ha nos Estados Unidos psicana- 
listas para caes, e nao se conhecem tecnicos da dianetica 
para caes. A dianetica. ao contrano, tern a vantagem 
de ser rapida, pouco custosa, e de apresentar a "psique" 
humana, nao em termos complicados, mas"segun do_dial 
g ramas bastante iguais aqueles que p-ermitem a qualquer 
umjnsta lar em casa uma campainha eletrica. E antes de 
tudo e mais reconfortante. 

Certos psicanalistas foram tambem tratados, e sem 
tornar-se absolutamente "claros", reconheceram que a* 
tal dianetica lhes fazia bem. Quando se le Hubbard, 

• 103 



nao se tern a impressao de que ele e mais louco que 
Reich ou Ferenczi. Talvez menos. E no que concerne 
as lembrancas formadas durante a vida do feto, Hub- 
bard parece ter razao. O fenomeno parece ter sido clini- 
camente verificado, e poe um problema que nao foi 
resolyido: como o feto, que nao tern ainda um sistema 
auditivo, pode entender o que se diz ao seu red or? No 
entanto ele o faz, isto e certo. 

O que quer que seja, nao se pode dizer que a dia- 
netica seja mais ou menos louca que a psicanalise. Todas 
as duas "caminham" menos bem que os metodos do sa- 
cerdote budista primitivo, mas caminham. Ha ern 
todo psiquico um tal esforco para o equilibrio,_g uenao 
importa qual a tecnica usada para amenizar provisoria- 
mente um psiquismo defeituoso. Tal amenizacao. evi- 
dentemente, nao e duravel. so os metodos quimic os 
realmente podem curar. 

A dianetica parecia destinada a ser apenas um 
desses metodos curiosos como existem tantos, e foi 
assim que todos a consideraram. Somente que a historia 
so estava comegando. Tendo refletido sobre os defeitos 
da dianetica, Hubbard chegou a co nclusao de que esla 
nao tratava senao das cicatrizes psiquicas devidas aos 
acontecimentos dessa vida terrestre, e em nenhum caso 
as feridas adquiridas em vidas anteriores. Criou um a 
nova disciplina: a cientologia. 

A dianetica foi um fogo de palha, mas a ciento- 
lo gia, com um desenvolvimento lento e pr ogressivo. 
conheceu_ um crescimento constante que fez com que, 
em_19 71 o movimento cientologista cons tituis se uma 
forga mundial que inquietou muita gente. Ta l movi- 
mento tern muito d inheir o, nao se sabe deque fonteT 
As _ partes de Hubbard no trabalho origin al lhe trou- 

104 



xeram uma rigueza enorme, fala-se, em dezenas _dgmi- 
lhoes de dolares. ~ 



Hubbard escreveu outros livros alem de "Scien- 
tology". N otou pela informacao de algu ns amigos pro- 
ximos, algumas lembiancas de suas viclas anteriores. 
Tais lembrancas, segundo ele, provinham de uma gran de 
civilizaclo_ galactica da qual somos uma colonia perdida ^ 

Reuniu essas lembrancas num livro chamado Ex- 
calib or que deu a ler a alguns voluntarios. Estes fica- 
ram loucos e estao, segundo o que sei, internados , 

Nem a dianetica, nem a psicanalise, nem a cien-^ 
tologia, nem mesmo os medicamentos que se conhece 
puderam fazer algo por eles. Hubbard continuou a nave- 
gar nos oceanos e a tomar notas, enquanto desconhe- 
cidos tentavam forcar seu cofre e ler o Excalibur. Du- 
rante esse tempo, a cientologia desenvolveu-se a urn 
ponto tal que chegou a inquietar. Foi assim que Char- 
les Manson, assassino de Sharon Tate, declarou que era 
o representante local da cientologia. Os cientologos ne- 
garam e Hubbard mesmo afirmou que denunciara Man- 
son ao FBI como sendo urn perigoso diabolista. Os cien- 
tologos sao acusados de dominar pessoas, de controla- 
las, de teleguia-las e de visar, com isso, a possessao do 
mundo. 

Respondem com calma, que se dizia a mesma coisa 
dos primeiros cristaos. 

Sao extremamente numerosos, sem que se possam 
citar cifras. Mas em 1969, uma associacao inglesa que 
lutava por uma medicina mais racionalista e por uma 
condenacao mais severa as medicinas paralelas, denun- 
ciou-os. Logo todos os cientologos ingleses se inscreve- 
ram na associagao e ficaram sendo a maioria rapida- 
mente, O que prova serem eles bastante numerosos. 

105 



7 



Certos paises falam em proibir a cientologia, mas, 
pelo que sei, isto nunca foi feito em parte alguma. Os 
meios materials enormes de que dispoem os cientologos 
lhes permitem inundar literalmente o mundo de jornais, 
revistas, documentos. A inscrigao em um curso de cien- 
tologia nao e onerosa e nao e isto que da recursos ao 
movimento. O conselho administrative da sociedade que, 
em diversos paises, e registrado conforme as leis locais, 
reconhece que e um bom negocio. Mas sem precisar 
exatamente como funciona esse bom negocio. ^ 

Um dos dirigentes da cientologia inglesa declarou 
a imprensa: "Se alguem procura atacar-nos, investiga- 
mos sobre ele, e encontraremos algo de desfavoravel que 
traremos ao conhecimento publico". Isto efetivamente 
se produz, o que significa que a cientologia ou possui 
excelentes recursos de espionagem, ou meios para utili- 
zar as melhores agencias de detetives privados. 

A cientologia nao parece ser poKtica, se bem que 
se denuncie, periodicamente, tal organismo como um 
novo nazismo ou, pelo menos, como uma variedade do 
rearmamento moral. Isto nao parece estar provado.O 
que parece certo e que a cientologia drena para si clien - 
tes na o somente de cultos marginais e pequenas seitas 
ocult a s, mas de religioes tao bem estabelecidas, como o 
cristianismo, ou do marxismo. Ela esta em progresso 
constante, ao mesmo tempo no piano do numero e no 
piano do poder. Os que zombaram de Hubbard, e eu 
me coloco entre esses, estao, talvez, rindo muito cedo. 
O fenomeno da cientologia e muito curioso, e nao foi 
^ ainda suficientemente estudado. 

A cientologia atraiu muitos escritores de fic§ao- 
-cientifica, mormente Van Vogt 1 que, durante certo 
tempo, abandonara a ficgao-cientifica para se ocupar, 

_ ■ 

(1) Antor Ho faxnoso "best-seller" "Le moncle des A M . 

106 



exclusivamente, da cientologia. Esta nao renega a 
dianetica, mas acrescenta urn conteudo suplementar que 
nao se pode qualificar senao como visionario. E evi- 
dentemente Hubbard, sob seu aspecto exterior de aven- 
tureiro positivo e de engenheiro instruido, e um. visio- 
nario. Parece que teve uma visao quando esteve sob 
morte clinica, e que teve outras depois. Infelizmente, 
nao disse grande coisa sobre os dirigentes da cientolo- 
gia, que parecem acolher no movimento homens de 
negocios, mas tambem outros personagens, 

Ao nivel do contato com o publico, ao nivel, igual- 
mente, do ensinamento elementar da cientologia, encon- 
tram-se pessoas extremamente convencidas e, ao que 
parece, sinceras. Nao saberia dizer exatamente o que se 
passa em nivel superior. Em consequencia da filosofia 
de Max Weber, chama-se geralmente "efeito carisma- 
tico" a influencia de um ser humano sobre outro. A 
cientologia asrupa pessoas que possuem efeitojca risimv 
fico muito elevado . 

O que quer que seja, a reuniao de membros de um 
grupo de cientologia ao redor de seu chefe, e por causa 
da cientologia geral, e de uma natureza fanatica. A tal 
ponto que muitas queixas apareceram contra os grupos. 

Contrariamente a Golden Dawn, a cientologia 
tornou-se uma central de energia que exerce um poder 
real passavelmente inquietante. O que nao aconteceu 
com a dianetica. Qualquer coisa foi injetada na estru- 
tura de um movimento que estava declinando e que 
parecia uma seita dissidente e simplificadora da psica- 
nalise; e esse movimento foi transformado em instru- 
mento utilizado para fins que nao sabemos ainda. O 
periodo da diversao acabou e podemos perguntar o que 
foi introduzido na dianetica para criar um movimento 
assim tao dinamico como 6 a cientologia. 

107 



• . 



Como no initio de todas as religioes ha urn Livro. 
A esta cabe o livro Excalibur que, ao inves de ser 
difundido, e cuidadosamente guardado como o talisma 
secreto da nova religiao . O fenomeno e curioso, pois em 
casos analogos como os Mormons ou os Babistas o 
livro-base — livro de Joseph Smith para os Mormons, 
Profecias de Bab para os Babistas — foi largamente 
difundido. No que concerne a cientologia, assiste-se, ao 
mesmo tempo a urn esforco extremamente moderno de 
propaga nda e a uma organizacao que esconde um livro 
secre to q ue se poderia dizer maldito.^Nao se sabe o que 
aconteceu as pessoas que o leram: tornaram-se loucos " 
simplesrnente lendo-o, ou tentaram certas experien cias? 

(Respondo aqui a uma questao que me e feita com 
freqiiencia: por que nao tentei transformar o movimento 
nascido .do "Despertar dos Magicos" e de "Planete" 
numa especie de para-religiao? Responderia simples- 
mente que num estado de ignorancia tota lda dinamica 
dos grupos humanos, pareceu-me extremamente peri- 
goso lanc ar novos movimentos para-religiosos. Numa 
admiravel novela de Catherine Mac Lean "O efeito bola 
de neve" que traduzi para o f ranees 1 para o "Nouveau 
Planete n.° 2", ve-se um grupo de senhoras que se 
ocupam, numa pequena vila americana, de coletar ves- 
timentas, arruma-las e da-las aos pobres. Sociologos im- 
prudentes lancaram a esse ^rupo uma estrutura dinamica 
que acabou virando uma bola de neve que foi pegando 
outros grupos. E esse microcorpusculo acabou conquis- 
tando o mundo . . . Esse tipo de coisa e, a meu ver, intei- 
ramente possivel, e por isso cuidadosamente cortei qual- 
quer tentativa de forma^ao de uma para-religiao a partir 
do movimento Planete.) 

1 "L'effet boule de neige". 

108 



Ao nivel do publico, o ensinamento cientologico . 
parece-se bastante com a dianetica primitiva, sob uma 
forma mais razoavel. Pretende aumentar a intensidade 
da consciencia em pessoas tratadas, e talvez o consiga. 
Isto nao acontece sempre. Por exemplo, o autor de 
ficgao-cientifica americano Barry Malzberg conta no ini- 
tio de 1971 como tendo visto no metro de Nova Iorque, 
cartazes de propaganda de cientologia, decidiu tomar 
ligoes. Isto nao o levou adiante, mas talvez nao tivesse 
boas vibragoes iniciais . . . 

O que e ensinado em nivel superior, ignoro-o. A / 
literatura de promogao diz respeito a informagoes pro- I 
venientes de epocas em que a Terra nao era ainda uma 
colonia perdida, mas fazia parte da humanidade galac- | 
tica. Isto parece ficgao-cientifica, mas a bomba de hi- 
drogenio e a viagem a Lua pareciam tambem. Seria 
preciso ver a coisa mais de perto. 

£ interessante notar igualmente que a cientologia 
se declara perseguida por pessoas bastante analogas no 
fundo, aquelas que chamo Homens de Negro, cuja exis- 
tencia postulo neste livro. 

Deixando de lado Hubbard, que parece fora de cir- 
cuito, voluntariamente ou nao, n ao se sabe muito bem 
o que esta atras da cien to logia. Cai-se num paradoxo 
bast ante curioso: por que os homens e mulheres d a_ 
Gold en Dawn, tao brilhantes e por vezes gen iais, nao 
c hegaram a criar um centro de enerp;ia? E p or que os 
"indi viduos anonimos da cientologia conseguiram isto? 

Pode-se tirar razoes da dinamica dos grupos. Nao 
se pode, talvez, formar um grupo juntando gente de per- 
sonalidade poderosa. E preciso, quern sabe, uma hierar- 
quia que parece existir na cientologia e que nao parece 
ter existido de maneira marcante na Golden Dawn. 

i 

fio: 



' 



fode-se dizer ainda, com certa ironia, que a. 
Golden Dawn dirigia-se a uma elite muito limitada de 
pessoas excepcionais, enquanto que a cientologia se di- 
rige a pessoas medianas. 

Os membros dos grupos cientologistas me sugerem~7 
uma tefceira resposta: para eles, a cientologia se man- j 
tern porque e cientifica, enquanto a Golden Dawn era 
um amontoado de superstigoes e praticas magicas. 

£-me dificil considerar esta resposta valida, pois a 
leitura da documentagao que a propria cientologia difun- 
de ? mostra que nao se trata de uma ciencia, ao menos no 
sentido habitual do termo. £ uma mistica analoga ao 
freudismo. Como o freudismo, e preciso aceitar sem dis- 
cutir afirmacoes das quais nao se tern nenhuma prova. 
Ademais, enquanto a Golden Dawn parece ter resol- 
vido o grande misterio do despertar, nao se ve nada 
analogo na cientologia. E, contudo, esta prospera e pros- 
pera segundo uma estrutura que parece aquela para a 
qual tendia a Golden ^Dawn. 

Como na Golden Dawn, trata-se de um apelo as 
forgas profundas e desconhecidas que existem nos do- 
minios que a psicologia corrente, mesmo aperfeigoada 
por Jung, nao pode alcangar e dos quais nega a exis- 
tencia. Para a Golden Dawn eram os "pianos superio- 
rs" existentes acima do despertar. Para a cientologia^ 
trata-se de um super-hiper-inconsciente estendendo-se 
ao pass ado ate epocas que nenhum codigo geneticq 
razoavel pode dar conta. Certos documentos cientolo- 
Mcos ^ f alam de setenta e dois milhoes de anos. Parece 
muito. 

Evidentemente, e facil taxar esse tipo de, ideia de 
aberracao, o que estou tentado a fazer. Entretanto, a 
existencia do fenomeno nao 6 duvidosa, e pode-se per- 
guntar ate onde se desenvolvera. 



A dinamica marxista da Historia nao tern mais. 
base cientifica como o Premio Nobel Jacques Monod 
acaba de mostrar pela nona vez no "O acaso e a neces- 
sidade". O que nao impede que um homem, em cada 
dois, viva em regimes marxistas. 

Numa mesa-redonda sobre as viagens a Lua, ouvi 
um erudito do Islao dizer que a Lua era habitada. A 
viagem lunar nao o provou T mas isto nao abalou o Islao. 

Uma vez que um grupo humano tenha comesado a 
fazer bola de neve sob o efeito de forcas dinamicas das 
quais tudo ignoramos, e extremamente dificil, e talvez 
impossivel, para-la. Nao esta, em todo caso, excluido que 
a cientologia da a uma certa juventude o que o esquer- 
dismo e o LSD nao puderam dar, e nao se ve expandir-se 
eventualmente sustentada pelas armas. 

Por isso, essa questao de saber o que existe exata- 
mente no Excalibur, de saber ate que ponto a doutrina 
secreta da cientologia, se ha uma, deriva de um livro 
maldito, merece ser examinada. E nao penso que se 
possa elucidar esse genero de probl e ma dizendo simples- 
mente que Deus esta morto, e que e preciso q ualquer 
coisa ou alguem que o substitua. Penso que houve qui- 
micos r antes q ue s e descobrisse o atomo e a teoria exata 
5a quimica baseada sobre a mecanica ondulator ia. 

Da mesma maneira, estou persuadido de que ha 
praticantes da dinamica de grupo, incapazes de explicar 
o que fazem, no entanto obtem resultados, enquanto 
que um sociologo cientifico medio seria incapaz de 
eleger-se numa vila de cinquenta habitantes. 

Penscj que Hitler ou Hubbard fazem parte__ desses. 
sociotogos amadores que obtem de maneira empirica 
resultados espantosos. 

* » 

No meu entender, entretanto, esses praticantes so 
podem funcionar se atras deles houver um grupo de or- 

111 



ganizadores ou de planific adores. Sabemos muito bem 
qual o grupo que se encontrava atras de Hitler, ignora- 
mos tudo sobre o grupo que se encontra atras de Hub- 
bard, e notadamente sobre o financiamento das opera- 
coes, e seus objetivos definitivos. Se ha, realmente. atras 
de Hubbard um livro maldito. s'eria desejavel que ele 
t ivesse feifo dele muTtasfotocopias e que as tivesse colo- 
cado em lugar seguro, espalhando-as pelo mundo. Se 
nao, eu nao ficaria surpreso se um dia o seu iate sofresse 
um acidente. 

A teoria de Hubbard e falsa certamente, mas da, 
talvez, resultados justos. Nao e a primeira vez que esse 
tipo de coisa acontece. 

Nao se fez, ainda, estudo sociologico sobre as 
pessoas atraidas pela cientologia. A dianetica, como 
a psicanalise, atraiu principalmente loucos. Freud mes- 
mo, numa primeira fase de sua carreira, ao que indica, 
parece ter ficado louco furioso: praticava a numerologia 
e acreditava nas piores supersticoes. Diz-se que ele ficou 
sao em sua segunda fase, depois que fez sua auto-ana- 
lise, mas tenho duvidas. 

Como diz, justamente, G. K. Chesterton: "O louco 
nao e aquele que perdeu a razao, o louco e aquele que 
perdeu tudo, menos a razao". A cientologia comegou 
a entrar numa fase em que atrai em massa pessoas que 
poderiamos chamar de normais? Em que proporcao? 
Isto seria interessante saber. 

Gostaria muito, correndo os riscos e perigos, de 
dar uma olhada no Excalibur. 



112 



O CASO DO PROFESSOR FILIPPOV 



Na noite de 17 pgTg 1 R do. ™itn Hr de 1903, O g&bio 

russ o^ Mikhail Mikhailovitch Filip pov foi encontrado 
morto emseu laboratories Fora/semll uviaaT assassinaao ' 
to ordem de Okhrana. po1fcia_esrjecj al do tzar. A po - 
Hcia apreendeu todos os trabalhos do sabio, nota da- 
me nte o manuscrito de um livr oq ue deveria ser sua 
SJ B publicagao. Q I mperadorNicblau II e xaminouTele 
' mesmo, o processo,~depois o laborat orio M ^completa- 
mente destruido e _o s_papeis queimados . 

O livro apreendido chamava-se: "A revolucao pela 
ciencia ou o fim das guerras". Nao era um livro unica- 
mente teorico. Filippov havia escrito a amigos — e suas 
cartas devem ter sido abertas e lidas pela polieia se- 
creta — que havia feito uma prodigiosa descoberta. 
Havia, corri^efeito, encontrado um meio de transmitir 
por radio, sobre um feixe dirigido' de ondas curtas ^o, 
efeito de uma exp losao. Es;crevera numa das cartas que 
foram, efetivamente, encontradas: " Posso transmitir so- 
bre um feixe de ondas curtas tod a a fo r ca de uma ex- 
plosa o. A onda explosiva se transmite im^gralrrjgr||e ^9 
Ibngo da onda eletromagnetica portadora. o q np. fa? mm 
que um cartucho de dinamite explodindo em Moscou 
'possa transmitir seu efeito ate Constantinopla. As ex- 

113 



pei|encias feitas mostram que tal fenomeno pode ser 
prbduzido a milhares de quilometros d ejUs tanci a. Q 
emprego d e umalal arma n a revoluglo^aria com que 
os povos se levant a ssem e as"gue rras se tornassemTotaT- 
mente impossiveis." ~" ' 

Compreende-se que uma ameaca desse tipo tenha 
espantado o imperador e que o necessario seria uma 
acao rapida e muito eficaz. 

Antes de entrar nos detalhes do caso, damos algu- 
mas indicates sobre o proprio Filippov. 

Sabio eminente, havia publicado trabalho de Consul 
tantin Tsiolkovsky: "A exploracao do espaco cosmico / 
por engenhos a reacao". Sem Filippov, Tsiolkovsky teria 
ficado tao desconhecido, que e a Filippov que devemos, 
indiretamente, o Sputinik lea astronautica moderna. 
Filippov traduziu igualmente para o frances, fazendo 
com que.o mundo inteiro pudesse conhece-la, a obra 
capital de Mendeleev "As bases da quimica" onde se en- 
contra a famosa lei de Mendeleev que da uma tabua 
periodica dos elementos. .J. 

Filippov criou tambem uma importante revista de 
vulgarizacao cientifica, em alto nivel, a primeira na 
Russia, que se chamava "Revista da Ciencia". 

Era marxista convicto e procurava difundir as 
ideias marxistas, apesar do perigo dessa difusao. Tolstoi 
anota em seu diario, em 19 de novembro de 1900: "Dis- 
cuti marxismo com Filippov; e* muito convincente". * 

Mas Filippov nao se limitava a ser um grande sa- 
bio, foi tambem urn dos grandes escritores_r ussosI 
Publicou, poj volta de 1880. "O cer co de Seba stPgoT, 
romance que Tolstoi e Gorki concor dara m em que~e 
admiravel. 

fode-se pergunt ar como uma vida _ tao breve — 
Filippov foi assassinado quando tinha quare nt a e cinco 

114 



i 



anos — pode ser tap completa. Redigiu uma encyclo- 
pedia inteira, criou uma revista que agrupou todos os* 
_s"abios russos e que publicou, igualmente, artigos de 
escritores como Tolstoi e Gorki. Toda sua vida traba - 
lhou nap^s nmftTTtfi para a Hifnsno Ha HAnri a mas tambg m_ 
pela do metodoc ipntificn 

Seu filho, Boris Filippov, que ainda vive, publicou 
sobre seu pai uma biqgrafia: "O caminho semeado de 
espinhos", duas vezes reeditada pelas Edicoes da Ciencia 
em Moscou, nos anos de 1960 e 1969. 

Filippov estudou tambem a estetica do ponto de 
vista marxista, e sua obra nesse campo, como em muitos 
outros, ficou classica. Influenciou bas'tante Lenine e 
temos razao para pensar que ele to i o autor da~farnnsa 

f rase: "O comun ismo e os Soviets mais a ele trificacjo^ 
Ele despertara em Lenine o interesse pela investigacao 
cientifica avancada, e e parcialmente responsavel p ela 
expansao da ciencia s ovietica. 

Eis o personagem: vulgarizador cientifico, grande 
escritor, experimentador, teorico das relacoes entre cien- 
cia e marxismo, revolucionario convicto, perseguido pela 
policia desde o assassinato do Imperador Alexandre II. 

Que pensar da realidade de sua invencao? Lem- 
bremos primeiro que uma invencao muito semelhante 
acaba de ser realizada nos Estados Unidos: o que se cha- 
mou impropriamente d e bomba a argon . 

Q principio dessa JnvenQao e conKetido: a ener gia 
fornecida pela explosab de um cartucho de dinamite ou 
de um pedaco de plastico num tubo de quartzo comp rF 
me o argon gasoso que se torna intensamente lumin oso. 
Essa energia luminosa e concentrada num raio laser~e 
'transmiti da, assim, em forma de luz, a grand e distancia. 

Chegou-se ja a incendiar uma maquete de aviao em 
aluminio a uma altura de mil metros. O sobrevoo de 

115 



certas regioes dos Estados Unidos 6, atualmente, inter- 
ditado aos avioes pois se fazem experiencias desse tipo; 
E espera-se poder instalar esse dispositivo em foguetes 
e servir-se dele para incendiar outros foguetes, o que 
constituiria uma mostra eficaz, mesmo contra o foguete 
multiplo portador de bomb'a H. 

Uma forma incompleta do aparelho de Filippov 
foi pois efetivamente realizada. 

Filippov nao conhecia, certamente, o laser, mas 
estudava as ondas ultracurtas, de comprimento de cerca 
de um milimetro, que produzia por meio de um gerador 
a centelha. Publicou alguns trabalhos a este respeito. 
Ora, mesmo hoje, as propriedades desse tipo de ondas 
nao sao totalmente conhecidas, e Filippov teria podido 
encontrar um meio de converter a energia de uma ex- 
plosao em um feixe estreito de ondas curtas. 

Pode parecer surpreendente que um sabio isolado 
pudesse fazer uma descoberta tao important^, descoberta 
totalmente perdida. Mas existem muitos argumentos 
contra tal objecao. 

De initio, Filippov nao era um sabio inteir amente 
isola3 o. Era relacionado com os maiores esp ir itoi~cienti : 
ficos i _do mundo inteiro, lia todas as revistas e__ era_do- 
tado_ de um espirito encicloped i co capaz de oper ar na 
fronteira de muitas cienc ias e fazer delas uma sintese. 

De outro lado, apesar de tudo o que se conta sobre 
as equipes cientificas, nao e menos verdade que as des- 
cobertas sao ainda feitas por individuos. Como dizia 
Winston Churchill: "Um camelo e um cavalo preparados 
para um comite". 

As grandes descobertas de nossa epoca, notada- 
mente no dominio da fisica, foram feitas por individuos: 
' c^efeito Mossbauer, que permite medir ps menores com- 
b rimentos pela radioatividade; o princir>ip da nao con- 

li'6' - • • 



* * 



serv acao da igualdade que transformou toda nossa con - 
cep 9ao do mundo, mostrando que a direita e a esquerda 
"sap realidades objetivas no micro-universo ; o efeit 
Ovshansky que permite fabricar vidros jotados de me - 
moria. Enquanto grandes equipes comoa C. E. A. o u 
o C. E. R. N. nada descobriram de novo, apesar de 
lerem consumido centenas de m fl|i5es^ Tilippov nao 
tinha muito dinheiro, mas nao tinha formalidades admi- 
nistrativas a observar para obter um aparelho, o que 
lhe permitia avancar mais depress a. 

De outro lado, Filippov trabalhava quando a cien- 
cia das hiperfreqiiencias estava em seu comego, e os 
pioneiros tern em geral uma visao clara dos territorios 
que so serao descobertos seculos mais tarde. 

De minha parte, estou persuadido de que Filippov 
realizou, em seu laboratorio, experiencias concludentes, 
provando que seu processo podia ser generalizado. 

Facamos, por instante, o papel de advogado do 
diabo, e perguntemos se o Imperador Nicolau II, da 
Russia, mandando assassinar Filippov e destruir seu i 
livro e trabalhos, nao teria salvado o mundo da des- J 
truicao. > 

A questao merece ser posta. Filippov foi assassi- 
nado em 1903. Se houvesse publicado seu trabalho, este 
teria sido, certamente, aplicado na guerra de 1914-1918. 
E todas as grandes cidades da Europa, e talvez da Ame- 
rica, poderiam estar destruidas. 

E durante a guerra de 1939-1945? Hitler, pos- 
suindo o processo de Filippov, nao teria destruido com-, 
pletamente a Inglaterra, e os americanos o Japao? 

fi de temer-se que nao devamos responder a essas 
questSes afirmativamente. E nao est a excluida a hipo- 
tese de que o Imperador Nicolau II, geralmente aviltado, 

{ ?m. *m# ha&wv "mjgusio u o^ta m\UM 

tai PakoCapw; '* ■ hxx 05*854 - 0a»*Bigw» • 9 j 

Reai mv Nl — ■ .J 



nao deva ser colocado entre os numerosos salvadores 
da humanidade. 

Que aconteceria hoje se alguem encontrasse um 
meio de utilizar o processo Filippov para transmitir, a 
distancia, a energia das explosoes nucleares , das~bom- 
bas A e H? Isto seria, evidentemente, o apocalipse e a 
destruisao total do mundo. 

E este ponto de vista, quer se trate da invencao de 
Filippov, ou de outras invencoes, comeca a ser larga- 
mente partilhado. A ciencia modern a admite que ela se 
torna, hoje, muito perigosa e nos citamos em nosso pre- 
facio advertencias de sabios eminentes. 

Sao advertencias graves. Os dirigentes do movi- 
mento "Survivre", os padres Grothendieck e Chevalley 
nao ficam, alias, apenas nisso, mas tentam isolar com- 
pletamente a ciencia e impedir qualquer observaqao 
entre sabios e militares. Assim, dever-se-ia, iguaimente, 
impedir a colaboracao de sabios com revolucionarios, 
de qualquer tendencia politic a que possam ser. Imagi- 
nemos contestadores cjue, ao inves de borrarem a porta 
dos edificios, fariam explodir, gracas ao processo de 
Filippov, os Campos Eliseos, ou Matignon! 

A invencao de Filippov, quer seu emprego seja 
militar ou revolucionario, me parece ser daquelas que 
podem aniquilar totalmente uma civilizacao. As desco- 
bertas dessa ordem devem ser isoladas. 

E, entretanto, elas podem, iguaimente, ter aplica- 
coes pacificas. Gorki publicou uma entrevista que teve 
com Filippov, e o que marcou o escritor foi a possibi- 
lidade de transmitir a energia a distancia e industria- 
lizar, dessa forma, mais depressa o pais que precisasse 
disso. Mas nao fala de uma aplicacao militar. 

Glenn Seaborg, presidente da comlssao americana 
de energia atomica. evocou, o ano pass ado, j)ossi bili- 

118 



/ 



dade s_analogas: uma energia que viria do ceu sobre urn 
fei xe~de~oiidas e que permitiria industrializar quase ins - 
fr antaneamente urn pals em vias de desenvolvlmento, isto 
sem criar nenhuma poluicao. Ele nao fala tambem de 
aplicacoes militares, mas sem duvida isto nao 6 de sua 
competencia. 

A extraordinaria personalidade de Filippov comeca 
a interessar cada dia mais o publico sovi6tico e os escri- 
tores. O grande poeta Leonid Martinov consagrou-lhe, 
recentemente, um poema intitulado "A balada de Sao 

Petersburgo". 

Fatos novas aparecem constantemente. Um deles, . 
surgido em 1969, destruiu uma lenda muito bonita. 

Na "Revista da Ciencia" apareciam resumos de~~\ 
livros assinados por V. Oul, e pensou-se que tal assina- 
tura indicaria Vladimir Oulianov, isto e, o proprio Le- 
nine. Seria interessante estabelecer, assim, uma liga^ao / 
direta entre Lenine e Filippov. Infelizmente, a investi- 
gagao moderna mostrou que tais resumos eram de f ato 
de um tal V. D. Oulrich. Isto impede colocar-se Lenine 
entre os colaboradores da revista. J 

Mas Lenine conheceu a fundo a obra de Filippov, 
que certamente o influenciou bastante. A celebre pas- 
sagem de "Materialismo e Empiriocriticismo" sobre o 
carater inesgotavel do eletron, vem diretamente deum 
trabalho de Filippov. 

Filippov era ao mesmo tempo um sabio desejoso 
de publicar e um revolucionario. Como indicamos ante- 
riormente, sua descoberta sobre a transmissao da ener- 
gia da explosao deveria constituir sua 301. a publicagao, 
e ele a teria certamente revelado, sem dar conta que iria 
assim destruir o mundo. 

Porque pensar, e parece que ele o fazia, que os 
povos munidos da arma que ele lhes dava, fossem depor 



119 



\ 






reis e tiranos, e, gragas ao marxismo, estabelecer a paz 
universal, parece-me ingenuidade. Estamos ameagados, 
atualmente, de uraa guerra entre os dois maiores paises 
marxistas, a URSS e a China. 

Se todos os dois dispusessem de uma bomba H 
transportada por foguete, os estragos seriam considera- 
veis. Se reinventassem, os dois, o dispositivo Filippov, 
destruir-se-iam mutuamente. Ora, o passo nao e grande 
entre a bomba a argon e o dispositivo Filippov. 

Por isso deve-se esperar que o conflito URSS- 
China, que alguns consideram como inevitavel, nao se 
efetive. 

Mas o problema da aplicacao das ciencias e das 
tecnicas para a guerra continua. A maior parte dos con- 
gresses cientificos chegam cada vez mais a conclusao de 
que 3 precise esconder certas descobertas e adotar ati- 
tude semelhante a dos antigos alquimistas; senao o 
mundo perecera. 

Nao e a justificagao das ideias dos Homens de Ne- 
gro, mas a indicacao de urn problema que existe. 

Fred Hovle. at acando o problema num outro an- 
gulo. escreveu no livr p "Q s homens e as galaxia s^rRii- 
chet r^astp.lV- " - 

"Estou persuadido ^de que e possivel escrever cinco 
linhas apenas que bastariam para destruir a civilizacao". 

Hoyle e hoje, certamente, o homem melhor infor- 
m ado do plane ta_riQ j[ue. concerne a ciencia moderna, e 
ao que ela pode fazer. 

O caso Filippov parece constituir uma nova fase, 
importante, na historia dos livros malditos. 

Ao inves de voltar a um saber muito antigo, o ma- 
nuscrito Filippov dava a chave de descobertas bem mo- 
dernas baseadas na experiencia e nas teorias serais de 
Marx. Filippov era um espirito enciclopedico, due sabia 

120 






sem duvida tudo o que se poderia saber sobre as ciencias 
no ano de 1903. Por isso foi capaz de efetivar sua des- 
coberta, descoberta que o levou a.morte. 

Podemos perguntar se outras descobertas analogas 
nao foram feitas e, como sempre, destruidas ou dissi- 
muladas. 

O Presidente Ri chard Nixon ordenou , recente- 
mente, a destruicao de todos os estoques de armas bac- 
teriologicas, cuja base sao os microbios e virus. Orde- 
nou, igualmente, que se destruissem os arquivos referen- 
tes a esse campo? Nada menos certo, e talvez surja, um 
dia, um sabio americano que escolhera a liberdade e 
descrevera seus trabalhos, permitindo, assim, fabricar 
o que sir Richie Calder batizou de "o microbio do jul- 
gamento final". 

£ preciso reconhecer que aqueles que destruissem 
esse manuscrito seriam benfeitores da humanidade. ^ 

Tem-se desprezado muito o segredo militar. B, por 
vezes, ridiculo, mas pode impedir a divulgacao de armas 
extremamente perigosas. 

Do mesmo modo. e evidente que os segredos da 
alquimia nao possam ser divulgados. Se 6 possive l fa- 
bric ar uma bomba de hidro g enio num forno iL gas^j) 
que creio possivel, pessoalmente, e pre fer^vel que o pro- 
cesso de fabricagao nao seja dado a publico. 

Pois ainda e muito bom viver num periodo de con- 
testacao, desde que os estragos dessa contesta§ao sejam 
limitados. Se cada grupo, ou cada pequeno pais con- 
testador pudesse, para protestar, destruir Paris ou Nova 
Iorque, a civilizacao nao duraria muito tempo. 

Nao esquecamos que em nossos dias qualquer um 
pode, com investimentos minimos, constituir um labo- 
ratorio que Curie ou Pasteur teriam invejado. P-essoas 

121 






ja fabricam, em suas casas, o LSD ou a fenilciclidina, 
droga ainda mais perigosa. 

Se qualquer urn, hoje, conhecesse o segredo de 
Filippov, poderia certamente encontrar no comercio 
todas as pecas necessarias para construir o aparelho, e, 
sem nenhum risco pessoal, fazer explodir, a muitos qui- 
ldmetros de distancia, pessoas que lhe desagradassem. 

Pessoalmente, tenho tamb6m minha lista de pessoas 
que me desagradam e de edificios que julgo medonhos, 
e gostaria de elimina-los. Mas se todos pudessem chegar 
a esse resultado com plastico roubado a um canteiro de 
obra e um projeto Filippov feito em casa, mal poderia- 
mos sobreviver. 

Existe, diz-se, listas de inven9oes muito perigosas. 
Uma clentre elas. estabelec id a pelos militares franceses T 
tern, nada menos, que 805 nomes. Se alguem redige um 
texto que as exponha todas e o publica, bateriamos o 
recorde de livros malditos. 

Pode-se imaginar, tambem, um manuscrito do tipo 
Fred Hoyle, que nao conteria invenQoes perifiosas^ mas 
ideias perigosas. essas "f rases de cinco linhas" que po - 
dem mudar o mundo. Se alguem redigir esse manus- 
crito, podera dedica-lo a memoria de Mikhail Mikhai- 
lovitch Filippov. 



122 



10 

A DUPLA HfiLICE 



A obra do Padre James D. Watson, A Dupla He- 
lice, encontra-se, atualmente, em todas as livrarias. Foi 
traduzida para o frances nas edicoes Robert Laffont. 
Existem, igualmente, edicoes inglesas encadernadas e 
uma edigao em livro de bolso. 

Por que escolher ess a obra para terminar esse tra- 
balho sobre os livros malditos? Porque ela desapareceu 
de circulacao por duas vezes: primeiro porque ninguem 
queria editar, e depois porque ninguem queria assumir 
os risers. 

E ainda porque a aventura dessa obra nos escla- 
rece sobre a natureza da^ensura, os motivos das inter- 
dig oes e mesmo a natureza da propria ciencia . 

Comecemos pelo personagem. O Padre James D. 
Watson nasceu em Chicago, no ano del 928; em 1950 
doutorou-se em ciencias pela Universidade de Indiana 
e trabalhou, em seguida, em Copenhagen e em Cam- 
bridge, onde fez extraordin arias descobertas no dominio 
da hereditariedade. Em 1962, ele recebeu o Premio 
Nobel, juntamente com Francis Crick e Maurice Wil- 
£ins, pela descoberta da estrutura molecular do acido 
"hereditario" ADN. A molecula deste acido forma uma 
dupla helice (notamos t e.aqui a nota e pessoal e nao deve 

f' 

123 



ser atribuida a Watson, que essa helice se assemelha 
est ranhamente ao caduceu, antigo simbolo da med icina). 
" Tal descoberta e considexada. de maneira g ejS 
com o uma das mais importantes do seculo. Ela condu- 
zm a decifracao do codigo genetico e abriu a porta a 
urn controle pela inteligencia humana da he r editarie - 
dade e das mutapo ^s, 

A proposito desse tipo de investigacao, denomi- 
nada biologia molecular, Fred Hoyle escreveu: "Dentro 
de vinte anos os fisicos, que nao fazem mais que inofen- 
sivas bombas de hidrogenio, vao trabalhar em liberdade. 
Mas os biologistas moleculares trabalharao atras de 
barreiras eletrificadas". 

Uma descricao dessa grande acscoberta, feita por 
um de seus autores, teria tido, segundo qualquer pre- 
visao, um grande sucesso. Mas quando fragmentos do 
livro apareceram na "Atlantic Monthly" a confusao se 
fez. E quando o manuscrito circulou a confusao se trans- 
formou em furor, 

Pois o Padre Watson metia cs pes pelas maos e 
fazia-o prazerosamente, Em seu livro o meio cienti- 
fico, longe de aparecer como uma reuniao de almas 
nobres a procura da verdade, parecia uma guilhotina 
onde cada um colocava seus vizinhos em situates as 
mais detestaveis. Poder-se-ia dizer que a mafia seria 
uma comparacao imaginavel para o meio cientifico. 

Teses desse genero nao eram novas, Georges Duha- 
mel e Jules Romains ja haviam feito descri9oes desse 
tipo. Mas era a primeira vez que um autentico e genial 
sabio, Premio Nobel, acendia o estopim. Ainda por cima, 
o livro nao concluia sobre uma nobre prosopop/ia da 
verdade em marcha, mas sobre a imagem do' Padre 
Watson buscando uma ancora em Saint-Germain-des- 
-Pres. 

124 



Tentaram-se todas as pressoes possiveis sob re os 
editores. Sem sucesso. Entao, os sabios conluiaram-se 
para nao fazer caso. Um cientista eminente declarou 
a grande revista inglesa, "Nature": "Poderao encontrar, 
mais facilmente, urn clerigo prestando contas sobre um 
livro pornografico do que um sabio falando da Dupla 
Helice". 

O livro, entretanto, prosperou. Teve uma edigao 
americana. uma edigao encadernada inglesa de Wein- 
denfeld e Nicholson em 1968, uma edigao Penguin 
Books em 1970, uma traducao francesa, tradugoes no 
mundo inteiro. 

£ preciso ler A Dupla Helice. 

Assim, nao farei longas citagoes sobre esse livro. 

Notemos simplesmente, que o Padre James D. 
Watson ressaltou muito justamente: 

"Contrariamente a ideia popular que sustentam os 
io rnais~e~3s ma.es dos sabios, um nurriero cons i derayel 
de^sabios nao somente sao estreitos de espirito e nao sap 
nada tolos, mas completamente idiotas". Isto me lembra 
a nota de um eminente amigo que tendo participado 
de uma reuniao da fundagao Nobel, onde 18 Premios 
Nobel estavam presentes, me disse quando voltou: "A 
porcentagem de cretinos entre os Premios Nobel e a 
mesma de todos os lugares". 

Em A Dupla Helice nao se ve apenas cretinos. 
Ve-se ai, tambem, pessoas sem escrupulos que lutam pelo 
po der, que atiram cascas de ba nana aos pes daqueles 
que tern ideias novas, e que daom ais imnortancia aos 
od ios p-essoais que aos mteresses da ciencia. A unica 



c oisa que conta para eles, sao os creditos e recompensas. 

Quanto ao jovem Padre Watson — tinha vinte e 
cinco anos qu^ido de sua descoberta — nao esconde 

125 



V 



■ 



que o esseticial de sua atividade e consagrado a freqiien- 
cia de arrebatadoras jovens vindas a Inglaterra. 

Conheco muitos cientistas que torceriam o pescogo 
de Watson se pudessem, mas infeiizmente ja e tarde. As 
tentativas de impedir o livro nao deram certo e Watson 
p6de exprimir o que pensava, francamente. No pref acio, 
sir Lawrence Bragg, eminente especialista em raios X 
e filho do sabio que descobriu a difragao dos raios X, 
tenta salvar a situacao: "Os que figuram neste livro, diz 
ele, devem le-lo com um espirito cheio de perdao. A 
situacao era em geral mais complexa e os motivos das 
pessoas com quern ele fizera negocios menos tortuosos 
do que Watson o compreende". 

£ possivel. Nada modifica o fato de este livro ser 
de uma franqueza desarmante. De seu colega Francis 
Crick, Watson escreveu: "Nunca o vi num momento de 
modestia". E mais alem, sempre de Crick: "Ele fala de-' 
pressa e com voz forte nao se importando com ninguem, 
e basta ouvi-lo falar para nota-lo em toda Cambridge". 

Um certo numero de retratos desse genero fazem, 
evidentemente, o deleite de todos, mas, para empregar 
uma palavra de linguagem publicitaria, e sobretudo a 
imagem de marca da ciencia e dos sabios que recebeu 
um golpe do qual dificilmente se recuperara, se e que o 
conseguira. 

Numa outra epoca, ou em outras circunstancias 
polfticas, sob outros regimes, o livro nao teria podido 
aparecer, e Watson seria recolhido a um campo de con- 
centracao como foi feito na URSS com o geneticista 
Vavilov. 

Watson destruiu de passagem um certo numero de 
cliches. Por exemplo, o mito do traba l no em equipe : 
dois a tres sabios com pouco material e poucos diplomas 
(Francis Crick nao era sequer doutor quando descobriu, 

126 



com _Watson, a e ^truj ura do ADNliize ram uma daa 
m aiores descobertas de todos os tempos ^ 

O mito das matematicas aphcadas tambem cai: 
Crick e Watson utilizaram caleulos que nao passaram 
de re gra de tres, muito bom senso, e modelos mecanicos 
que pediram a urn mecanico para fazer. Bern entendido, 
nao se serviram de' nenhum ordenador. „ 

O Padre Watson ensina, agora, biologia molecular 
e bioquimica na Uniyersidade de Harvard (EUA), onde 
continua, provavelmente, a fazer das suas. Descobriu 
a ferramenta mais poderosa que a humanidade dispoe 
ho je . Pois espera-se poder modificar a estrutura do ADN 
e introduzTTo, assim modificado, no o r ganismohumano , 
para produzir seja seres humanos melhores, seja o es- 
calao superior, o homem depois do homem. o mutante 
sobre-humano. 

O que e simpatico em Watson 6 que nao manifesta 
nenhuma falsa modestia. Escreve com toda simplici- 
dade: "Descobrimos o segredo da vida". E ele tern razao» 
e o grande segredo que permitira a especie humana 
controlar sua propria hereditariedade. J 

Certos sabios pensam que nao somente o livro de 
vulgarizacao de Watson, mas tambem o seu trabalho 
propriamente dito, deveriam,ser destruidos. Um famoso 
biologista, sir McFarlane^Burnet, escreveu: "Ha coisas 
que nao deveriam ser conhecidas, pois sao muito peri- 
gosas para o ser". Outros geneticistas, ao contrario, 
acham que deve abrir-se o campo. O Premio Nobel 
Marshall W- Nirenberg escreveu: "Penso que daqui a 
vinte anos programar-se-ao celulas humanas com mate- 
rial sintetico, e celulas bactericidas daqui somente cinco 
anos." 

Escreveu isto em 1969 e tudo deriva de trabalhos 
feitos por dois jovens com pouquissimos nieios! Mas 

127 



tinham coragem e ideias. E _por isso a Dupla Helice 
trou xe urn golne duro a ciencia respej t avel e ao grande 
n-egocio cientifico que se chama me gac iencia. 

Esse livro mostra que o que conta nao sao os cre- 
ditos — Watson ganhava cem dolares apenas — mas a 
inteligencia . E nao se pode deixar de perguntar por que 
as enormes organizacdes megacientificas, que gastam 
milhoes de dolares, nao conseguem nenhum resultado, 
enquanto que alguns jovens, num laboratorio veneraveT 
que traz o nome ilustre e misterioso de Cavendish, trans - 
formam o mu ndo. 

■- ■■ 

Crick ironiza a proposito desses encontros onde se 
reunem 2000 bioquimicos que falam, falam sem parar, 
enquanto todo mundo vai saindo. E entre os raros aca- 
demicos que nao sao soniferos, assinala o frances Jac- 
ques Monod que, depois, obteve o Premio Nobel e es-' 
creveu uma obra notavel: "O acaso e a necessidade" que 
ja tive ocasiao de citar. 

Notemos que Watson descobriu also novo, os sexos 
de bacterias, do qual se ignorava a existencia/Todos seus 
livros, todas suas publicagoes estao cheia 
novas. 



E e ai que se poe o verdadeiro problema que ultra- 
passa a propria Dupla Helice: o problema do abafamento 
e da censura das descobertas, o problema dos Homens 
de Negro. Bertrand Russel escreveu muito bem: "Os ho- 
mens temem o pensamento original mais do que qual- 
quer coisa sobre a Terra, mais do que a ruina, mais que 
a propria rnorte". Ora, esse pensamento original se ma- 
nifesta na Dupla Helice, com mais energia que em qual- 
quer outro livro recente, e foi isto, parece-me, mais que 
a descricao de odios e de lutas do mundo cientifico que 
inquietou, e inquieta ainda. 

128 



. As conseqiiencias da descobeita de Watson e de 
seus colegas foram estudadas por grupos de esp ecialistas 
e uma tabua f oi feita. q ue aparece no livro de G. Rattray 
Taylor, "A revolucao biologica" (edigao francesa Ro- 
bert Laffont). Uma tabua analoga a estabelecida pelos 
peritos da Rank Corporation. 

Primeira fase daqui ao ano 1975: 

— Transplante sistematico de membros e orgaos. 

— Fertilizacao de ovulos humanos em tubos de 
ensaio. 

— Implantacao de ovulos fertilizados em uma 
mulher. 

— Conservacao indefinida de ovulos e esperma- 
tozoides. 

— Determinacao, a vontade, do sexo. 

— Retardamento indefinido da morte clinica. 

— Modificacao do espirito por drogas e regula- 
mentacao dos desejos. 

— Possibilidade de apagar-se a memoria. 

— Placenta artificial. 

— Virus sinteticos. 



Segunda fase daqui ao ano 2000: 

— Modificacao do espirito e reconstrucao da per- 
sonalidade. 

— Ordenamento da memoria e reescrita da me- 
moria. 

— Criangas "produzidas" artificialmente. 

— Organismos completamente reconstruidos. 

— Hibernacao. 

— Prolongamento da juventude. 

— Animais reproduzidos por enxerto. 

129 



— Organismos monocelulares fabricados por sin- 
tese. 

— Regeneracao de orgaos. 

— Hibridez homem-animal do tipo quimera. 

Terceira fase depots do ano 2000: 

— Supressao da velhice. 

— Sintese de organismos vivos completos. 

— Cerebros destacados do corpo. 

— ■ Associagao entre o cerebro e o ordenador. 

— Levantamentos e insercao de gens. 

— Seres humanos reproduzidos por enxerto. 

— Ligacoes entre cerebros. 

— Hibridez homem-maquina. 

— Imortalidade. 

A primeira coisa que vem ao espirito ao ler tais 
previsoes e: eles nao ousarao. Mas, justamente a leitura 
da Dupla Helice mostra que homens como Watson 
sao capazes de tudo. O espirito prometeuano e faustiano 
que se encontra em certos personagens de que f alei neste 
livro, e que foi abafado com maior ou menor sucesso, 
agora e posto a luz. E, sob o signo da dupla helice, 
parte para a conquista do mundo. 

J. B. S. Haldanc escreveu: "O que nao foi sera 
ni nguem estara a salvo" . 

Os historiadores futuros julgarao, talvez, que mais 
que qualquer livro maldito dos ^ue citamos aqui, a 
Dupla Helice teria que ser censurada, teria que desapa- 
recer, para evitar que o homem consiga poderes muito 
grandes para si. Talvez julgarao, ao contrario, que os 
Homens de Negro nao tiveram a ultima palavra, que 
se pode retardar o progresso mas nao impedi-lo, e que 

130 



o homem acabara por obter poderes superiores a con- 
ditio humana, quaisquer que sejam as forcas que se 
oponham. 

A Dupla Helice e um livro isento de considera- 
coes "f ilosoficas ou mor a is. Q autor e mais intel igente 
que os sabios vetustos queTridicu lari za, mas nlolrlbstra 
nenhum senso de responsabilidade a_j:espeitp da huma? 
nidade^Enquanto a maior parte dos outros sabios estao, 
no fundo, de acordo para nao se divulgar suas desco- 
bertas senao discretamente e num circulo restrito, Wat- 
son pensa apenas em torna-las publicas. Dai, a indigna- 
Qao que -caiu sobre ele. Nao esconde que procura, na 
ordem, o dinheiro, a gloria, o poder. Mas, nessa procura, 
ele abre a todos os homens portas estonteantes. 

Resta, evidentemente, saber se a humanidade po- 
deria sobreviver as descobertas relacionadas e que de- 
correm todas, mais ou menos, da Dupla Helice. 

Pessoalmente, penso que ela podera sobreviver a 
nao importa o que, e que foi um erro fazer desaparecer 
os livros malditos ja citados. Mas e uma opiniao pessoal, 
por isso, discutfvel. Sera interessante ver a evolucao psi- 
cologica de Watson, e se o senso de sua responsabilidade 
com relacao aos homens lhe chegaria com a idade. Hoje, 
e um jovem lobo de denies longos, inspirado pelo espi- 
rito dos alquimistas e do Dr. Faustus. 

O futuro igualmente nos dira se Watson e seus 
colegas serao os ultimos biologistas moleculares a tra- 
balhar livremente, se seus sucessores nao serao for§ados 
ao maior segredo, e se as limitac5es severas nao serao 
impostas a publica?ao de seus trabalhos. 

O que quer que seja, o fim de nosso seculo nao sera 
desprovido de interesse. 



131 



EPfLOGO 



A paranoia ou mania de perseguigao e uma doenca 
mental que ameaca a nos todos. Por isso, nao seria 
muito prudente imaginar vastas conspiracies que se es- 
tenderiam em toda a superficie do globo, ao longo de 
nossa Historia. 

Entretanto, parece-me que se outras civilizacoes 
existiram antes da nossa e que foram destruidas por 
abusos dos poderes da ciencia e da tecnica, a lembranca 
delas e de sua morte podem inspirar uma conspiracao 
que visaria evitar que tais catastrofes tornassem a re- ( 
produzir-se. 

Uma ideologia dessa natureza pode, talvez, ser en- 
contrada sem dificuldade nos escritos de Joseph de 
Maistre, de Saint- Yves d'Alveydre ou de Rene Guenon. 
Tal ideologia consiste em .admitir a existencia de uma 
Tradigao mais antiga que a Historia, de centros de ten- 
tores dessa rxadicao e poderosamente protegidos; para 
ela, a ciencia, as tecnicas e os conhecimentos de toda 
natureza constituem um perigo pe^manente. 

£ uma ideologia reacionaria. Mas na exemplos su- 
ficientes, na Historia, de homens ou organizagoes no 
poder que sustentaram essas teorias, hiper-tradicionais, 
para imaginar que uma organizacao secreta as coloca 
em acao. 

133 



Manif estates aparentes dessa organizacao pode- 
riam ser encontradas na Inquisicao, no nazismo ou no 
lyssenquismo. Sobre este ultimo ponto, e preciso ler o 
livro de Medvedev, Grandeza e queda de Lissenko 
(Gallimard-Franca). Livro maldito em seu proprio pais, 
.pois nao somente esta proibido de publicacao como seu 
autor foi detido em 29 de maio de 1970 e internado em 
urn hospital psiquiatrico apesar de estar completamente 
sao de espirito. Foi libertado aos 1 8 de junho do mesmo 
ano, gracas a acao conjugada de todos os sabios sovie- 
ticos. Isto se passa em nosso tempo, em 1970, e nao no 
passado mais ou menos longinquo onde se situam a 
maior parte dos acontecimentos narrados neste livro. 
Como se ve. os Homens de Negro nao sao desprovidos 
de meios de acao. 

O crime de Jaures Medvedev, eminente biologista 
sovietico, foi, segundo eles, denunciar o lyssenquismo. 
De que se trataria? T. D. Lyssenko, charlatao autodi- 
data e fanatico, apoiado por homens politicos, notada- 
mente por Stalin, forjara com todas as pegas uma falsa 
biologia e destruira a ciencia genetica na URSS. Impe- 
diu, notadamente, a descoberta na URSS da dupla helice 
do ADN, da qual os russos estavam proximos. Os geneti- 
cistas sovieticos foram exterminados em campos de con- 
centracao. E uma sorte que algumas pessoas gostariam 
de reservar ao Padre Watson e a seus colegas. 

So recentemente foi que a genetica sovietica come- 
^ou a renascei e que as vitimas de Lyssenko foram rea- 
bilitaaas. Quanto a Lyssenko, esta em hberdade e nao 
tern aborrecimentos. No iempo de sua gloria, o Coral 
do Estado sovietico cantou esse hino em sua honra; 

"Cante alegremente, meu acordeao, 
Que eu canto com meu amigo, 

134 



A gloria eterna do academico Lyssenko 
Mitchkourine abriu o caminho 

Que ele seguiu com passos resolutos. 
Graces a ele, nao seremos mais 
Credulos mendelianos-morganistas. " 

Durante esse tempo, massacraram-se os geneticistas 

nos campos de Stalin. 

Nao saberia afirmar com certeza se Lyssenko faria 
parte de uma organizacao dos Homens de Negro. Em 
todo caso 6 um bom especime. E estou convencido de 

que tal organizacao existe. 

Atualmente, estou em vias de investigar uma ma- 
nifestacao relativamente recente do poder dessa orga- 
nizacao, e se os resultados que obtive ate agora nao sao 
completos e definitivos — se-lo-ao algum dia? — pelo 
menos sao interessantes. 

Do fim de 1943 ate o armisticio de 8 de maio de 
1 945, houve na Italia uma republica dirigida por Musso- 
lini. A historia secreta dess a republica e bem menos_ 
conheoida do que a dcT III Reich. Mussolini, como 
Hi tler, tiirha a sua disposicao conselheiros ocultos ? ma~ 
^icos Tie gros. vSohreviveram e as leis sobre difamaca o 
Impedem , q ue se^usjiome s sejam citados. 

Por ordem de dois deles, u ma unidade especial 
f ascista~em 1 .944. queimou 8(h0fi0 livfos e manuscritos 
pertenc entes a Sociedade Real do Saber de Napoles. A 

operacao tinha como fim impedir que documentos ma - 
gicos importantes caissem em maos aliad_as . 

Certos documentos eram antigos; outros, moder- 
nos, traziam pesquisas magicas feitas ao tempo de Mus- 
solini, e o que pude apreender sobre tais investigates, 
e suficientemente apaixonante para fazer-me lamentar 
a destruicao da biblioteca e empenhar-me em encontrar 

135 



copias. Uma dessas investigates e muito original e e 
este seu merito, o que nesse campo e raro. Um magico 
concentrou, com a ajuda d eu m telescopio sdbre a agua, 
a luz de uma estrela e obteve, assim, a agua-Sirius, agua'r 
-Vega, agua-Antares, agua-Aldebaran, etc, Cristalizou . 
em seguida, nessa agua, substantias particularmente sen - 
&yejs aos efeitos me teorologico s e cosmicos, como po r 
exemplo o nitrato de uranio. E ha outra s. ~~" 

Certos organismos cientificos serios estudam fen6- 
menos desse genero. Mas o magico obteve resultados 
que nao eram totalmente cientificos. Sais crista lizados 



jagoipimien- 



fos je esses agrupamentos, segundo os desenhos que vi. 
pareciam, singularmente, simbolos esotericos das estrelas 
em quest ao. 

Nao me perguntem a explica9ao desse fenomeno, 
nao a sei. 

Parece que a biblioteca de Napoles estava cheia 
de descobertas fantasticas desse JipO, antigas e moder- 
nas, havendo, ainda, manuscritos ineditos de Leonardo 
Da Vinci e documentos apreendidos a Aleister Crowley 
quando a policia fascista destruiu sua abadia maldita em 
Cefalu, na Sicilia. 

Nesse dia de marco de 1 944, os Homens de Negro 
eram aliados dos camisas-negras. Tehebrosa alianga. 

Evidentemente, todos os livros malditos nao sao 
magicos ou cientificos. Ha tambem livros politicos, como 
o mostra esta divertida citacao do "Pato Acorrentado", 
de quarta-feira, 7 de abril de 1971: 

"Refugiado em Yammossokro, Cote-dlvoire, o 
antigo chefe de armas biafrense, Alexander Madiebo, 
vendeu, ha algumas semanas, suas memorias. Memorias 
onde revela -mftitas coisas: a lista das armas fornecidas 

136 



pela Franca, os pontos de passagem, os nomes dos agen- 
tes de Foccart em contato com os biafrenses, etc. 

"Isso se soube em Paris e nao deu prazer a todo 
mundo, sobretudo num momento em que se discute com 
a Nigeria certos contratos petroliferos que devem bene- 
ficiar a SAFRAP-ERAP, e acima de tudo para jazidas 
situadas em territorio ex-biafrense. 

\ 

"J^ao houve nenhum prazer, mas a pena e livre, 
nao? Entao. . . Entao nao se pode impedir de notar 
uma estranha coincidencia: uma equipe de cavalheiros 
tomou o aviao para a Cote-d'Ivoire e foi f azer uma inves- 
tigacao completa na vila de Madiebo. Sua missao foi, e 
preciso dize-lo, coroada de exito, e o manuscrito maldito 
desapareceu. O golpe falhou: o General Madiebo possuia 
dele uma copia que pusera a salvo nurn cof re-forte em 
Londres. 

"£ bem torpe, a desconf ianca . . ." . 

Apesar de eu ter relagoes com o "Pato Acorren 
tado" esse artigo nao emeu. 

Mas gostei muito da expressao "manuscrito mal- 
dito" e estou persuadido que a destruicao persiste em 
nossos dias, e especialmente no campo deste livro, muito 
mais do que se pensa. 



137 



1NDICE 



Pr6Iogo — Os Homens de Negro 7 

1 - O Livro de Toth 13 

Complemento — Como Nefer-Ka-Ptah encontrou o Livro 

de Totli 25 

2 — O que foi destruido em Alexandria 27 

Complemento — E as Piramides? . , 36 

3 — As Estancias de Dzyan . 39 

4-0 Segredo do Abade Thth&ne 1 53 

5 — O que John Dee viu no Espelho Negro 65 

6 — O Manuscrito Voynich ■.'. ; 77 

7 — O Manuscrito Mathers 89 

8 — O livro que leva k loucura: Excalibur ....... .i 101 

9 - O Caso do Professor Filippov 113 

10 - A Dupla Helice 123 

Epilogo 133 

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